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Golpe de Estado

Há um elevado número de democracias em regressão. E isto causa-me arrepios

Arrepiante, foi a forma como tantos adjectivaram uma imagem que ilustrava a manifestação de milhares, os números podem variar entre 10000 a 15000 polícias dos corpos da PSP e da GNR a descerem a Calçada do Combro rumo à Assembleia da República. De negro vestidos. Senti um enorme “exército” marchando sob as ordens do “general” prometido que lhes jura os caminhos da felicidade. Também me causou arrepios. Um dia antes, no Fórum da TSF, ouvi um dirigente do Sindicato Nacional do Corpo de Guardas Prisionais avisar o país que a falta de efectivos nas prisões vai lançar o “caos” no sistema, chamando a atenção para as “miseráveis condições de trabalho da guarda prisional”, e ameaçando com um alerta de que “a luta vai endurecer”. Senti uma ameaça e que esperam um verdadeiro líder para os amolecer. Também me causou arrepios. Há anos que os sargentos estão descontentes. Dois dias depois, a voz de Lima Coelho presidente da Associação Nacional de Sargentos (ANS) voltou a ouvir-se para defender que o aumento do suplemento da condição militar, aprovado pelo Governo, deve ser pago com retroactivos a janeiro de 2022. E isto porque, salientou, a medida “vem a reboque” do que foi aplicado aos profissionais das forças de segurança desde essa data. Senti que acreditam que um “pastor” de falinhas mansas tem a solução. Também me causou arrepios. Há anos que os chefes militares se queixam. Desta feita, na véspera da grandiosa manifestação dos polícias, três integrantes do Grupo de Reflexão Estratégica Independente, denunciaram o descontentamento dos militares, e numa missiva enviada aos líderes partidários, ao Presidente da República, ao Primeiro-Ministro e à Ministra da Defesa, alertaram para a forte possibilidade de focos de instabilidade nas Forças Armadas, e o risco de insubordinação militar. Senti a iminência de uma situação perigosa, e que só um grande chefe os pode acalmar. Também me causou arrepios. Em apenas três dias, a sensação de que o aumento das manifestações de protesto e dos movimentos de revolta entre forças de segurança e forças armadas, possa conduzir a um descarrilamento social, e pôr em causa o quotidiano civil, também me causou arrepios. A ideia de que o previsível aumento de soluções populistas e mentirosas saídas de 10 de Março, possa criar condições para um atentado contra o regime democrático, e abra caminho a tentativas lunáticas de assalto ao poder, também me causou arrepios. Pode parecer um exagero, Portugal não é uma “república das bananas”, mas a história está cheia de processos eleitorais democráticos que conduziram a passos largos ao autoritarismo. Há um elevado número de democracias em regressão. E isto causa-me arrepios. Devemos estar atentos.

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