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Foi há 80 anos: a inauguração do mercado municipal

Carlos Madaleno

(Historiador)

Foi a 8 de dezembro de 1943, dia frio, mas soalheiro. Na Covilhã, o fervor religioso do Dia da Mãe que na época se celebrava nesta data, misturava-se com a ânsia de entrar no novo edifício do mercado municipal, o melhor do país, dizia-se.  A expectativa era grande, afinal tinham passado 3 anos desde que se lançara a primeira pedra, a 24 de maio de 1940.

Durante a manhã teve lugar a missa de Ação de Graças, na velha igreja de São Martinho, a que se seguiu a homenagem ao Executivo, por parte dos funcionários da Câmara. Pelas 14 horas, o bulício avolumava-se, um ruído indecifrável, semelhante ao zumbido de um gigantesco enxame, estendia-se pelas ruas em redor da grande obra a inaugurar. A Covilhã finalmente teria uma praça fechada, com os diferentes mercados reunidos num único espaço.

Chegaram primeiro os bombeiros, perfilados em irrepreensível marcha, depois a Mocidade Portuguesa, o clero, os Escuteiros, sindicatos, casas do povo, os senhores regedores…. Ouviram-se os acordes da Filarmónica de Cebola (hoje São Jorge) vindos da rua do Vigário, a Santa Maria, era sinal que tinha chegado o governador civil de Castelo Branco, o Dr. António Pinto de Castelo Branco. Esperava-o o presidente da câmara, Luís Victor Tavares Baptista e restantes vereadores. Ao Governador Civil são entregues as chaves para abrir os portões do novo mercado, o que fez com percetível nervosismo. A multidão invade o espaço, indiferente aos formalismos que a situação requeria.  O padre Morgadinho empunha o hissope e feliz procede à bênção. De novo, o som da música sobrepõe-se à algazarra, são agora as filarmónicas das Cortes, da Bouça e da Aldeia do Mato (Vale Formoso). Chegara a hora dos discursos, falou primeiro o presidente da Câmara, seguiu-se Mário Quintela e por fim o Governador Civil. As palavras mais ouvidas foram, asseio, conforto e bem-estar. Não se esqueceram os agradecimentos ao ministro Duarte Pacheco que, por parte do poder central, garantiu a edificação da nova obra e, por tal motivo e nesse ano, se agraciou como cidadão honorário da Covilhã, mas acabaria por morrer acidentalmente sem assistir à inauguração.  Os elogios a autarquia não foram poupados. Conseguira por de pé uma obra que jamais seria esquecida (tivessem vivido mais 80 anos e não diriam o mesmo), conseguira do Estado, uma comparticipação de 400 contos e da Caixa Geral de Depósitos um empréstimo de 1200 contos e ainda um arquiteto de renome, Jorge de Almeida Araújo. A empresa Sociedade Nacional de Engenharia executara, na perfeição, as obras, sempre com a atenta fiscalização camarária do engenheiro Rafael da Costa.  O desaparecimento do palácio do Visconde do Sardoal, a ocultação de uma grande extensão do pano de muralhas, o ditar da morte ao mercado do peixe, uma das mais bonitas estruturas do século XVI ou XVII, na cidade, foram apenas danos colaterais em que ninguém reparou.

A cerimónia não ficou por aqui, no final serviu-se um farto bodo a mil pobres da cidade. Afinal nem tudo era irreprovável, havia pobres.

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