Anos setenta. A banda Os Incríveis tocou e cantou; “Eu te amo, meu Brasil, eu te amo, Meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil. Eu te amo, meu Brasil, eu te amo, Ninguém seguraa juventude do Brasil”. Uma canção que exultava o amor, as mulheres nativas como as mais belas do planeta, o país como pátria abençoada, e na verdade, o orgulho de ser brasileiro, a adoração pela terra amada. Se há algo que nós portugueses sempre sentimos, é o amor que os brasileiros nutrem pelas suas raízes, e isso é bem patente como o dizem, como o escrevem, como o cantam. Sem dúvidas, somos obrigados a concordar. Para logo de seguida, “puxarmos o saco” para dizermos; está bem, mas tudo isso com a nossa língua. Será mesmo assim?!
Entrei numa cafetaria do bairro para tomar uma bica. E perguntei; posso pagar o café com uma nota de dez euros?! – Com certeza! – a resposta com sotaque. Servido e tomado, o café ficou por oitenta cêntimos. Paguei e agradeci. – “De nada”! Concluiu a jovem da cafetaria. Do lado de cá um português nascido em Portugal, do outro uma brasileira natural do Brasil. Entendimento perfeito. Ambos utilizando a língua portuguesa. Ou será que aquela jovem que me serviu o café falou em brasileiro?! Cada vez mais na perspectiva do estado do maior país da América latina, está chegando a hora de “matar o português”. Não literalmente, espero.
No dia, cada vez mais próximo, em que o Brasil decidir implantar a Língua Brasileira, é a machadada final numa das línguas mais faladas no mundo. Lá se vão mais de duzentos milhões de falantes de português do Brasil, como habitualmente classificamos a variante da língua portuguesa, herança de um país colonizador, e usado nas comunicações entre o Estado e em quase toda a população brasileira. Há regiões do Brasil, onde mal se fala português. Os dialectos locais sempre determinaram o “é assim que a gente se entende”. Ora, experimentados linguistas, alguns naturais de Portugal, defendem a ideia de que mais década menos década, o Brasil deixará de falar português. Outros porém, mais puristas, defendem que ainda existe uma proximidade de normas e usos das duas variantes o que impediria de facto, e não de fato, a criação da língua brasileira. Seja como for, por divisão ou multiplicação, a mudança e a transformação parecem inevitáveis. Nós por cá, há muito que adoptamos expressões do lado de lá. E a tendência aumenta. Por estes dias, uma jovem nos correios me perguntou se eu queria enviar a carta com “registro”. E assim foi, a carta, e assim será no futuro.