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Família: o melhor e pior do ser humano

Maria da Luz Coelho

A vida, tal como a levamos, tem posto à prova o ser humano nas mais diversas perspetivas e de várias formas. Em todas elas, dá-se a conhecer a complexidade, a inteligência e a adaptabilidade de cada um individualmente, na família e na sociedade.

Testa-se a capacidade de se reinventarem modos de estar, de trabalhar, de estudar. Reorganizam-se horários, profissões, instituições, casas. Fecham-se credos. Abre-se um renovado olhar para a vida e assiste-se ao surgimento de um novo homem. Pelo menos, esperava-se por isso. Da análise do outro e da reflexão sobre si próprio, era espectável que renascesse um ser mais compassivo, mais humilde, mais altruísta. Cremos no Homem como ser inteligente. Dele esperamos o melhor em todos os seus papéis.

Da nova organização social surge o foco na família. Nunca como agora se viveu tanto com a família e para a família. Talvez também possamos dizer que nunca, como no presente, se viu o ser humano tão exposto às suas fragilidades, aos seus medos, às falhas que marcam o trajeto e que devem ser pretexto de melhoria. Hoje, somos mais pais, mais filhos, mais casal. Temos mais tempo para revelar como nos comportamos nestas dimensões.

E é precisamente no seio da família que vemos o melhor e o pior do ser humano. É na família, primeira escola dos filhos, que imaginamos a felicidade, a entrega, o amor mais genuíno. A nossa casa é o primeiro espaço de crescimento físico, emocional, intelectual, ético, cultural. É na família que são vivenciadas as mais importantes provas afetivas; experiencia-se o sofrimento e a alegria, a perda e a conquista.

Na família, a criança deposita confiança, cria a imagem do herói – todas as salvações estão ali, encarnadas naqueles que estão obrigados à sua proteção. Quando isto não acontece, falha tudo, porque falha a crença no Homem.

Hoje, recebemos notícias a mais sobre violência no interior das famílias. Aqueles que devem proteger são, afinal, os causadores de tanta dor. Obrigados a viver muitas horas dentro de casa, o que deveria mostrar-se como momentos harmoniosos, não são mais do que grandes calvários a que os mais frágeis e desprotegidos estão votados.

Se o que vemos à nossa volta é a fera humana capaz de agredir um dos seus e de matar um filho, então os pilares que sustentam os valores da Humanidade caem por terra. Abala-se toda a esperança na construção do tal homem bom por quem ansiamos e cuja chegada julgávamos para breve. A história da humanidade já nos mostrou quão humanos são alguns animais que salvaram crianças da morte. Afinal, no peito tinham o que imputamos ao homem.

A violência é sempre uma derrota, porque se perde a dignidade de um ser humano: perde a dignidade o agressor que se refugiou num ato inqualificável, vil, que põe em causa toda a fé na bondade.

Quando a violência, o terror e a morte estão dentro de casa, no doce lar que merecemos, somos assolados pela total incompreensão do que rege a humanidade. Percebemos, tristemente, que o homem é capaz do melhor e do pior.

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