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Hans Jonas para os políticos

António Rodrigues de Assunção

Existe alguma relação entre o “Princípio Responsabilidade – Ensaio de uma Ética para a Civilização Tecnológica”, do filósofo alemão Hans Jonas (1903-1993) e as eleições autárquicas de 26 de Setembro último? Uma questão só na aparência demasiado teórica e abstracta, como, de forma muito breve, tentarei aqui dilucidar.

Hans Jonas enunciou do seguinte modo, naquela que é a sua Obra seminal, o referido princípio: “Age de forma a que os efeitos das tuas acções sejam compatíveis com a permanência da vida na Terra”. Como o título dessa obra enuncia, trata-se de um Ensaio de uma Ética para a Civilização da Técnica. O que tem isto a ver com as eleições autárquicas? Para os mais bem informados acerca destas questões filosóficas, este “Princípio Responsabilidade” apresenta-se como um “Imperativo Categórico”, de certo modo próximo do Imperativo Categórico do filósofo Emmanuel Kant. No entanto, Jonas vai mais longe nos contornos da sua Ética.

Pode dizer-se que a Ética de Jonas supera a de Kant em dois aspectos conexos: por um lado, uma Ética não limitada ao tempo presente e ao âmbito exclusivamente intra-humano, mas sim uma Ética aberta também às nossas relações com a Natureza e olhando para o futuro, isto é, responsabilizando-nos, a nós contemporâneos, com a entrega às gerações nossas sucessoras de um Planeta que lhes garanta as condições para uma vida boa. E aqui é oportuno recordar a frase célebre de alguém: «O Planeta não nos pertence; foi-nos emprestado pelos nossos netos». Se atentarmos bem no título da obra, vemos a presença nele do termo “permanência”. Este termo aponta semanticamente para o futuro. É nossa “responsabilidade” tudo fazermos para garantir a permanência da vida na terra. O que, atendendo à situação global actual, e à acção do Homem – no plano individual mas sobretudo à inacção, de todo irresponsável, dos detentores do Poder – de todos os poderes, desde os poderes políticos aos económicos e empresariais – essa “permanência (futuro) da vida na Terra” não está garantida.

Ao longo das recentes eleições para as autarquias, ficou bem evidente e patente que os desafios climáticos que impendem sobre nós e que ameaçam as gerações nossas sucessoras não mereceram, nem de perto nem de longe, a atenção e o cuidado que se exigia. É verdade que o Princípio Responsabilidade se aplica a cada um de nós individualmente. Mas é sobre os responsáveis políticos – do Poder central e do Poder Local – e também sobre os dirigentes do mundo das corporações empresariais que impende a Responsabilidade maior e decisiva. Pelo que vimos e ouvimos na chamada campanha eleitoral e das diferentes candidaturas, o assunto ainda não penetrou nos espíritos. E não foi por falta de temas sempre associáveis às alterações climáticas: a Mobilidade, a Habitação, a Eficiência Energética nos edifícios públicos, os sistemas de Transporte grandes responsáveis pelas emissões.  Esforçando-se por disfarçar, no fundo, no fundo, os responsáveis políticos e autárquicos continuam reféns de um mundo e de um Paradigma Económico-Social que estoira nos seus alicerces e mantêm-se distantes, muito distantes, de assumirem as suas Responsabilidades. Deveriam ler Hans Jonas…

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