“Fui empurrado”

Marco Pêba, presidente da direção demissionário do Sporting da Covilhã, afirma ter sido “apunhalado” por elementos da direção, que defendem a saída de José Bizarro do comando da equipa, algo a que se opôs

“Isto é tudo por eu não tomar a decisão de demitir José Bizarro. Eu optei por me demitir e não demitir José Bizarro”. Foi esta a justificação dada pelo presidente demissionário do Sporting da Covilhã, Marco Pêba, para a sua saída do clube, que, ao contrário do que poderia parecer, foi tudo menos pacífica.

Na passada quarta-feira, 22, o presidente da mesa da Assembleia Geral do clube, Francisco Moreira, anunciou o pedido de demissão de “um membro da direção”, disse que a mesma deveria ser encarada com naturalidade pois na vida “nada é imutável”, assegurando não existir “qualquer drama”. Moreira, sem nunca referir o nome de Marco Pêba, ou o do presidente do clube, disse que a mesa, após apreciar o mesmo, aceitou o pedido, e que os motivos invocados foram de “natureza profissional e pessoal”. Inicialmente, Marco Pêba também invocou razões profissionais e pessoais, mas depois das declarações de Moreira, decidiu falar, devido “à forma como fui tratado”, lamentando que nunca o seu nome ou cargo no clube tenha sido referido.

Marco Pêba garantiu que foi o facto de defender a continuidade do treinador que pesou na sua demissão. “Fui empurrado. Nós tivemos uma reunião de direção com o Conselho Fiscal para se apresentar um projeto para alterar o treinador e para alterar o diretor desportivo”, disse. “Os sócios têm que de entender que saí, mas não fugi. Não concordei pela parte financeira e essa parte para mim é a mais importante no clube”, garante Pêba. Que defende que a saída de Bizarro nesta altura da temporada teria consequências financeiras graves para o Sporting da Covilhã. Marco Pêba assume que, as decisões têm que ter sempre em conta a parte desportiva, mas que neste momento a parte financeira é mais importante, tendo de haver uma simbiose entre uma e outra. “É verdade que os resultados desportivos não são os esperados, mas uma saída é ainda pior” garante. O ex-líder serrano lembra que apesar do Covilhã ser o seu clube de coração, pensa o mesmo “como gestor” e “não como adepto”, como alguns dirigentes, e que o clube, nesta altura, não suporta a demissão de uma equipa técnica e a contratação de outra.

Marco Pêba disse ainda que se não se demitisse, lhe foi transmitido que poderiam sair alguns diretores, criando-se assim uma crise diretiva indesejável nesta altura. “Ainda que o pedido tenha também resultado de uma imposição do próprio presidente da Assembleia Geral, fui informado de que alguns elementos da direção ponderavam demitir-se caso eu optasse por não apresentar o meu pedido de demissão. Tal cenário implicaria a queda da direção por falta de quórum e a consequente necessidade de eleições antecipadas” disse Pêba, que revelou que a 10 de setembro, e 15 de outubro, David Timóteo e Joel Vital, também apresentaram, respetivamente, a demissão dos cargos que ocupam na direção, mas que as mesmas não foram tratadas “da mesma forma” que as anteriores, de António Vicente e Pedro Saraiva. “Entendi que o mais responsável seria sair para não prejudicar o Sporting Clube da Covilhã. As cartas de demissão podem ser consultadas na secretaria do clube e comprovar os factos que estou aqui a mencionar”, assegurou.

Recordar que Francisco Moreira negara, no dia anterior, a existência de outras demissões, a não ser a de Marco Peba. O presidente da mesa da Assembleia anunciou ainda que face à demissão do líder serrano, não haveria eleições, garantindo que o resto da direção estava “coesa” e com vontade de trabalhar, sendo cooptado um elemento para a presidência do clube. “A direção assumiu, de forma inequívoca, a alteração dos estilos de trabalho, condição “si ne qua non” para a obtenção do trabalho coletivo, do rigor e da eficácia”, afirmou Francisco Moreira, que disse também que face a este episódio foi adiada a assembleia geral que estava prevista para esta sexta-feira, 31, para o dia 13 de novembro, uma vez que as contas do último exercício a serem presentes à assembleia devem ser acompanhadas do respetivo relatório de gestão.

