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Ficções ou realidades! Que é isso da pendulação?

A. Pinto Pires

Professor

Como desde há muito se tem vindo a afirmar, a linha da Beira Baixa tardou demasiado na senda da modernidade por chegar tarde demais. Refiro-me ao caso da propalada pendulação Covilhã Fundão.

Quando abriu a A23 houve quem pronunciasse um golpe profundo para a ferrovia. E foi. Na ocasião tivemos acesso aos valores das bilheteiras e foi de arrepiar. As portagens instituídas rapidamente surtiram efeito contrário. Também foi um tempo de propalada mobilidade pessoal e familiar, o facilitismo do aumento de viaturas particulares, e nisso de comodismo, os tugas são exemplares.

À margem do contexto deste escrito, convém referir que foram crescendo os parques industriais de sucesso, caso de Castelo Branco, Fundão e Tortosendo. O do Canhoso foi um aborto pelas ousadias cometidas. Todos eles foram construídos fora dos perímetros urbanos e nenhum servido por caminho de ferro, excetuando o do Fundão. Em nenhum foi edificado apeadeiro, curiosamente, no do Canhoso, até se justificava. O Tortosendo, bem pensado, também se teria justificado a alteração da estação para o próprio parque.

Observando o quotidiano do tráfego de viaturas entre a Covilhã e Fundão, já com o nó de Alcaria incorporado, temos uma noção do número de pessoas que se deslocam em viaturas próprias. Questiono-me, como se vai conseguir carrear toda esta gente que adquiriu hábitos de mobilidade para um transporte, neste caso o ferroviário, que corre muito à margem dos centros nevrálgicos onde se localizam os centros de produção?

E mais, partindo da boa intenção de trazer gente para o caminho de ferro, já se pensou na ausência de estruturas de apoio fundamentais, tais como o parqueamento de viaturas para quem da Covilhã se desloque para o Fundão ou vice-versa? A zona envolvente do cais de mercadorias encerrada a sete chaves. E no Fundão não vejo onde.

Não basta acenar com muitos milhões para a flexibilização dos transportes. Já não refiro as questões ambientais, fundamentais em meu entender, sendo que é fundamental investir na mitigação dos hábitos, pois sem a modificação dos mesmos nada conseguido. E a montanha corre o risco de parir um ratito.

A questão do transporte flexível é, sem dúvida, uma aposta conseguida, mas certamente para públicos muito específicos, diria restritos, que aplaudo. E venham mais. Não se coloquem de lado o que foram os serviços combinados, e por aí sim, estamos a trazer gente para o caminho de ferro.

Porém, algumas dúvidas. Como vão ser essas experiências-piloto com horários adaptados para os públicos alvo? Percebe-se a ideia, mas é preciso aclarar o modo como. Não se aceitam como condicionantes as tardias obras na linha da Beira Alta nem a saturação do tráfego de comboios na Beira Baixa, na totalidade comboios de mercadorias que bem podem aguardar por cruzamento nas estações intermédias, se aos de passageiros for dada prioridade. Importaria conhecer a posição da IP, Infraestruturas de Portugal e da AMT, Autoridade da Mobilidade e dos Transportes.

Pode parecer descabido, mas Caria não deveria ficar de fora deste projeto. Pena que a estação tenha deixado de ter uma segunda linha, como sempre teve, impossibilitando o cruzamento de composições, mas que a renovação retirou. Lapso da IP, ou ausência de planeamento!

Provavelmente esta pendulação faria mais sentido se tivesse o seu início em Belmonte, Covilhã e Fundão, o que resolveria a questão de Caria. Apesar das automotoras facilmente inverterem a marcha, não se subestime a possibilidade de cruzamentos, daí o fator Belmonte. O que seria uma vitória. Se os resultados forem almejados, então sim, parta-se para o troço Guarda-Castelo Branco, com a internacionalização em vista. Afinal, a Espanha fica tão perto, mas por ora tão longe.

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