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José da Costa

Carlos Madaleno

(Historiador)

José da Costa era filho do amor ilícito entre Elizabete Nunes e Brás da Costa Cabral, homem muito reputado na Covilhã. Brás da Costa Cabral, era filho do Capitão Diogo Fernandes Botelho que foi oficial na Praça de Almeida, tabelião judicial da Vila da Covilhã e provedor da Misericórdia da Covilhã, em 1656/1657.

Advinha-se que José da Costa não terá tido as mesmas regalias dos meios-irmãos mais novos, filhos de Maria Mendes, esposa legítima de Brás da Costa, Pedro e Manuel, ambos padres, sendo o último licenciado. Ainda assim, conseguiu o lugar de alcaide do juiz de fora, de São Vicente da Beira. Foi nesta Vila, que José da Costa se apaixonou e casou, passado um ano, em 1694, com Maria Nunes, já viúva e conhecida pela alcunha de Fanenga. Com ela viveu oito anos e teve dois filhos, António e Josefa. Entretanto, José da Costa deixou-se arrebatar pela beleza e juventude de uma sobrinha do juiz de fora e com ela fugiu. Foram, porém, apanhados, a mando do magistrado, e enviados à Correição de Castelo Branco. Foi daqui que José da Costa se evadiu para Lisboa.

Na Capital, José torna-se malsim ou zelador da almotaçaria (fiscal aduaneiro). Decide então refazer a vida, e porque se considerava longe dos que conhecera na Beira, contorna as leis e, em abril de 1702, casa de novo com Ana Maria, uma moça que exercia a atividade de tendeira e era natural de São Sebastião, termo de Torres Vedras. Deste casamento tem três filhos, um dos quais acaba por falecer.  A vida terá prosseguido com normalidade até que, quinze anos volvidos, o padre André Lopes de Andrade, natural de Penha Garcia, antigo pároco de São Vicente da Beira, e agora da freguesia do Salvador, de Lisboa, o denuncia à Inquisição pelo crime de bigamia. De imediato a engrenagem do Santo Ofício entra em ação, sendo expedidos para o comissário Francisco Manoel, arcipreste da Covilhã e prior de Santa Maria Madalena, os interrogatórios que se haviam de realizar em São Vicente da Beira. Aí são ouvidas testemunhas cruciais como Maria Nunes, primeira mulher de José da Costa, ou o padre Vicente Vaz que celebrara o casamento. Na Capital testemunham ainda contra José da Costa Maria Micaela, viúva do juiz de órfãos de São Vicente da Beira, que afirmou que “um moço pardo que ensinava a tanger viola” lhe perguntou se Maria Nunes era ainda viva, explicando-lhe depois as razões de tal pergunta.

José da Costa haveria de se confessar culpado, argumentou querer preservar a dignidade da última mulher. De alguma coisa lhe valeriam as atenuantes apresentadas, ser cristão velho, batizado em São João de Malta, crismado em Santa Maria por D. Rodrigo de Moura Teles e apadrinhado por José Temudo Cabral.  Foi sentenciado em auto-da-fé de 24/10/1717, sendo condenado a abjuração de leve, instrução na fé, penas e penitências espirituais, pagamento de custas e ainda ao degredo para o Brasil pelo tempo de cinco anos.

A partir daqui mais não apurámos sobre a sua vida, talvez tenha encontrado nova companheira para reiniciar a vida no Novo Mundo.

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