Notícias da Covilhã – Como foi parar ao Malut, do campeonato Indonésio?
Adriano Castanheira – A ida para o Malut United fez-se através de um grande amigo meu. O clube mostrou bastante interesse na minha contratação, a proposta chegou e eu vi com bons olhos uma mudança de campeonato, depois de já ter tido ‘feedbacks’ positivos de jogadores portugueses que tinham participado no campeonato e vivido na Indonésia.
Como tem sido a adaptação, num clube sem portugueses?
Costumo dizer que sou uma pessoa que se adapta com alguma facilidade e esta vinda para a Indonésia não foi diferente. Tenho a sorte de estar num clube onde maior parte dos jogadores estrangeiros falam espanhol e português, o que torna tudo um pouco mais fácil, porque conseguimo-nos comunicar facilmente. Em relação aos jogadores locais, só mesmo com a língua inglesa e um pouco de Bahasa (língua Indonésia), que se vai aprendendo no dia a dia.
Os tempos livres são passados como?
Quando jogamos fora e estamos em cidades grandes, como Jacarta, eu e a minha mulher aproveitamos para conhecer a cidade, ir até a um shopping, ir ao cinema, etc… Quando os jogos são em casa, e como vivemos numa ilha, as coisas são um pouco diferentes, porque não há tanta coisa para se fazer. Mesmo assim aproveitamos para dar uma volta pela ilha, ver filmes ou séries, estudar, ler, jogar PlayStation, entre outras coisas.
O que lhe provocou mais estranheza na Indonésia, no futebol e fora dele?
O que mais me marcou pela positiva foram as pessoas. São um povo muito querido, muito simpáticos e sempre pronto a ajudar. Uma das coisas que mais estranhei foi o calor, isto porque faz calor o ano todo, mesmo quando tem os períodos de chuva, podemos andar de calção, t-shirt e chinelos, porque é muito abafado, ao contrário do nosso querido inverno na Covilhã. Por ser um país muito quente, no que diz respeito ao futebol, normalmente os treinos são sempre de manhã muito cedo, por volta das 6:30 / 7:00.
Qual a relação que os indonésios têm com o futebol?
São um povo muito fanático e apaixonado pelo futebol. Normalmente, independentemente de jogarmos em casa ou fora, a maior parte dos jogos costuma ter bastantes adeptos e dá para sentir que é um desporto pelo qual demonstram imensa paixão.
O que mudou na sua vida com a ida para a Indonésia?
O facto de estar longe de Portugal, tanto para mim como para a minha mulher custa-nos sempre bastante, porque, quer queiramos, quer não, acabamos por estar do outro lado do mundo, longe da família e dos amigos. Mas acaba por ser um crescimento e experiência enriquecedora, tanto a nível pessoal como a nível futebolístico. No final, acabamos por abraçar uma nova cultura, nova gastronomia, novas pessoas e são coisas que acabamos por levar para a nossa vida. Infelizmente, o futebol não dura para sempre, e mais cedo ou mais tarde acabamos sempre por voltar onde fomos e somos felizes.
Na primeira aventura no estrangeiro, no ano passado, no Ararat, ganhou a Taça da Arménia. O que retirou dessa experiência?
Acabou por ser o meu 1.º título enquanto jogador profissional. Apesar de ter subido de divisão no Chaves, e ter sido campeão nacional nas camadas jovens pelo Futebol Clube do Porto, ganhar uma taça a nível profissional e num país estrangeiro é sempre especial. Foi uma conquista bonita num grupo fantástico.
Os conhecimentos do curso de Sociologia na UBI já lhe foram úteis em alguma ocasião?
Posso dizer que sim, mas mais no sentido de conversar com determinadas pessoas sobre determinados assuntos ao longo da jornada, quer em Portugal, Arménia ou Indonésia.
Jogou dois anos na I Liga de Portugal. Foi uma história de sucesso ou sente que poderia ter ido mais longe?
Acredito que possa estar ligado um pouco aos dois momentos. Num primeiro, por todo o trajeto percorrido, ter estado na 3.ª liga, passado pela 2ª liga e chegar à principal liga do futebol português é algo de que tenho imenso orgulho e é algo que levarei comigo para o resto da vida, ainda mais quando se vem do interior do país, onde a visibilidade não é tão grande. Em relação ao sentir que podia ter ido mais longe, vou ser sincero e dizer que sim. Talvez na altura, se tivesse acreditado um pouco mais em mim e no meu potencial, e tivesse tido um pouco mais de sorte, talvez pudesse ter ido mais longe. Mas não me arrependo de nada e tenho imenso orgulho no meu trajeto enquanto jogador profissional. Espero que a minha história possa servir para futuros jogadores jovens da região trabalharem e acreditarem que é possível chegar ao topo.
A ida para campeonatos periféricos é um passo atrás?
Na minha opinião, não. O facto de poder conhecer outros países, outros campeonatos, outras culturas, faz-nos crescer enquanto jogadores e enquanto pessoas, porque acabamos por sair da nossa zona de conforto. Por exemplo, na Indonésia o campeonato é bastante competitivo e tem imensos jogadores estrangeiros com qualidade a jogar na Ásia.
Fez formação e afirmou-se no Sporting da Covilhã. Continua a acompanhar o clube?
Sempre. Apesar da diferença horária entre Portugal e Indonésia, sempre que posso vejo os jogos e acompanho os resultados. Estou longe, mas fico sempre a torcer pelo sucesso do clube e que rapidamente possa voltar onde merece estar. Espero um dia poder voltar onde fui feliz e ajudar o clube a atingir grandes feitos. Tenho um carinho muito especial pelo clube que me viu crescer.
O futuro passa por onde? Ou por onde gostaria que passasse?
Em relação ao futuro, nunca se sabe o dia de amanhã, mas gosto muito de estar por aqui. Então, se for possível continuar a jogar mais uns anos por estes lados, ficarei. No entanto, o objetivo passa sempre por acabar a carreira em Portugal.
O que é que ainda vive em si da Erada?
Apesar de ter nascido na Suíça, a Erada será sempre o local onde passei maior parte da minha infância. É la que tenho a minha família, as minhas origens, amigos de longa data, e o facto de estar longe custa sempre um pouco para todos. As saudades são sempre muitas.