A Câmara de Belmonte aprovou na passada quinta-feira, 24, o auto de competências para ficar com a gestão do castelo da vila, até agora nas mãos da direção regional de cultura do centro.
Assim, a autarquia passa também a assumir os encargos com a única funcionária que ainda não estava sob as suas ordens, recebendo anualmente 15 mil euros para pagamento de ordenados.
Dias Rocha lembra que a autarquia já tinha a gestão de Centum Cellas, por exemplo, e que no castelo também já era responsável por um funcionário e senhora que faz a limpeza, mas lamenta que quando a Câmara quer intervir, em termos de obra, na estrutura, não tenha autonomia para o fazer. “Isso mete-me muita confusão. Entregam-nos o castelo, a funcionária, mas cada vez que se quer ali fazer obras, temos que pedir ordens” disse o autarca na reunião do executivo.
Mais tarde acrescentou sentir-se “incomodado” com o que tem sido o projecto de musealização do monumento. “Os documentos que tivemos que fazer, os passos que tivemos que dar, tem sido dramático o que temos passado para ter autorização e o financiamento necessário” frisa, anunciando que serão as Ordens Honoríficas o tema em destaque. “Algo inovador, que só existe em Lisboa. Acho que é bom ser diferente, e não se deve só falar de Pedro Álvares Cabral e do Brasil” explica o autarca.
Recorde-se que em Dezembro, o vereador da CDU na autarquia, Carlos Afonso, questionou o porquê de se ter escolhido, como tema, as Ordens Honoríficas. “Musealizar a torre de menagem é algo que subscrevo. Mas questiono o porquê com as Ordens Honoríficas. Estas nada têm a ver com Belmonte, a não ser o facto de alguns dos nobres desta terra, ao longo dos séculos, terem estado ligadas a elas” disse na sua intervenção o vereador da oposição, que pediu uma séria reflexão sobre o assunto. Carlos Afonso recorda o passado “muito controverso” destas Ordens, com papel “contrário aos novos tempos” e um papel “muito activo” em todo o processo da Inquisição. “Esta instituições semearam o terror e o medo entre os portugueses” salienta o vereador, que recorda ainda que, “todos os dias se afirma” que Belmonte é “terra de tolerância”.
O vereador da CDU acrescenta que a comunidade judaica de Belmonte é prova disso, pelo que “instalar na parte mais nobre que esta terra tem algo alusivo aos que fizeram parte da perseguição a este povo é, no mínimo, ideia de mau gosto”.
Carlos Afonso pediu que temática seja revista, e trocada por algo que “diga algo a nós todos e que não crie divisões, que não seja fracturante, mas sim conciliadora”. E sugeriu que espaço seja dedicado a Pedro Álvares Cabral, importante navegador português, que nasceu em Belmonte e descobriu, em 1500, o Brasil.