Há um deserto total de notícias em 45 concelhos do País

O estudo “Deserto de Notícias Europa 2025: Relatório de Portugal”, realizado pela UBI, mostra desigualdades territoriais no acesso à informação

A ausência de meios de comunicação social, em Portugal, concentra-se “acentuadamente” no Interior do País, com destaque para as regiões do Alentejo e Trás-os-Montes. É esta uma das conclusões do mais recente estudo sobre “desertos de notícias” em Portugal, realizado pelos investigadores Pedro Jerónimo, Giovanni Ramos, Luísa Torres e Inês Salvador, do LabCom – Laboratório de Comunicação da Universidade da Beira Interior (UBI).

O estudo “Desertos de Notícias Europa 2025: Relatório de Portugal” confirma a persistência de desigualdades territoriais, com 83 concelhos classificados como desertos ou semi-desertos (55,5%), e um crescimento acentuado dos meios digitais.

Em termos regionais, se no Interior há uma crise na quantidade de meios de informação existentes, no Litoral e Áreas Metropolitanas como a Grande Lisboa, Porto e Península de Setúbal, praticamente não existem os chamados desertos. Segundo o estudo, no Alto Alentejo existem, segundo dados de 2024, 9 meios para 103 mil habitantes, e o Alto Tâmega apresenta 15 meios para 78 mil habitantes, ostentando o maior rácio de meios per capita. A Grande Lisboa não registou desertos ou semi-desertos, sendo a Amadora o único concelho identificado como ameaçado.

Em termos de evolução do panorama mediático, o relatório sublinha que o digital se assume como suporte dominante e em crescimento. Desde 2022, verificou-se a criação de 76 novos meios digitais (65 exclusivamente online). À data de levantamento dos dados, 1 de junho de 2025, Portugal contabilizava 891 meios regionais, dos quais 409 são digitais, 399 impressos e 263 rádios.

Seguno o Labcom, este estudo revela que a crise do jornalismo de proximidade em Portugal mantém padrões já identificados em 2022. O “estudo, pioneiro na temática e abrangência”, visa indagar as alterações que ocorreram e atualizar o mapeamento dos concelhos onde se verifica a ausência ou escassez de meios de comunicação social de informação geral e de natureza jornalística.

Os dados apurados a 1 de junho de 2025 indicam que 171 concelhos (55,5%) apresentam algum nível de problema na sua cobertura noticiosa local, um ligeiro aumento face aos 166 concelhos registados em 2022.

Segundo os investigadores, face a 2022, o cenário nacional é de estabilidade, com pequenas variações resultantes sobretudo de ajustes metodológicos. “Contudo, o total de concelhos em algum tipo de deserto (desertos totais e semi-desertos) subiu de 78 para 83”, salientam.

 

Ausência de meios dá azo à proliferação de desinformação

 

De acordo com o documento, Portugal conta com 45 concelhos classificados como desertos totais (14,6%), uma redução em relação aos 54 registados em 2022. Ou seja, concelhos que não possuem qualquer tipo de noticiário local.

Já o número de semi-desertos (contam apenas com noticiários não frequentes ou ocasionais) aumentou de 24 para 38 concelhos (12,3%), indicando uma transição na fragilidade da cobertura.

Segundo o estudo mantiveram-se estáveis 87 concelhos ameaçados (28,3%) entre 2022 e 2025. São classificados como ameaçado, os concelhos com apenas um meio produtor de noticiário local regular. O relatório indica ainda que, no total, mais de metade dos concelhos portugueses (53,9% no estudo inaugural de 2022) enfrentava ou já se encontrava em algum grau de risco de se transformar em desertos de notícias.

A importância do jornalismo de proximidade

O relatório do Labcom reforça “a urgência de fortalecer o jornalismo de proximidade, que tem um papel vital na esfera pública.”  Segundo o mesmo, a crise do jornalismo local, “marcada por constrangimentos financeiros e pela migração de receitas para grandes plataformas digitais, compromete o escrutínio político e a promoção da identidade local.” O estudo alerta que “a ausência de cobertura noticiosa cria condições favoráveis à proliferação de desinformação.”

O relatório, que utilizou a metodologia baseada em registos oficiais da ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social, propõe-se a ser um instrumento de apoio à formulação de políticas públicas e ao desenvolvimento de práticas profissionais.

Recorde-se que em setembro, numa conferência sobre dinâmicas de desinformação em Portugal, realizada na UBI, A presidente da Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), Helena Sousa, considerou que o desaparecimento de diversos órgãos de comunicação, no País, pode colocar em causa a democracia. Segundo a responsável, entre 2012 e 2024 desapareceram cerca de 15 por cento dos jornais existentes em Portugal e, no que diz respeito a rádios, houve uma diminuição de 334 para 267. “É perigoso para uma democracia forte e dinâmica” disse, apontando a diminuição de receitas, provenientes da publicidade, como a grande causa. Helena Sousa lembrou ainda que muitos dos órgãos de comunicação existentes têm “cada vez menos jornalistas”, com significativa redução de número de trabalhadores nas suas redações. Segundo os dados da ERC, em Portugal, existem 28 municípios sem qualquer órgão registado, e em que a população só acede à informação por via do online.

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