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Estação Verão

Desde 2014 que abandonar um animal é crime passível de punição com pena de prisão

Tenho um gato. Tenho, será uma força de expressão. Ele mora lá em casa, come, bem, dorme, muito… e brinca. Quando lhe apetece. Lá tem a sua vida. Independente, fiel aos seus princípios, tipo “gato que não olha a dono”, logo não se pode dizer que exerço poder sobre o bichano. É assim a vida de um gato. É preto. O gato. Gosto de gatos pretos. Quando foi lá para casa chamava-se Fagundes. Assim, simplesmente. Nome de baptismo, de família. Constava do registo. Continuou a chamar-se Fagundes, mas senti que lhe faltava nome próprio. Mas não um qualquer, um nome mais global, que lhe desse poder, mais altivez. No fundo ele é um rei. Essa é que é essa. Um rei-gato. Passou a chamar-se Viktor. Dono e senhor da selva. Viktor Fagundes. Tenho uma irmã. Que também é dona do Viktor. Bom, dona será uma força de expressão. Trata bem, muito bem dele. No come-e-dorme, na higiene e limpeza, e em todos os cuidados necessários à boa vida do preto gato Viktor. Festinhas, carinhos… claro, não lhe faltam, e outras necessidades básicas. Tão bem tratado, que até se nota no brilho do pelo. Neste caso pode dizer-se que o que reluz é ouro. Preto. Acontece que chegou o verão, e com ele as notícias que dão conta que a cada novo verão que passa, mais animais de casa, gatos e cães são deixados nas ruas, abandonados pelos seus donos. Bom, donos será uma força de expressão, na verdade o que se pode chamar a alguém que deixa para trás um indefeso animal, porque estão aí as férias, e “agora a quem vou deixar o bicho?” pergunta o até então tutor, no momento imediatamente antes de virar as costas ao seu companheiro numa esquina de rua. E não se trata apenas de algo mau, muito mau de se fazer, não.

Desde 2014 que abandonar um animal é crime passível de punição com pena de prisão. Lá está, se a ocasião a que chamamos verão, permite um passeio por outras paragens, logo uma ausência mais prolongada, há que contar com o bem-estar do Viktor, a quem não pode, obviamente, faltar nada. A começar pelo seu espaço, pelos seus hábitos, e aquela vidinha boa a que está habituado o senhor Fagundes. Dilema. Nos dias de hoje em que as dúvidas se instalam, a confiança desaparece, a prudência aconselha muita atenção, na hora de providenciar um tutor temporário para o gato preto lá de casa. E assim foi, assim é, até porque também ele precisa de umas férias dos seus donos… bom, donos será… e sabem… até à vista Viktor!

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