Graça Rojão
Directora Executiva da Coolabora
A Câmara da Covilhã decidiu homenagear 3 instituições e 12 homens no Dia da Cidade. Não vou contestar a escolha das pessoas homenageadas porque essa discussão nos distrai do essencial e, aliás, algumas das escolhas merecem todo o respeito. O que me parece verdadeiramente escandaloso é a decisão de homenagear 12 homens. Se fossem 12 mulheres, claro está, não faltariam vozes a assinalar o incómodo causado por uma injusta escolha.
A Câmara da Covilhã, desta forma, age em contracorrente com aquilo que inúmeros organismos internacionais, como é o caso da ONU ou da União Europeia, e das próprias orientações nacionais têm seguido, em favor de medidas justas para todas as pessoas, nomeadamente para as mulheres que, sublinho, são mais de metade da população.
Na verdade, também foi assim com as quotas que obrigaram à “paridade” nas listas partidárias. Sem essas exigências legais, continuaríamos com as tais listas onde “mulher não entra” ou, se entra, fica num lugar muito secundário, mas útil porque é sempre preciso alguém para secretariar, arrumar salas ou colocar os copinhos de água na mesa das reuniões.
Qual será a mensagem que esta decisão da autarquia comporta para as raparigas e os rapazes do concelho? Que as mulheres não têm mérito? Que o espaço delas é a casa? Que podem ter um salário, desde que continuem a tratar da casa e não queiram disputar um lugar no espaço público? Ou será que a mensagem que leem neste gesto é que a autarquia fez uma escolha injusta porque exclui metade da sua população e contribui para perpetuar estereótipos e discriminações?
Ao invés de promover políticas justas que contrariem essa visão patriarcal que desvaloriza sistematicamente o papel das mulheres na esfera pública, a autarquia toma uma decisão bafienta, que parece anterior ao próprio 25 de Abril e que nos envergonha a todas e a todos, especialmente no ano em que celebramos 50 anos de Abril.
O convite público para que a população participe numa cerimónia de homenagem a pessoas que, segundo é afirmado, são “faróis para todos nós”, mostra que a autarquia não esteve à altura do momento e contribuiu para reforçar uma cultura machista, na qual creio que a maioria das mulheres e dos homens do concelho já não se reveem.