Procurar
Close this search box.

Estórias de um Arquivo Judicial

José Avelino

Juiz

O guarda livros da Fábrica Velha – 1869

A manhã seguia muito acalorada, muito terna. O António Gomes Cardona Barata apressa o passo, acompanha os manos Costa, ambos chamisseiros, que nesse dia iam tentar a sorte na serra do Monte Serrano. Cochichavam muito, não disfarçavam o nervosismo.

A Fabrica Velha, na sua importância, mostra-se na ribeira da Carpinteira. Francisco Joaquim da Silva Campos Melo após a morte do pai do António Barata, um muito honrado empregado, dera toda a sua protecção ao filho e à família. Para que pudesse ser gente. O moço, de ar enfartado, na qualidade de mestre dos tintureiros e muito querido dos patrões, estava encarregado de processar a folha semanal dos tintureiros e chamisseiros da fábrica.

Ao chegar à fábrica, o Jerónimo Catrina, que arrumava umas papeletas na estante, com ar muito sonso, disse:

– O sr. Campos Melo quer falar contigo com urgência.

Então o Baratinha teve um sorriso amarelado, muito comprometido.  Ainda ficou esperando algum outro detalhe, uma apreciação. Mas o Catrina, com o lápis pendurado na orelha, retomara o trabalho, analisava os papéis. E, naquele abafamento, no cheiro vago a desfalque, escapa-se para a vila.

O Barata, muito atarantado, vê-se já na rua da Praça. Dentro da loja do relojoeiro António Lagoa, viu o Gregório Nunes Geraldes, sócio da fábrica. A transpirar culpa, esconde-se na casa de Fotografia do Teixeira. Já se via acorrentado e levado para o Limoeiro.

Os patrões prometem não fazer queixa. Mas, o mestre contabilista, que metera nas folhas mais despesas do que aquelas que se fariam com os vendedores de lenha, teria de abalar para o Algarve.

Pagava-se a viagem! O mestre tintureiro não aceita. Apresenta-se à Justiça, confessa a marosca! O juiz Nunes Ribeiro, em vista de tal declaração solene e por forma que este parecia não se achar louco, ordenou a sua prisão. O Barata, que não aceitara a proposta dos patrões, é condenado na pena de oito anos de degredo para África!

VER MAIS

EDIÇÕES IMPRESSAS

PONTOS
DE DISTRIBUIÇÃO

Copyright © 2023 Notícias da Covilhã