Estava em pé num dos passeios da Alameda, observando as movimentações dos milhares de pessoas que se organizavam antes da descida pela Almirante Reis, rumo ao Martim Moniz. Havia gente de todo o lado, de muitas cores, origens e credos. Nisto, vindo de um dos flancos, recebo; – “Estás bem, oh formoso?!”- Naturalmente, pensei; alguém que me conhece, e tal como eu se associou à “manif” contra os abusos de poder e discriminação. Nada disso. Estava a virar-me esboçando uma resposta, quando quase sou atingido por um microfone de uma repórter que queria saber mais. A avaliar pela brusquidão do gesto, e pela linguagem utilizada, estarão por certo a “ver”, do ponto de vista visual claro, de que canal noticioso se tratava. Lá está! Perguntei; “que deseja?”. – “Gostaria de saber porque está aqui, e o que pensa da abordagem policial na rua do Benformoso?”, atirou a jovem das perguntas.
Engendro uma resposta longa. – “Imagine que o senhor Montenegro precisava de cortar o cabelo. Terá confidenciado essa sua necessidade numa reunião da Aliança Democrática. Ao que o senhor Núncio, sempre muito acutilante terá dito; -“andava mesmo para te dizer que precisas de cortar a gadelha… mas olha conheço um barbeiro excelente. Bom… fica lá em baixo ao pé do Intendente, perto do Martim Moniz… senão te importares… chama-se Malik, é um bom moço e corta muito bem! Vais ver que vais gostar”. E assim foi. Pegou na morada, e lá foi o senhor primeiro-ministro dar um bom desbaste ao pelo. Foi fácil de encontrar. Toda a gente por ali conhece o corte de Malik. Ficou lindo. Montenegro parecia outro. Pagou, agradeceu. Quando saiu, mal pôs o pé direito na calçada, e sem perceber o que estava a acontecer, foi literalmente atirado contra a parede. Era um agente policial que lhe disse; “esteja quieto, estique os braços e vire-se de costas”. – ” mas o que é isto olha, olha… oh senhor polícia, está enganado, eu sou o Luís, o primeiro…” – o primeiro não é, que já fizemos isto a uns quantos, e não se ponha aí a fingir que sabe falar português… o que é que leva aí?! -” Porra, olhe para mim… não está a ver quem sou?! E só tenho a carteira, o telemóvel e uma embalagem de pó…”- ” … de pó?!” Indigna-se o operacional da PSP – ” mostre lá isso! “- Não é nada disso que está a pensar…é pó de pimenta Jamaica, que a minha mulher me pediu para os guizados! Nesse momento o agente percebeu a bronca em que se meteu, recolheu o bastão… e desfez-se em desculpas e mil perdões. – “Eu percebo bem o vosso trabalho, estamos todos a trabalhar para tornar ainda mais seguro este país que já é tão seguro… mas francamente, logo hoje que vim ao Malik. Não podiam ter avisado”? Quando terminei de contar o sonho que tive, já a repórter tinha bazado há muito, e as palavras de ordem eram entoadas, avenida abaixo. E claro, tudo não passou de uma invenção, mas… já imaginaram o Ventura aconselhado por uma amiga, na mesma rua, no mesmo dia, a comprar caril para “cozinhar” um vídeo no tik-tok?!