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Faltam médicos nas aldeias

Em breve, cerca de 20 por cento da população nacional (dois milhões de pessoas) pode estar privada de médico de família. No concelho da Covilhã, autarcas das freguesias queixam-se da falta de funcionamento das extensões de saúde

A falta de médicos é um problema nacional, e concelhio, que afeta sobretudo “as freguesias mais longínquas”. É esta, pelo menos, a opinião do presidente da União de Freguesias de Peso e Vales do Rio, Rui Amaro, que no passado dia 25 de novembro, num debate temático “Saúde no município: desafios e estratégias- o presente e o futuro” promovido pela bancada do PSD na Assembleia Municipal da Covilhã, disse que a falta de médicos nas aldeias “é uma realidade do dia-a-dia”.

O autarca denunciou que as 15 extensões de saúde do concelho funcionam “a 5 por cento”, algumas com médico apenas numa manhã da semana, outras uma vez por mês, e algumas, nem isso. “A Câmara paga as rendas e não funcionam. Com uma população cada vez mais envelhecida, não se pode continuar a ter médico uma vez por semana, durante duas horas” frisa. “Não se pode continuar com a cabeça enterrada na areia” aponta.

A ausência de profissionais de saúde nas freguesias foi mesmo o ponto mais focado do debate. Marco Gabriel, presidente da Junta de Freguesia da Boidobra, também admite que na sua terra a extensão de saúde “funciona de forma deficiente” e diz que no concelho faltam cerca de 50 médicos para as unidades de saúde familiar e personalizada.

David Silva, presidente da Junta de Freguesia do Tortosendo, também se mostrou preocupado com a situação. “Faltam médicos de família. Qual é a estratégia para trazer médicos para a região” perguntou, mostrando a disponibilidade da autarquia em ser “parte integrante da solução” e anunciando que irá reunir com a administração da Unidade Local de Saúde (ULS) da Cova da Beira para debater o tema.

Na semana passada, a Federação Nacional dos Médicos avisou que, em breve, o número de utentes sem médico de família, em Portugal, pode atingir os 20 por cento da população (cerca de dois milhões de pessoas), uma vez que no último concurso um terço das vagas ficaram por preencher e o número de aposentações vai aumentar em 2025. Neste momento, estima-se que 1,7 milhões de portugueses não tenham médico de família.

Durante o debate, o PSD, por Vanda Ferreira, lembrou que faltam profissionais de saúde num concelho com população envelhecida, que tem cada vez mais dificuldade em ter acesso a cuidados de saúde. E apontou o dedo ao executivo socialista que governa a Câmara. “Tem adotado permanentemente uma postura de negação, preferindo esconder-se atrás dos discursos otimistas, em vez de enfrentar as evidências. O problema não desaparece por não ser reconhecido, pelo contrário, agrava-se” frisa.

Vasco Lino, da bancada “Covilhã tem força”, apontou algumas soluções que podem ser implementadas no concelho, em parceria com privados, e com recurso a Unidades Móveis de Saúde, que já existem no seio de algumas instituições.

Vítor Reis Silva, do PCP, disse que no domínio da saúde a autarquia faz pouco e se limita a ir comprando umas viaturas. “É muito pouco, insuficiente e medíocre” aponta, lembrando também a falta de médicos em locais como Aldeia de Souto ou Casegas.

Nuno Reis, do CDS/PP, diz que a Covilhã, como cidade em que existe uma Faculdade de Medicina, tem que fazer mais neste domínio e acusou o executivo de pouco investimento na reestruturação de instalações, quer nos cuidados primários, quer no próprio Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira (CHUCB).

Já Hélio Fazendeiro, do PS, garante que a Câmara tem feito o seu trabalho, apesar de admitir que, por vezes, não é suficiente. “O município tem feito muito e as pessoas que trabalham nesses serviços e os utentes que recebem esses cuidados sabem-no e atestam-no”, conclui.

Vítor Pereira, presidente da Câmara, recordou que a contratação de médicos não é responsabilidade da autarquia, que muito antes de assumir competências neste domínio já cooperava “de forma intensa, profícua e muito empenhada para ajudar a melhorar as condições dos nossos concidadãos no que diz respeito ao acesso à saúde”. O autarca diz que muitas das sugestões da oposição já estão em execução, menos o acréscimo remuneratório de médicos, que já teve experiências noutros municípios, mas não resultou. “Não é pelo facto de os senhores doutores médicos receberem mais 500, 600, 700 ou 800 e até 1000 euros nalguns casos, que eles vieram para esses municípios”, disse.

O autarca garantiu ainda que a Câmara tem “tudo pronto” para avançar com obras de cerca de 1.5 milhões de euros em várias infraestruturas ligadas à saúde, em todo o concelho. Vítor Pereira detalhou que se irá investir no Centro de Saúde da Covilhã (422 mil euros), na Unidade de Saúde de Vila do Carvalho (71 mil euros), Centro Saúde do Teixoso (115 mil euros), Unidade de Saúde São Jorge da Beira (31 mil euros), Coutada (22 mil euros), ET da Covilhã (148 mil euros) e na Unidade de Saúde do Tortosendo (655 mil euros). “Hoje, dia 25, estamos em condições de assinar o contrato de financiamento para estas obras”, assegurou. “Fizemos os projetos, foram validados e estão pontos a avançar”, vincou.

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