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Fazer contas à vida para tratar da saúde

Com o anúncio de duas novas unidades, a Covilhã poderá ter, a breve trecho, dois hospitais particulares e diversas clínicas privadas. População diz ser positivo o aumento da oferta, mas apenas pondera recorrer ao privado face aos elevados tempos de espera no público. Porque, diz, o dinheiro não chega

“Para as pessoas que vivem o dia a dia, esses hospitais só no imaginário. Quem é que tem 200 euros para ir à urgência?” Quem questiona é José Santos, 67 anos, covilhanense, confrontado com o anúncio feito recentemente do surgimento de dois novos hospitais privados na Covilhã, a CUF (em 2027) e o Privado das Beiras (2025), que se juntam ao Hospital da Luz (clínica) – inaugurado em 2022. José é um dos muitos covilhanenses que faz contas à vida para poder, um dia, recorrer a uma dessas estruturas que, contudo, acredita que fazem falta.

“O investimento privado ao nível da saúde é importante para toda a gente, porque o aumento da oferta é positivo para as pessoas que adoecem. O negativo é que nem toda a gente tem acesso a esses hospitais, devido aos custos”, aponta José.  “Não é o mesmo que um hospital público, porque os custos são mais elevados e nem toda a gente tem capacidade financeira para andar em hospitais desses. Normalmente, quem tem pouco dinheiro, não pode adoecer, porque não tem dinheiro para se curar”, reflete.

“Para alguma coisa urgente, tem que ser no privado”

Já Maria Helena Carvalho, 67 anos, não tem dúvidas: “Às vezes, é preferível fazer o esforço e ir ao privado”. “Quando há algo muito urgente, eu vou e pago ao particular. Tinha uma consulta dos olhos no hospital público, porque tinha cataratas. Nunca mais me chamavam, passou um ano ou dois, fui obrigada a ir ao privado. Lá, já me operaram”, explica.  “Os preços são elevados, mas para a gente conseguir fazer alguma coisa urgente, tem de ser no privado”, diz. Apesar de tudo, Maria Helena ressalva que vai sempre ao hospital público primeiro e só consoante a resposta, é que opta pelo privado. “Não podemos ir todos os dias ao privado, é uma vez por acaso, quando é necessário e mesmo muito urgente. Vou sempre primeiro ao hospital [público] e consoante a resposta e o tempo de espera, é que decido se vou ao privado”, conta.

“Não sou contra os privados, fazem parte da nossa saúde, mas continuo a dizer que o investimento devia ser feito no Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, vinca João Poeta, 58 anos.  “Eu não sou contra a existência de hospitais privados na Covilhã, antes pelo contrário. Quanto mais oferta houver, melhor. Só que eu continuo a insistir nisto: o SNS é preponderante e o investimento devia ser feito de maneira a resolver o problema da maioria das pessoas deste país. E a maioria não tem condições económicas para se deslocar a hospitais privados”, continua.

João considera que a atual conjuntura do país não ajuda as escolhas da população: “As pessoas, neste momento, das duas, uma: ou escolhem para comer, ou escolhem para a saúde. Nós sabemos que os ordenados são o que são, muito baixos, as reformas pior ainda, e as pessoas têm de optar. Seria excelente todos termos seguros de saúde, mas dificilmente as pessoas podem optar por isso”, afirma.

“Grande maioria das pessoas não consegue ir ao privado”

José Santos salienta as dificuldades que um serviço de saúde privado traz ao quotidiano da população na região, onde os salários são baixos. “Se as pessoas quase que sobrevivem com os ordenados que têm, mais a despesa dos seguros e outras coisas do género, qualquer dia não têm dinheiro para comer”, afiança. “Quanto mais as pessoas pagam, menos dinheiro têm para outras coisas. Para quem vive dos salários de hoje em dia, tem de se orientar muito bem, para que o dinheiro dê até ao final do mês. O acesso a esses hospitais, só no imaginário. Tem de ficar doente. Doente estava, doente fica”, vinca José.

Com 22 anos, Carolina Ramos acredita que “o crescimento dos hospitais privados é inevitável”, mas considera que seria mais importante apoiar o SNS. “Acredito que esse investimento seria mais bem feito nos hospitais públicos, porque a grande maioria das pessoas não tem possibilidades de ir ao privado”. Mas a verdade “é que, às vezes, todos temos de fazer o esforço para pagar uma consulta no privado, porque os tempos de espera praticados no sistema público são insuportáveis em algumas situações. Há coisas que não podem esperar”, defende a jovem.

Renato Mota, 20, conta a sua experiência. “Fui operado no hospital público e já achei caro o que tive de pagar, porque não sou isento. Nem quero imaginar se tivesse sido no privado”, confessa. “O aparecimento dos privados aumenta a oferta, mas nem toda a gente pode usufruir deles. Os preços são exagerados para quem vive dos salários atuais. Para nós, jovens em início de vida, parece impossível conseguir pagar uma consulta dessas, a menos que tenhamos a ajuda dos nossos pais, que já têm de se esforçar para nos ajudar em outros setores, também”, lamenta o jovem.

“É tudo um negócio”

Conceição Silva tem 71 anos e já se viu obrigada a recorrer ao sector privado. “Infelizmente, por falta de resposta no hospital [público], tive de recorrer ao particular. Disseram-me que não havia médicos da especialidade disponíveis e ia ter um tempo de espera muito elevado até conseguir uma consulta. Vi-me obrigada a ir a uma clínica particular, tive de fazer o esforço para pagar e me tratar”, diz. “Isto é uma tristeza. As pessoas não podem ser obrigadas a pagar valores que não conseguem aguentar”, defende a senhora.

Conceição conta que não tem seguro de saúde, mas que acha que “é tudo um negócio”. “Para podermos aceder ao privado e sermos atendidos e tratados mais rapidamente, temos de pagar. Para termos alguns descontos, temos de pagar os seguros. É despesa atrás de despesa, é tudo um negócio. Nós temos reformas muito baixas, não dá para esticar para chegar a tudo” garante.

Investimentos de 55 milhões de euros

Para a Covilhã, estão anunciadas duas novas unidades de saúde privadas nos próximos anos. Em 2025 deve abrir o Hospital Privado das Beiras, que consiste na recuperação do antigo edifício do Citeve, perto do pavilhão do Inatel, um investimento de 20 milhões de euros, de um consórcio que integra o fundo MedCapital, dedicado exclusivamente ao desenvolvimento de um grupo de saúde privado de âmbito nacional, com unidades no Algarve, Lisboa e Porto, e dois grupos empresariais “com uma presença forte e alargada na região”, o Grupo AFFIS e Grupo FPT Energia. Uma unidade que contará com mais de 30 especialidades, e que prevê realizar anualmente mais de 100 mil consultas, mais de três mil cirurgias e mais de 70 mil exames e tratamentos. Tendo como público-alvo toda a população da Beira Interior.

Também com o mesmo público como alvo surgirá, em 2027, em terrenos cedidos pelo município da Covilhã junto ao Complexo Desportivo uma outra estrutura de saúde privada na Covilhã, o Hospital CUF, uma aposta de 35 milhões de euros deste grupo que ocupará uma área de oito mil metros quadrados, em três pisos, que terá uma oferta abrangente de especialidades médicas e técnicas, 34 gabinetes de consultas e meios complementares de diagnóstico, imagiologia de última geração, exames de diversas especialidades, 27 camas de internamento, incluindo uma Unidade de Cuidados Intermédios, dois blocos operatórios, urgências e 220 lugares de estacionamento.

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