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Fazer metade dos quilómetros na Covilhã custa o triplo que em Lisboa

Vítor Pereira condena desigualdade no custo dos passes entre a zona metropolitana da capital e a Cidade Neve. E reclama maior aposta do Estado nas ligações inter-regionais

Pode cerca de metade do percurso entre uma aldeia do concelho à sede do mesmo custar quase três vezes mais que o dobro dos quilómetros na Zona Metropolitana de Lisboa? Segundo o presidente da Câmara da Covilhã, Vítor Pereira, sim, algo que condena, apontando as desigualdades em termos de preços entre Litoral e Interior.

O autarca dá como exemplo quanto custa um passe entre, por exemplo, São Jorge da Beira e Covilhã, e outro entre Sesimbra e Mafra. No primeiro caso, 120 euros mensais, o dobro (240) caso se trate de um casal. Um valor que não sobe caso tenham um filho em idade escolar, uma vez que esse passe é pago pela autarquia. No segundo caso, um custo mensal de 40 euros, com resposta multimodal, várias ligações, e um passe familiar que, no máximo, custa 80 euros.

“Será justo que uma pessoa que percorra 80 quilómetros na Zona Metropolitana de Lisboa pague 40 euros e na Covilhã, para percorrer 48, pague 120 euros? Podemos falar de equidade, ou de coesão territorial perante desigualdades tão flagrantes, tão gritantes e tão injustas?” pergunta o autarca covilhanense.

O autarca, no âmbito de uma conferência sobre mobilidade no espaço público, decorrente da Semana Europeia da Mobilidade que se assinalou até ao passado domingo na Covilhã, lembrou a necessidade de se reforçar ligações inter-regionais, por exemplo, de comboio, algo que o município, a par do Fundão, tem reclamado, defendendo o comboio de superfície que diariamente dê opções de transportes a quem trabalha no eixo Guarda-Castelo Branco. “O acesso ao trabalho, às escolas, a casa, é fundamental. Senão temos um território desequilibrado onde tudo é distante, apesar de perto. Estar longe de tudo é meio-caminho andado para as pessoas quererem ir para outros lugares, que é o que não queremos” frisa o autarca. “A mobilidade tem que ser vista ao nível inter-regional. Poder chegar a vários sítios de modo sustentável” afirma. “A mobilidade tem que ser factor de atratividade” assegura. E defende “programas e linhas de financiamento” do Estado que “se adequem à nossa realidade”, pois as famílias do Interior “continuam a pagar mais pelas deslocações que os habitantes do Litoral”.

Vítor Pereira frisa que é importante, em termos de cidade, haver opções, como a rede de bicicletas, trotinetes, autocarros, elevadores e funiculares, que permitam às pessoas “chegar da Estação ao Pelourinho”, mas também é preciso soluções para chegar “às Minas da Panasqueira, a S. Jorge da Beira ou Sobral de S. Miguel, em suma, a cada uma das nossas aldeias. As pessoas que lá vivem têm de conseguir chegar à sede de concelho, ou ao destino pretendido, de preferência a horas compatíveis com o seu quotidiano e as suas pretensões” afirma. Vítor Pereira assume que não ter uma boa rede de transportes em aldeias que já não têm serviços como os CTT, escolas, mercearias ou extensão de saúde, contribui para que estas fiquem ainda mais isoladas.

O presidente da Câmara da Covilhã salienta que a autarquia gasta, anualmente, cerca de 1,8 milhões de euros com transportes, um valor que considera “quase incomportável”, exigindo por isso “apoios financeiros específicos” a este território. “Fazemos face (a este valor) com dificuldade, que nos tira capacidade de ação noutras áreas. Não podemos continuar a suportar sozinhos, não podemos ser só nós, as autarquias, a dar respostas às necessidades de mobilidade. Precisamos de políticas públicas mais ambiciosas nesta matéria. Precisamos de apoio financeiro específico para que as nossas populações tenham transportes públicos, e preços, que se coadunem com um serviço púbico, ao contrário do que acontece atualmente”, disse o autarca.

CIMBSE lança concurso internacional

Entretanto, na passada semana, a Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIMBSE) anunciou o lançamento de um concurso público internacional para o transporte rodoviário de passageiros para cinco anos, no valor de 18,9 milhões de euros. As propostas terão que ser apresentadas até ao próximo dia 10 de novembro.

O presidente da CIMBSE, e autarca de Gouveia, Luís Tadeu, espera que surjam várias propostas de vários operadores, até do estrangeiro, que permitam concorrência e um serviço de maior qualidade, com um valor mais favorável.  O autarca diz ainda que este concurso se baseia na procura de “melhores preços”, uma vez que as operadoras têm cobrado valores cada vez mais altos e que, desde a pandemia, têm representado uma despesa acrescida para os municípios. “É necessário procurar soluções” frisa.

Esta é a primeira vez que a comunidade intermunicipal, que engloba 15 concelhos, dos distritos da Guarda e de Castelo Branco, lança um concurso internacional para o efeito. O mesmo já foi publicado em Diário da República.

Luís Tadeu considera fundamental que haja candidatos a fornecer um serviço que considera fundamental, sobretudo para quem precisa de se movimentar no território para ir trabalhar.

A CIM das Beiras e Serra da Estrela, com sede na Guarda, é constituída por 15 municípios, sendo 12 do distrito da Guarda (Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Fornos de Algodres, Guarda, Gouveia, Manteigas, Meda, Pinhel, Seia, Sabugal e Trancoso) e três do distrito de Castelo Branco (Belmonte, Covilhã e Fundão).

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