O Tortosendo pretende ser o local de partida do KM ZERO, projeto que alia o turismo ferroviário à natureza e à prática desportiva, que tenciona ligar todo o concelho através de uma rede de percursos para o BTT, caminhada, ciclismo e trail e que valorize o património histórico, industrial, cultural e natural do concelho.
Na primeira fase do projeto, desenvolvido por um cidadão da vila, Óscar Ascensão, e acolhido pela Junta de Freguesia, foram identificados 803 quilómetros de novos percursos no concelho, 73 deles no Tortosendo, que vão ligar, em linhas circulares, aos já existentes em locais como Verdelhos, Cortes do Meio, à Grande Rota do Zêzere ou aos que estão a nascer no Couto Mineiro, explica ao NC o impulsionador da ideia.
O plano desenhado prevê a reconversão do edifício da Estação ferroviária num Centro de Boas-Vindas, onde seria o KM ZERO, a partir de onde se podem sair para todos os percursos, a criação de alojamento, área social e um edifício de apoio e arranjo de bicicletas.
Para o logradouro está prevista a instalação de cinco a seis vagões prestes a serem abatidos, e que podem ser adquiridos por cerca de 56 mil euros, para os utilizar como restaurante, cozinha e transformá-los em quartos para os turistas que venham conhecer o concelho através do desporto e do contacto com a natureza.
Outro dos planos passa pela cedência da antiga Escola do Casal da Serra, com duas salas, à Junta de Freguesia, para aí serem criadas camaratas e três quartos triplos, de forma a funcionar como casa de abrigo para os caminheiros ou atletas.
Óscar Ascensão afirma-se um “indefetível amante da ferrovia”, conta que o projeto representa um trabalho que leva de três anos de identificação de percursos, de recurso a especialidades técnicas, frisa que esta é uma forma de potenciar o turismo na região, que a rede contempla o concelho de norte a sul e está pensada para ter várias portas de entrada na Serra da Estrela.
“A Serra da Estrela não existe em mais lado nenhum. Todos podem fazer piscinas, estádios, mas não têm o enquadramento, as montanhas que nós temos no concelho e há que saber tirar partido do que a natureza nos dá”, preconiza Óscar Ascensão, segundo o qual o projeto pode ser candidatado à linha de financiamento Interior +, a componente própria é “relativamente baixa para o que se tem a ganhar” e insta as entidades a aproveitarem os fundos o PRR. “Quanto mais cedo se avançar, melhor”, defende o proponente da ideia. Que disse ter notado “toda a abertura para se avançar” quando reuniu com a Câmara da Covilhã e a Junta de Freguesia (JF) do Tortosendo.
O vereador com o pelouro do Turismo, José Miguel Oliveira, disse ao NC que, “nesta fase, não pode ser o município o promotor, uma vez que não é elegível para esta candidatura, porque já tem outras em execução”, mas acrescenta que incentivou a Junta de Freguesia a avançar e, havendo necessidade de financiar uma componente própria, “o município não deixaria de estar, como está em outros projetos, e de apoiar”.
“O projeto reveste-se de potencialidades muito interessantes no turismo, faz a ligação entre o comboio, a bicicleta, os percursos pedestres. O que dissemos à JF nessa reunião é que obviamente o município estaria ao lado da JF, mas que esta deveria fazer uma candidatura ao Turismo de Portugal, aproveitando até a linha de financiamento que está aberta para projetos de valorização turística no Interior”, explica o autarca.
David Silva, presidente da Junta de Freguesia do Tortosendo, considera o projeto “uma forma de promover a riqueza do concelho” e, dos cerca de 1,5 milhões de investimento global, é necessário um “investimento avultado” próprio de cerca de 700 mil euros, para o qual se está “à procura de parceiros”.
“Estamos a trabalhar numa candidatura a fundos comunitários para este projeto, que será apresentada no decorrer deste ano. Vamos encontrar parceiros que validem o interesse deste projeto”, realça David Silva, segundo o qual seria importante para já, para dar “mais um passo para o futuro”, assegurar a compra dos vagões que vão ser desmantelados pela Medway. “Aguardamos apoio para a compra dos vagões, de 56 mil euros, para se avançar para os passos seguintes”, acrescenta.
Segundo David Silva, a Junta de Freguesia conversou com a Infraestruturas de Portugal e existe uma minuta para a cedência do edifício da estação, um procedimento administrativo para formalizar a utilização do espaço. No caso da antiga Escola do Casal da Serra, vai ser pedido ao município que seja cedida à Junta de Freguesia para o efeito.
“O KM ZERO já é uma realidade. Despertou-nos para o turismo ferroviário, que está em franco crescimento, mas não depende exclusivamente da Junta de Freguesia”, refere o presidente, que afirmou que o município está a “olhar para ele com a satisfação que é devida” e espera que a Câmara Municipal “se junte” num projeto “a médio-longo prazo”.
Óscar Ascensão afirma que dentro de cinco anos se pode potenciar a dinamização turística das freguesias da Covilhã a partir desta âncora e afirmar o KM ZERO como uma das cinco marcas de referência nacionais enquanto destino de turismo, desporto e natureza.
O valor estimado para a requalificação da Escola do Casal da Serra é de 400 mil euros, o da criação do ‘Welcome Center’ na Estação é de 350 mil e o da preparação e certificação dos percursos 400 mil euros.