Uma decisão que Marco Pêba não estranha e que dizia já prever. “Sabia que a decisão e o que Francisco Moreira ia dizer ontem era isto. Não ia fazer uma Comissão Administrativa e não ia marcar eleições”, disse o líder demissionário do clube, que tem outra opinião. “Com tantos problemas internos, o clube devia ir para eleições”, afiança Marco Pêba.

“Não tenho a mínima dúvida sobre a necessidade de uma SAD”

Fazendo uma retrospetiva sobre o ano e meio que esteve na presidência do clube, após a morte de José Mendes, de quem era o braço direito na direção, Marco Pêba garante que, em termos financeiros, deixou o clube “melhor” do que o encontrou. Em termos de plantel e equipa técnica, “ao dia de hoje (quinta-feira, 23), está tudo pago” e existe um “saldo positivo” de tesouraria de 15 mil euros.

O presidente demissionário recorda que durante o seu mandato foram pagos 100 mil euros de um empréstimo da SDUQ (Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas), e feito um acordo de pagamento às finanças, de uma dívida de 143 mil euros, em que todos os meses o clube tem pago 6800 euros, faltando saldar sete meses. Segundo Pêba, o que o clube deve é a alguns fornecedores, entre os quais a empresa para a qual trabalha, a Metalguarda, de 72 mil euros, relativas a material para as obras do estádio José Santos Pinto, e a ele próprio, 14 mil e 500 euros que terá injetado no clube. “Não devemos nada ao fisco nem à Segurança Social”, vinca.

Com a sua saída, Pêba garante que, pelo menos, resolve-se “é a minha sanidade mental. Andei ano e meio em que não pensei em mim, apenas no clube” assegura, recordando que face à falta de dinheiro é muito complicado criar equipas competitivas. “Fizemos todos os esforços para o conseguir, fazer uma equipa que jogue e se bata contra outras que, na maioria dos casos, são SAD’s (Sociedade Anónima Desportiva), que têm orçamentos que são o triplo do nosso”, garante. Aliás, Pêba não tem dúvidas que esse é o único caminho que pode devolver o Sporting da Covilhã a escalões mais altos no futebol nacional. “Não tenho a mínima dúvida sobre a necessidade de uma SAD. O futebol, hoje, não é amadorismo. É profissionalismo. E nós temos andado a fazer amadorismo”, lamenta.

O presidente demissionário garante que o Sporting da Covilhã “é o único clube de que sou sócio”, mas também apela a uma maior união não só dos sócios, como dos próprios dirigentes. “Não existe união”, assegura, dizendo ter-se sentido “apunhalado” em todo este processo, “mas com uma machada das grandes, nas costas”. Marco Pêba afirma ainda com mágoa que no futebol, “não pode ser o jogo do vale tudo”.  “O que quero é sair de consciência tranquila e que os sócios entendam que eu não fugi. Amo este clube, o trabalho que estava a ser feito era muito difícil e acredito que até dezembro as coisas iam melhorar”, frisa.

Francisco Moreira, na véspera, anunciara que haveria decisões muito brevemente, num espaço de 48 horas, sobre a sucessão de Pêba, e garantia que o clube mudará, para melhor. “Fiquei admirado com o espírito de combatividade que vi na direção, ainda não tinha visto. Arregaçaram mangas e definiram já orientações. Brevemente, a direção irá anunciar alterações no âmbito estrutural desportivo e no âmbito estrutural do próprio clube. Irá haver alterações, iremos melhorar em muitos aspetos, por aquilo que me foi comunicado. Por isso falo em esperança, falo muito de trabalho e falo na necessidade do trabalho coletivo que é fundamental. O secretismo tem que acabar no clube”, afirma.

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