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Fartos de escolher entre “pagar a renda ou comer”

O aumento de rendas, as condições deficitárias das casas e os altos juros a pagar por empréstimos foram algumas das razões que levaram mais de 30 pessoas a manifestarem-se por uma “Casa para todos” no Pelourinho

Gonçalo Tavares

Mais de 30 pessoas marcaram presença, no passado sábado, 28, na manifestação pela habitação intitulada “Casa para Todos”, organizada pelo movimento Porta a Porta no Pelourinho, na Covilhã, e que se repetiu, nesse mesmo dia, em mais de uma vintena de cidades portuguesas.

Com frases de ordem como “queremos casa, queremos pão, o direito à habitação”, “exijo casa para morar” ou “fartos de escolher, entre pagar a renda ou comer”, os manifestantes denunciaram muitos dos problemas que hoje se vivem para quem quer ter casa e não tem possibilidades.

“Sou estudante e já estou há cinco anos a viver cá. Quando entrei para a universidade, as rendas rondavam entre 130 até 180. Se calhar, 200 euros se fosse um apartamento muito bom. Mas agora é muito difícil encontrar abaixo dos 180 euros, mesmo em zonas como o Sineiro ou na Saudade, que são um bocadinho mais destacadas da cidade”, conta Hannah Dias, aluna da UBI. Segundo a estudante, as rendas também estão a ficar cada vez mais caras para os colegas de casa que aparecem cada vez mais tarde, mesmo alguns tendo um quarto mais pequeno do que aquele de que Hannah dispõe.

Manuel Eduardo, residente na Covilhã, reforça essa ideia. “Eu felizmente ainda moro com os meus pais, sou caloiro, e conheço imensos colegas meus que diariamente se queixam do elevado preço das casas” afirma. E acrescenta que residências universitárias públicas apresentam fracas condições de habitação, com quartos partilhados, de dimensões reduzidas e com falta de mais espaços comuns para utilização dos alunos, como as cozinhas.

As dificuldades não são só vividas pelos estudantes que vêm para a Covilhã, segundo Jorge Fael, do PCP. “Eu sou inquilino de um banco. E a dificuldade, no meu caso particular, com a subida das taxas de juro, foi a prestação da casa ter subido. Sou um dos milhares de portugueses que se viu confrontado com a subida da prestação em quase 100 euros, de um momento para o outro” frisa este responsável. Fael acrescenta que esta foi “a grande dificuldade” a somar “a todas as outras”, que fizeram subir o custo de vida. “Os bancos continuam a amealhar lucros milionários por dia e ao fim do ano. Continuo a pagar mais de juros ao banco do que a amortizar capital” lamenta o ex-candidato da CDU às legislativas pelo distrito de Castelo Branco.

“Optámos pela compra de casa porque o valor das rendas ou estão ao mesmo nível ou mais altas do que pedir empréstimo à habitação. Era quase ao mesmo nível” acrescenta Jorge Fael, que diz que esta opção fez com que uma parte significativa do rendimento fosse para as despesas com habitação, limitando outras opções na vida. “Uma parte significativa do ordenado, cerca de 35 por cento, vai para isso. É preciso depois somar o IMI, a água, a luz, o telefone, todas despesas relacionadas com habitação são muito elevadas para os salários que nós temos” remata.

Francisco Oliveira, da organização Covilhã a Marchar, fala que “a situação está cada vez mais crítica”, com os preços da habitação a subirem cada vez mais, o que foi agravado com o aumento do número de estudantes na UBI. “As imobiliárias têm preços cada vez mais altos. Por exemplo, um T0 no Canhoso a custar 700 euros o mês. Uma pessoa começa a perder a esperança em conseguir viver dentro da cidade, a não ser a partilhar casa com outras pessoas” lamenta Francisco.

Alojamento estudantil agrava situação

“Na Covilhã existe o problema relacionado com o alojamento estudantil. Há muito alojamento informal, o que muitas vezes não responsabiliza os próprios senhorios e não salvaguarda as condições de dignidade para os próprios estudantes”, alega a porta-voz do Movimento Porta a Porta, Marisa Marques. A mesma faz críticas à banca e fundos imobiliários, por obterem “lucros históricos” à “custa do sofrimento da maioria” da população e critica também o atual governo por “apoiar investimento privado”. “Aumentaram o preço ou colocaram o dinheiro diretamente nas mãos dos privados sem isso corresponder ao maior número de casas e quartos” lamenta Marisa Marques.

Uma visão compartilhada por Francisco Oliveira, que afirma que Portugal tem habitação mais que suficiente para todos, mas “muita dela ou está para alojamento local ou especulação imobiliária.” Para este responsável, só é possível uma solução de habitação pública para todos com uma “intervenção estatal, com imposição de um teto máximo de renda, proteção dos inquilinos e aumento da habitação social”.

Em comunicado, o movimento Porta a Porta exige o baixar e regular as rendas para valores compatíveis com o rendimento do trabalho, o aumento da duração dos contratos de arrendamento para um período mínimo de 10 anos, o fim aos despejos, às desocupações e às demolições a quem não tenha alternativa à habitação digna. Além disso, o movimento defende o baixar das prestações bancárias, a revisão de todas as licenças de especulação turística, a criação de habitação cooperativa e outras que não sejam entregues ao mercado, o aumento do parque de habitação pública em quantidade e qualidade e a promoção da reabilitação dos bairros sociais, bem como a colocação a uso, com preços sociais, dos imóveis devolutos do Estado, dos grandes proprietários, dos fundos e empresas, entre outras medidas.

“O que interessa neste preciso momento é alcançar estas medidas o mais rapidamente possível. Não precisa de ser todas de uma vez, mas o que interessa é começar a aplicar medidas que permitam ter alterações para os jovens no seu dia a dia”, reforça Manuel Eduardo.

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