O presidente da direção do Sindicato de Hotelaria e Restauração do Centro (SHRC), Afonso Figueiredo, desmente a ideia de que não haja gente para trabalhar no setor, mas admite que, com as condições que hoje este oferece, são muitos os que preferem enveredar por outros caminhos.
Segundo o responsável, hoje, há muita mão-de-obra estrangeira no setor, pessoas que chegam de outros países “fragilizadas” e que, por isso, numa fase inicial, acatam “as imposições que lhes são colocadas”. Porém, com o passar do tempo, vão percebendo que o modo de vida que têm “é insustentável”, com ritmos de trabalho inaceitáveis e, por isso, recorrem ao sindicato. “Já começam a exigir os seus direitos, o que comprova o que temos vindo a dizer ao longo do tempo: não há falta de trabalhadores, há é falta de pessoas para trabalhar nas condições que o setor oferece”, salienta o responsável, que esteve esta terça-feira, 19, na Covilhã, numa ação de contacto não só com os trabalhadores de restaurantes, pastelarias ou hotéis, mas também com os clientes e turistas que nesta altura visitam a cidade.
“Vimos, por um lado, alertar os trabalhadores para os direitos que têm, no âmbito da contratação coletiva, que constatamos que nalguns sítios não são respeitados na íntegra pelos patrões. Mas, por outro, sensibilizar a população para os problemas que os trabalhadores do sector vivem, com baixos salários e desvalorização da sua vida pessoal e familiar” explica o responsável. Afonso Figueiredo recorda que os dados públicos de 2025 demonstram que o setor vive “a melhor situação de sempre”, mas apenas na procura e ocupação, e nos proveitos e lucros que as empresas geram. “Batem-se recordes, mas são antagónicos com a situação que os trabalhadores vivem” denunciam.
O presidente do Sindicato garante que as propostas colocadas pelos patrões e associações patronais do setor, “da nossa parte, não terão aceitação”, pois contemplam, por exemplo, a criação de bancos de horas, horários concentrados e redução de pagamento de alguns complementos extraordinários relativos ao trabalho em dias de feriado e fim-de-semana. “E isso tem impossibilitado a concretização de acordos” garante.
Segundo Afonso Figueiredo, os baixos salários, e o não cumprimento de direitos, afetam a generalidade dos trabalhadores da hotelaria, restaurantes e hotéis na Beira Interior. “Tendo em conta o número de unidades que existem na região, percebemos que afeta muitos milhares de trabalhadores. Para dar um exemplo, num hotel de cinco estrelas, em 2026, se não houver negociação dos salários por parte das entidades patronais, um trabalhador com 30 anos no sector passará a auferir o salário mínimo nacional. O que quer dizer que os outros abaixo de cinco estrelas, estarão numa situação ainda mais difícil, mais precária” denuncia.
O responsável critica as associações patronais por não valorizarem quem trabalha neste ramo. “Dizem que não há pessoas para trabalhar no sector, mas a realidade é que não há para trabalhar nestas condições. Percebemos que esta propaganda visa facilitar a vinda de mão-de-obra estrangeira, que é bem-vinda, mas não aceitamos que esse desejo seja na perspetiva de os poderem utilizar desrespeitando os direitos. Há atropelos à lei com os trabalhadores portugueses, e com estrangeiros, a situação é ainda mais aflitiva” assegura.