“Nesta feira, sinto-me em casa, porque o espírito da feira é, também, o que move a minha marca”, são as palavras de Catarina Tudella, artesã para o trabalho do bordado e do couro.
Natural de Lisboa, mas com raízes albicastrenses e apaixonada pelos bordados da cidade, Catarina é fundadora de uma marca que pretende, como a mesma explica, “descontextualizar o bordado de Castelo Branco na sua apresentação tradicional das colchas e trazê-lo para um lado mais contemporâneo”, aplicando-o em acessórios de moda mais modernos.
“Apesar de eu não trabalhar com designers, eu tento fazer essa ligação entre o design e o tradicional, a arte. Porque acho que é, efetivamente, o espírito da feira e eu sinto-me um bocadinho em casa porque esse também é o espírito da minha marca”, refere Catarina.
Esta ligação entre o tradicional e o moderno é, também, um dos objetivos da FIADA: Feira de Artesanato e Design, ao juntar artesãos e designers no espaço, potenciando a troca de conhecimentos e de ideias entre ambos os setores.
José Vieira, dono de uma loja de bordados tradicionais de Viana do Castelo, conta, por experiência, que “essa partilha acontece muito”. “Trocamos muitas ideias, até onde adquirir determinadas peças artesanais, no ano passado até foi dada formação na área da tecelagem aqui na feira. Há muita partilha de conhecimentos”, diz o artesão.
José também observa que a partilha advém de muitas conversas informais que vão acontecendo no contexto da feira. “Andamos aí a conversar, temos muitas mais coisas para falar e para trocar ideias. Eu acho que é muito importante, porque todos juntos conseguimos, por exemplo, levar os nossos produtos além-fronteiras. Eu tenho alguns contactos, outra pessoa tem outros contactos. Partilhamos essas informações e tem-se conseguido levar os nossos produtos para fora do país”, considerando esta a maior benesse da partilha entre designers e artesãos.
Sílvia Jácome e Ana Pereira representam as Caldas da Rainha, uma das Cidades Criativas portuguesas presentes no certame.
Ana reparou que a ponte entre o design e o artesanato é feita maioritariamente pelos profissionais. “Eu já fui dar uma voltinha aqui pela feira e notei sim, que as conversas acontecem, e trocam-se muitos conhecimentos”, conta a artesã.
Sílvia é designer de profissão e iniciou um projeto de cerâmica, onde escolheu “meter a mão na massa” e fala, por experiência própria, da importância desta ligação entre artesãos e designers.
“Eu falo por mim porque sou designer e agora tenho um projeto onde quis, realmente, meter a mão na massa. Mas supostamente, nós [designers] não pomos a mão na massa. Nós criamos a peça e, termos esta ligação com pessoas que também nos passam conhecimento que nós não tínhamos, como as técnicas e o saber fazer, é muito importante. E também damos muito ao outro lado, que está mais habituado a fazer o que sempre fizeram e, se calhar, também lhes abre horizontes para a inovação”, opina a designer.
A artesã Catarina Tudella refere que “há muito a ganhar no saber do designer e no saber do artesão”. “O artesão é pródigo na arte do fazer. O designer pode não saber executar, não ter essa arte do saber fazer, mas tem uma visão do design, de cliente, uma visão daquilo que as pessoas querem no momento e a conjugação dessas duas partes pode trazer produtos muito interessantes”, adiciona.
Ana Pereira, dos bordados das Caldas da Rainha, acredita que a inovação é a chave para, também, chamar à atenção das gerações mais jovens.
Neste contexto, José Vieira conta que foi surpreendido por uma jovem de 20 anos que, no ano passado, quis comprar um xaile preto típico de Viana do Castelo, para ter como recordação.
“Fiquei mesmo surpreendido, uma menina tão nova e interessada num xaile preto tão tradicional. Acho que as pessoas mais jovens que se veem por aqui, são mesmo interessadas na tradição”, aponta o artesão de Viana do Castelo.
A segunda edição da Fiada – Feira de Artesanato e Design contou com quatro dias de exposições, oficinas e tertúlias ligadas ao tema do certame e a presença de 40 artesãos de todo o país.