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Funerais tornaram-se “mais tristes”

O ar é gélido, a anunciar a neve que cai na serra e horas depois sobre a cidade. É também o calor humano, que conforta em situações de dor, que falta por estes dias nos funerais, realizados maioritariamente sem velório e restrito aos familiares mais próximos.

As poucas pessoas que se deslocaram ao Cemitério da Covilhã estão no automóvel, a aguardar a chegada do féretro. Quando o carro funerário se aproxima e o funcionário do espaço vê mais gente, avisa que se entrarem mais de vinte pessoas, fecha o portão. Não são necessárias as recomendações para que os presentes se protejam. A viúva tem na filha o apoio. Todos os outros familiares se mantêm bem distantes uns dos outros, isolados ou em grupos de dois.

O corpo é retirado para o interior do cemitério e quem está espalha-se pelas imediações. Metade assiste do exterior. Não há abraços, não se aperta a mão ou o braço, não há beijos. Quando o padre termina a breve celebração – que há três semanas deixou de ser feita nas igrejas e passou a ser obrigatoriamente ao ar livre, no cemitério, num curto espaço de tempo – metade de quem está, dispersa. Outros pegam nos ramos de flores, mais do que a quantidade de gente que acompanha o caixão até à sepultura.

Na Cova da Beira não há, para já, registo de vítimas mortais da covid-19, mas como medida preventiva os caixões deixaram de poder ser abertos. As raras situações em que há velório, ele decorre num curto período de tempo e apenas reservado aos familiares mais próximos. O habitual tem sido os corpos chegarem às capelas mortuárias, ou às salas funerárias, e pouco depois serem encaminhados até ao cemitério. Sem as habituais despedidas. Sem um último olhar.

Não há abraços, não se aperta a mão ou o braço, não há beijos nos funerais que se realizam por estes dias.

 

Funeral com três pessoas

Alberto Almeida, pároco do Teixoso, nota que, embora lhes seja penoso, “as pessoas têm compreendido bem” as medidas profilácticas adoptadas. Há pouca gente a ir aos funerais, como se apela, e “a celebração é simples”, de cerca de dez minutos. Com 80 anos, o pároco toma algumas cautelas, mas ainda não utilizou máscara.

“As pessoas acatam muito bem as restrições, contêm as manifestações de afecto. Os funerais são sempre tristes, mas assim torna-se muito estranho”, descreve José Dionísio, prelado na Covilhã e Vila do Carvalho, que no enterro que fez na véspera tinha tido “três pessoas”.

José Dionísio sublinha que as pessoas têm feito por reprimir as manifestações pública de dor e consolação. Embora preferissem abrir o caixão, para se despedirem, percebem o momento excepcional vivido, ainda que em sua opinião o momento se torne “mais triste”.

Ritual breve no cemitério

Sem o habitual suporte emocional da família e amigos, “custa mais”, mas a população tem cumprido o que se pede, “entre o medo e a consciência cívica”. Em média, têm estado nos funerais que acompanha entre dez a 12 pessoas, algumas com máscaras, distanciadas umas das outras.

“A palavra de Deus” que veicula no cemitério “não é muito diferente do habitual”, ainda que acrescente ao ritual das exéquias habituais “algumas orações e palavras de conforto”, “para não ser uma coisa de um minuto”.

O arcipreste da Covilhã desinfecta as mãos antes, depois e tem atenção às distâncias. Após o ritual, frisa, faz saber que, quando as restrições impostas pela pandemia terminarem, quem assim entender pode “ter a missa correspondente ao funeral mais tarde, quando se puder celebrar”.

Num momento “de apreensão e incerteza”, José Dionísio acentua fazer questão de mencionar “a fragilidade” humana e transmitir “palavras de fé e de esperança cristãs”. Tem procurado passar a mensagem de que “a vida, neste mundo, é uma passagem, e um dia havemos de nos encontrar todos”.

Na despedida dos defuntos é recomendada apenas a presença da família mais próxima, para evitar a concentração de pessoas.

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