Foi um momento de partilha o que aconteceu na noite de dia 10, no Teatro Municipal da Covilhã, durante o I Concerto Multicultural da Beira Interior “Caixa de Música Sons do Mundo”, que contou com a participação de 46 crianças, entre as quais 34 imigrantes residentes na Covilhã que deram a conhecer um pouco da sua cultura e ensinaram o Coro Misto da Beira Interior e os restantes a cantar em dialeto.
As crianças representaram Moçambique, Brasil, Colômbia, Nigéria, Equador, Angola, Cabo Verde e Portugal e, através da música, trocaram algumas das riquezas culturais.
Giovanna Coronel, de 11 anos, nasceu em Portugal, filha de pais de Cabo Verde, e foi com emoção que ensinou crioulo aos colegas de palco e, juntos, cantaram “Sodade”, de Cesária Évora, com um arranjo especial.
“Foi tudo ótimo. É bom conhecer outras culturas, outras línguas e novas pessoas”, disse no final ao NC.
“A missão é simples, mas poderosa. Promover a integração, a inclusão e a coesão social através da música, da cultura e da expressão artística”, disse Neto Freire, provedor da Santa Casa da Misericórdia da Covilhã, entidade promotora do projeto.
O responsável explicou que, durante vários meses, crianças e jovens, entre os 6 e os 23 anos, vindos de diferentes países, escolas e realidades, juntaram-se em ensaios, oficinas e momentos de partilha, trouxeram os seus ritmos, as suas histórias e transformaram tudo isso em música, num espetáculo dirigido pelo maestro Luís Cipriano.
“Acreditamos que projetos como este fazem a diferença. Quando colocamos a arte ao serviço da inclusão, da autoestima e da valorização da diferença, estamos a construir uma sociedade mais justa, mais coesa e mais humana”, salientou Neto Freire.
Segundo o provedor, a diferença foi a cola do processo e um fator de união para a construção de um espetáculo que encheu a sala do TMC, no âmbito de um projeto que terá outras vertentes e atividades.
Luís Cipriano explicou que o que fez foi tentar aproveitar o que cada um sabia fazer melhor, porque “a música é igual em todo o lado, um dó afinado tanto o é numa marimba, como numa orquestra ou em outro lado qualquer”.
“Uns cantam bem, outros ritmicamente são bons e, portanto, foi colocá-los nos sítios onde musicalmente eles poderiam ser mais úteis”, acrescentou o maestro, que transmitiu já ter pisado palcos pelo mundo inteiro e dirigido muitos concertos e “este foi dos que mais deu prazer fazer”.
A diferença foi a força motriz para um espetáculo fora do comum na Covilhã.
“Muitos destes miúdos, se calhar, pensavam que o projeto era para os aculturar. Ou seja, era para nós lhes impingirmos a nossa cultura e não, o objetivo foi precisamente o contrário, foi aproveitar a cultura deles para nós também aprendermos”, acentuou Luís Cipriano.
Segundo o maestro, o que foi visto em palco foi uma viagem “passando por vários países, por vários estilos, por vários dialetos”. “Tanto o Coro Infantil como o Coro Misto cantaram em dialetos, que era uma coisa que nunca lhes tinha passado pela cabeça”, acrescentou.
“Se pensarmos numa orquestra, resulta porquê? Porque tem instrumentos completamente antagónicos, com timbres completamente diferentes. Por isso é que há obras incríveis, porque é o aproveitar das diferenças. Aqui foi o exemplo da conjugação das diferenças que resultou neste concerto, porque se fôssemos todos iguais isto tinha sido uma seca”, rematou o maestro.
As crianças imigrantes participantes não tinham formação musical e Cipriano adiantou que há alguns que vai convidar para o Coro Infantil da Beira Interior. “As coisas podem tomar outros rumos, não têm de acabar aqui”, frisou.
A vereadora com o pelouro da Cultura na Câmara da Covilhã, Regina Gouveia, manifestou o “orgulho” do município pelo espetáculo.
“Esta Caixa de Sons não é apenas de Sons do Mundo, é de pessoas, dos seus saberes, das suas alegrias, das suas expetativas, das suas tristezas. A arte põe todos em diálogo”, vincou a autarca.