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“Estado Novo”

José António Pinho

Ex-preso político

Candidato pelo MDP/CDE às eleições de 1973.

Membro da Comissão para as Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril na Covilhã

 

Regime autoritário, policial, repressivo = Fascismo.

Autoritário. Porque o seu poder é exercido de cima para baixo e se confunde com o líder. Neste caso, Salazar, que decide e ordena. A existência de um só partido, a União Nacional, de onde saem, por nomeação, os deputados, presidentes de câmara e de freguesia.

Policial. Existência de uma polícia política, a PIDE, que minuciosamente dirige e controla toda a atividade dos cidadãos, tendo como suporte informativo uma rede de informadores pagos e dos chamados “bufos”, que delatavam todas as conversas contrárias ao regime.

Repressivo. Por intermédio das forças de segurança: PSP, GNR e brigadas da PIDE, que comandavam todas as forças policiais. Em 1936, foi criada a Mocidade Portuguesa, de inspiração nazi, de Adolfo Hitler. A sua continência era a mão direita estendida, à boa maneira fascista, com a finalidade de formatar as crianças a partir dos sete anos à obediência a Deus, Pátria e Família. A pretensão do regime era que fosse obrigatório a filiação de todos os jovens estudantes de ambos os sexos, sendo obrigatório o uso de farda onde a fivela do cinto tinha um grande S, lema de servir Salazar. O seu uniforme, a exemplo de outras juventudes europeias fascistas, eram camisas verdes e saias ou calças castanhas. Era usual nos desfiles de cerimónias oficiais entoarem: quem manda? quem manda? Salazar! Salazar! Salazar!

A Milícia Portuguesa era obrigatória para todos os estudantes após os 18 anos. A Legião Portuguesa, igualmente criada em 1936, era uma organização paramilitar, tendo como principal finalidade derrotar o comunismo. Na guerra civil de Espanha, muitos dos seus membros, como voluntários, combateram ao lado das falanges espanholas de Franco para combaterem as forças republicanas fiéis ao Governo legítimo de Espanha.

Considero o Estado Novo um regime fascista. Nasci em 1939. Cresci e vivi num país onde o medo imperava e onde Fátima, o Futebol e o Fado eram, para a maioria do povo, o único consolo e alegria. A canção que se cantava “numa casa portuguesa, fica bem, pão e vinho na mesa” definia bem a ideologia fascista de trabalhar de sol a sol, onde os salários de miséria bastavam só para comer.

Era um poder exercido com a bênção da Igreja Católica, religião predominante em Portugal. O seu líder, Cardeal Cerejeira, escreveu: Deus enviou Salazar para salvar Portugal do comunismo.

O regime oprimia e recusou-se, até 1974, conceder a independência aos povos africanos, enviando para uma guerra injusta centenas de milhares de jovens portugueses, onde dezenas de milhares morreram e centenas de milhares regressaram estropiados.

Na maioria das cidades, só se estudava até ao quinto ano. Havia apenas três universidades, no litoral: Lisboa, Coimbra e Porto. Uma única autoestrada de 20 quilómetros, de Lisboa a Vila Franca de Xira. Não existia liberdade de falar e escrever algo que não fosse para elogiar. A PIDE prendia, torturava e assassinava. Existia um país amordaçado.

Até que, em 25 de Abril de 1974, os capitães, com as suas chaimites, invadiram Lisboa, ocuparam o Terreiro do Paço, o povo saiu à rua e as mulheres deram aos soldados cravos vermelhos, que os colocaram nas espingardas.

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