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Executivo considera “preocupante e triste”situação da Rádio Caria

Câmara diz-se desiludida com novo rumo da rádio. E que expectativas criadas não foram cumpridas. Por isso, já suspendeu protocolo para publicidade. Os dois funcionários da estação já rescindiram contratos. Responsável da emissora refuta críticas

“É triste assistir a isto”. Foi assim que, na passada quinta-feira, 15, o vice-presidente da Câmara de Belmonte, Paulo Borralhinho, se referiu ao primeiro mês da Rádio Caria sob uma nova direção, a cargo da Mundial FM, que, afirma o autarca, não cumpriu com a expectativas que criou. Uma situação para a qual o autarca chamou a atenção ao não ver, na reunião pública do executivo, qualquer jornalista daquele órgão de comunicação social.

“É algo que me preocupa. Os dois colaboradores chegaram a falar com o presidente de Câmara, e o que temos vindo a ver é que deixaram de existir notícias sobre o concelho e região. Não podemos fazer muito, pois a rádio pertence a uma associação com órgãos próprios, que foram eleitos. Mas vamos tentar chegar à voz deles e saber qual o futuro. O que temos assistido não tem nada a ver com o que foi anunciado” frisa o autarca, que revela também preocupação com os dois funcionários que “dedicaram uma vida à rádio”.

Recorde-se que desde o passado dia 11 de abril que a estação passou a ser gerida pelos proprietários da Mundial FM, uma rede de rádios que gere sete rádios na região centro e que, quando “pegou” na Rádio Caria, prometia “devolver” a estação à região, ir saldando as dívidas e garantir os dois funcionários que tinha. Nuno Soares afirmava ao NC que o objetivo era “expandir a rede” e que estava empenhado na “transformação, para melhor”. “Com a qualidade técnica que temos, e os recursos humanos existentes, queremos ter uma rádio que seja apetecível do ponto de vista comercial. Os problemas não se resolvem em dois dias, mas vamos trabalhar para dar músculo financeiro à rádio” assegurava Nuno Soares, que prometia, para o futuro, nova programação, novos conteúdos e uma imagem totalmente renovada.

No entanto, segundo o executivo belmontense, nada disto está a acontecer. Os dois funcionários rescindiram, a 7 de maio, os contratos de trabalho por justa causa (alegando três meses de salários em atraso), e a informação regional passou, segundo Paulo Borralhinho, a ser escassa. Aliás, o autarca, quando questionado se a emissora cumpre os mínimos de três noticiários regionais definidos pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), diz que “acho que neste momento não acontece”.

“Todos sabemos a importância que a Rádio Caria tem para o concelho e para a região. Não queremos que deixe de ter o valor que tem. Há cerca de 30 dias que (novos administradores) estão à frente. Os funcionários saíram, por incumprimento. São questões laborais nas quais a Câmara não se pode meter. Falámos com as partes e não podemos fazer mais que isso. Vamos aguardar, a ver se cumprem com aquilo que foi falado inicialmente” frisa.

O autarca adianta ainda que o protocolo estabelecido com a Associação Cultural e Recreativa de Caria para compra de publicidade à rádio está suspenso. “Aprovámos na semana passada os subsídios para as coletividades e o dessa associação, em específico, ficou de fora. Por indicação minha, porque a situação não estava bem esclarecida. Foi decidido não atribuir nenhuma verba até as coisas estarem esclarecidas. Está suspenso” garante.

Carlos Afonso, vereador da CDU, também considera o atual momento da emissora “preocupante”, mas lembra que anterior direção “foi avisada de que poderia acontecer algo deste género”. “Vejo aqui uma morte anunciada do nome Rádio Caria” vaticina. José Mariano, vereador do PSD, lembra que a rádio é “parte integrante do concelho” e que a autarquia “deve estar atenta, para que não se perca”.

“Queremos devolver a rádio, mas não como ela era”

Contactado pelo NC, o CEO da Mundial FM, Nuno Soares, refuta acusações. Lembra que encontrou a emissora numa situação delicada e que “é preciso tempo” para colocar as coisas nos eixos. “Só peço que se dê tempo ao tempo. Estamos num processo de reconversão e não se faz isso de um dia para o outro. Queremos devolver a rádio, mas não como ela era” afirma.

Nuno Soares assegura que agora, os noticiários, até são mais. “Só havia quatro, diariamente. Agora, são mais. E podem perguntar à ERC se cumpre ou não os três noticiários regionais obrigatórios” desafia. “Deixou foi de ter apenas notícias regionais. A rádio não deve ser apenas para Caria e Belmonte” afirma.

A saída dos dois funcionários é confirmada. “Despediram-se, devido a alguns valores em atraso” afirma, garantindo que, contudo, “a rádio tem jornalistas”. Nuno Soares avança ainda que pretende apostar na remodelação do website, “que há que tempos não é atualizado” e diz estar ainda a negociar alegadas dívidas.

Recorde-se que, para que a rádio tivesse nova administração, os sócios da Associação acederam à alteração de estatutos de modo a que as pessoas ligadas à Mundial FM se pudessem candidatar aos órgãos sociais da mesma. Uma situação, na altura, confirmada por Nuno Soares.  “Tornámo-nos sócios, candidatámos às eleições e fomos eleitos” explicava ao NC.

“Esta era a única forma de dar sustentabilidade, a longo prazo, à rádio, porque as receitas não são compatíveis com as despesas que tem” frisava também ao NC ex-presidente da Associação Cultural e Recreativa de Caria, Luís António Almeida. “Penso que manterá a sua matriz, mas com uma gestão profissional, que não tinha. Era esta a solução que tínhamos em mente, que estava a ser trabalhada. E penso que não havia mais nenhuma” frisava.

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