Os irmãos Guilherme e Gustavo, brasileiros com uma empresa de bio modelos para procedimentos cirúrgicos instalada desde novembro no UBIMedical já vendia a tecnologia, pouco conhecida, e viu em Portugal a porta de entrada no mercado europeu. A Covilhã Innov Summit, que decorreu no Teatro Municipal da Covilhã, entre 12 e 14 de março, foi uma oportunidade que viram de darem a conhecer os seus produtores, contactarem investidores e encontrarem quem os ajude a darem o salto que pretendem.
A NeuroSov desenvolveu uma molécula que retarda a progressão da doença de Parkinson, continua os testes e procura montras que chamem a atenção da indústria farmacêutica, para, quando for o momento, o fármaco ser comercializado. No evento, como em muitos outros, a empresa procurou visibilidade e parceiros. Acabou por vencer a Startup Competition e Clara Cristóvão destacou a importância da “exposição” alcançada e de mais um passo na notoriedade num fórum com uma audiência onde estiveram presentes vários tipos de agentes. “Na fase em que nós estamos, precisamos muito do setor privado para nos apoiar”, realçou uma das fundadoras.
Ricardo Gomes, 20 anos, aluno da Universidade da Beira Interior, quer implementar em Portugal uma ideia comercializada em outras partes do mundo, que passa por aproveitar o desperdício alimentar e um produto utilizado na agricultura para construir casas e produzir energia através dos gases gerados no processo. Desde que apresentou o seu projeto, foi abordado por várias pessoas a quererem saber mais. A primeira edição da Covilhã Innov Summit foi uma plataforma para criar uma rede de contactos, ouvir dicas, trocar experiências, explicar a sua ambição a possíveis investidores e dar a conhecer as casas bio sustentáveis “a pessoas estabelecidas no mercado e que têm uma visão mais geral do ecossistema empresarial”, que o ajudem a “levar a ideia a um negócio”.
Nas pausas, trocam-se contactos, impressões, empresas na fase de arranque conversam com empresários, académicos, políticos, investidores, possíveis parceiros ou quem só dê uma achega sobre uma fase do caminho que também já percorreu.
Ganhar visibilidade e contactos foi o que também trouxe ao encontro Wilson Bicalho, advogado com uma empresa que está a desenvolver uma ferramenta que facilite os processos de imigração e ponha em contacto direto a procura e a oferta tendo em conta os perfis e competências pretendidas. A Next Boarder está a instalar-se no UBIMedical porque “o ecossistema montado é favorável para desenvolver o trabalho”. “Pretendemos começar em Portugal e depois escalar pelo mundo”, disse ao NC o fundador.
O contacto informal entre investigadores, académicos, empresas, pessoas da área da finança, investidores, fundos de investimento é uma das mais-valias da Covilhã Innov Summit, “três dias de inspiração” que Hélio Fazendeiro, da Câmara da Covilhã, considerou um evento “pioneiro na região, que poderá fazer história”. “Que os contactos e negócios que aqui se fazem deem frutos e sejam a alavanca para os que já começaram o caminho”, salientou.
“É um evento que pretende fazer uma transferência do conhecimento científico, académico, tecnológico e de inovação para o tecido empresarial. Dar espaço de afirmação a novas ideias ou novas empresas. É, no fundo, o evento que faltava no nosso território e que nos posiciona ao nível daquilo que melhor se faz no país”, vincou Hélio Fazendeiro.
A responsável pelo UBIMedical, incubadora de empresas da UBI, Dina Pereira, elogiou a parceria com o município, a vontade de “todos rumarem no mesmo sentido” para mostrar “o que de melhor se está a fazer de inovação” e de proporcionar contactos importantes para que diferentes entidades interajam e criem sinergias.
“Estamos num ponto já maduro para podermos mostrar à sociedade aquilo que estamos a desenvolver em termos de tecnologia e inovação e mostrar que temos já projetos empreendedores que estão num ponto específico que podem ser validados comercialmente e empresarialmente”, destacou Dina Pereira, que alertou para os convidados e oradores de diversas áreas e setores.
Para uma empresa que está a começar, os recursos não são fáceis de garantir, sublinhou. “Um evento deste género permite casar estas pessoas, permite que as pessoas se conheçam, conheçam os projetos, possam trocar ideias, trocar cartões e passar depois por uma fase subsequente, que é a fase em que se pode analisar se aquilo tem mesmo interesse”, explicou a responsável do UBIMedical, onde estão instaladas 44 empresas.
Segundo Dina Pereira, esta primeira foi uma “versão teste” e destacou a importância da Covilhã Innov Summit para mencionar a necessidade de lhe dar continuidade.
“As coisas boas e que têm sentido devem continuar”, concordou o reitor da UBI, Mário Raposo, segundo o qual “a Covilhã é uma cidade de empreendedores de várias áreas” e mencionou o “ecossistema empreendedor” que existe na universidade.
Mário Raposo alertou que, para se poderem pagar melhores salários e evitar que os jovens continuem a sir do país, é necessário investir na inovação, “o motor que desenvolve as economias”, para criar valor.
“Estamos muito centrados na produção, mas se não fizermos produtos inovadores, não conseguimos aumentar a produtividade e pagar melhores salários”, frisou o reitor, que pediu aos governantes “que haja coragem” para fazerem essa aposta, porque “o caminho faz-se com investimento forte nestas áreas.
O presidente da Câmara da Covilhã, Vítor Pereira, aludiu aos pergaminhos do concelho na inovação e no empreendedorismo e à vontade de “unir tradição e inovação” e ir “além do óbvio”, um dos motivos da Covilhã Innov Summit, momento para agregar pessoas e, juntas, pensarem, refletirem e criarem.
“O mundo está em constante mudança e nós trabalhamos para fazermos parte dessa mudança. Não somos, nem aceitaremos ser, um território esquecido. Usaremos todas as ferramentas ao nosso alcance para sermos parte dos novos tempos”, garantiu o autarca, que se mostrou um aliado da tecnologia e apelou para que se saiba tirar proveito dela para dinamizar a economia.
Vítor Pereira realçou que no concelho cada vez há mais empresas do setor tecnológico e afirmou que a Covilhã “está na linha da frente”.
O presidente do município aproveitou para desafiar os empresários a fixarem-se no concelho, onde afirmou que existe o conhecimento e investigação científicos e condições especiais dadas pelo município.
“Aqui encontram uma câmara que será vossa parceira. Que tem uma estratégia de desenvolvimento para o concelho e que caminha lado a lado com as empresas e empresários, que tem regulamento de apoio e condições especiais para os que se fixam e criam emprego e riqueza neste concelho”, argumentou.
Segundo Vítor Pereira, há na Covilhã 5230 empresas, “sinónimo de um tecido empresarial forte e dinâmico”, que representam um volume de negócios de 250 milhões de euros e 14.600 postos de trabalho.
O concelho tem uma “balança comercial expressivamente positiva” e o presidente mencionou que as empresas podem beneficiar do “conhecimento, investigação e ciência produzidos” na UBI.
Apesar da atenção à inovação e à tecnologia, o autarca garantiu que está a ser seguida uma “estratégia integrada”, sem descurar as restantes dimensões.