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Exercitar para combater a demência leve

Programa Train4Brain decorre desde abril deste ano na UBI e pretende combater demência leve, em pessoas com mais idade, sem recurso a químicos

Contribuir para a prevenção do declínio cognitivo e funcional através de programas de treino multicomponente de idosos com demência leve, é um dos objetivos do programa Train4Brain (treinar para o cérebro) coordenado pelo departamento de Ciências do Desporto da Universidade da Beira Interior (UBI).

O programa de intervenção comunitária envolve cerca de 100 idosos diagnosticados com demência leve que todas as semanas, de segunda a sexta, frequentam o laboratório de Ciências do Desporto, onde acontecem as sessões de exercício.

Pretende-se, através de exercícios físicos aliados à análise cognitiva e de marcadores bioquímicos (análises sanguíneas), encontrar o “volume de treino ótimo para a melhoria da capacidade funcional e cognitiva”. Já que, segundo Nuno Fonseca, aluno de doutoramento em Ciências do Desporto e coordenador de intervenção prática do programa Train4Brain, “estudos recentes observaram que a combinação de exercícios de força, resistência cardiorrespiratória e equilibro, parecem ter indícios de melhoria na função cognitiva e capacidade funcional”.

“Se tem esse impacto [exercício], então vamos quantificar efetivamente que tipo de trabalho podemos fazer e que tipo de exercícios podem ser feitos, quantidades, que intensidades podem estas pessoas fazer para que haja essa redução do declínio cognitivo”, sublinha Nuno Fonseca.

Para isso, o programa conta com uma equipa multidisciplinar que abrange o departamento de Ciências do Desporto, Psicologia e Medicina da UBI.

É realizado um primeiro teste que “avalia força de membros superiores, inferiores, capacidade cardiorrespiratória e equilíbrio”, refere Nuno Fonseca. Após este primeiro teste é implementado um treino de força e condicionamento físico “mais adequado”.

“Também entra a psicologia com os seus profissionais, na avaliação da função cognitiva com a aplicação de testes e questionários, que avalia vários parâmetros de como é que eles estão em termos de escala demencial e outros como humor, memória mais antiga, memória mais recente”, explica. Esses parâmetros são estratificados para que se possa “perceber, depois de expostos ao programa, como é que eles podem melhorar ou abrandar a curva de degradação cognitiva”, conclui.

Trabalho em lares que pode vir a ser alargado

Além disso, também é realizada uma recolha sanguínea a cada pessoa que integra o programa de forma a analisar os biomarcadores “no que diz respeito aos Fatores Neurotróficos do Cérebro e como é que esses níveis estão e podem melhorar”, diz Nuno Fonseca.

“Para percebermos efetivamente qual a dose ideal de treino a aplicar, nada mais nada menos que termos à nossa volta uma equipa multidisciplinar que nos ajude a nós, departamento de desporto, a perceber os efeitos da magnitude da carga que estamos a expor a estas pessoas, quer da parte cognitiva, quer na capacidade funcional das mesmas”, afirma o doutorando.

Os utentes são essencialmente residentes de Estruturas Residenciais para Idosos (lares). “Começamos pelas pessoas que estavam institucionalizadas e depois pelas que estavam de apoio em Centro de Dia” e, neste momento, há a possibilidade de vir a ser alargado à comunidade em geral que tenha demência leve, segundo Nuno Fonseca, “Com toda a imagem que foi criada do projeto, as pessoas já nos estão a contactar diretamente para a possibilidade de virem a frequentar o programa”, afirma.

Os resultados, esses, são animadores. “Quem já está integrado, sente melhorias nas tarefas do dia-a-dia. As pessoas reduzem bastante a síndrome de fragilidade, conseguem desenvolver as tarefas do dia-a-dia com maior independência”, revela.

Contribuir para a inovação do Interior

O Train4Brain foi um dos vários projetos apresentados no Encontro UBI Ciência e Inovação 2023, integrado no âmbito da Semana da Ciência e Tecnologia que decorreu de 20 a 24 de novembro na UBI.

A vice-reitora para a Investigação, Inovação e Desenvolvimento da UBI, Sílvia Socorro, sublinha que a ciência é “a base do desenvolvimento das sociedades, a todos os níveis”.  Foram várias as palestras, sessões e workshops que aconteceram durante a semana. Uma dessas sessões foi a “Sessão PROMOVE: a ciência da UBI ao serviço do Interior”, onde foram apresentados projetos, em curso, na UBI e que são financiados pela Fundação “La Caixa”.

Um deles é o projeto RuralThings, apresentado por Bruno Silva, membro do projeto e docente do departamento de Informática da UBI. O mesmo consiste na “monitorização de locais remotos e rurais com enfoque no bem-estar das pessoas que vivem nesses locais, registando e monitorizando a temperatura, humidade, níveis de monóxido e dióxido de carbono e com particular atenção ao gás radão”, explica Bruno Silva.

Neste momento, o projeto encontra-se numa fase inicial em que “estamos a avançar com a especificação do mesmo, com análise de requisitos, que tecnologias e sensores vamos utilizar”, avança o docente. Esta fase vai durar até 2026 e após isso, será feito um projeto-piloto no Fundão e Pinhel, com previsão de extensão a outros municípios do Interior.

Da montanha à agricultura

Pedro Dinis Gaspar, investigador no C-MAST (Centro de Ciências e Tecnologias Mecânicas e Aeroespaciais) e docente do departamento de eletromecânica, apresentou os projetos Bio D’Agro, Montanha Viva e S4Agro.

O primeiro, Bio D’Agro, consiste num conjunto de ferramentas que permite o apoio à decisão “atempada e inteligente” e auxílio aos agricultores, com base em informação sobre dados climáticos, dados de fauna e flora existentes no local. “Está praticamente a finalizar. Em termos finais, estamos a disseminar os resultados do projeto junto aos agricultores, das associações e das camaras e há perspetivas muito boas de que haja implementação no local”, frisa Pedro Dinis Gaspar.

Já o Montanha Viva procura “discutir as relações entre o turismo, a tecnologia e a sustentabilidade em regiões de montanha e como estas podem ser conciliadas a favor do turismo”, de acordo com o sítio online do projeto. Atualmente encontra-se em fase piloto na Serra da Gardunha.

Para o investigador, estas iniciativas “têm uma importância enorme”. “É uma semana dedicada à ciência e à inovação e em particular aquele trabalho que nos aqui apresentámos são trabalhos dirigidos e com grande enfoque nas regiões do interior, envolvendo inovação, envolvendo novas tecnologias”, acrescentando que, “apesar de serem dirigidos a estas populações têm aplicabilidade global”.

Bruno Silva considera que a oportunidade de fazer estes projetos é “efetivamente começarmos a contribuir para a inovação do Interior e para a melhoria da qualidade de vida das pessoas”. “Acho que é essa condição que nós, enquanto investigadores e enquanto Universidade [Beira Interior], devemos ter”, conclui.

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