Ligeira diminuição nos casos de violência doméstica na Cova da Beira

Gabinete da Coolabora acompanha 245 vítimas adultas e 114 crianças e jovens

Apesar de uma “ligeira diminuição” dos casos de violência doméstica, a nível nacional, e no próprio distrito, segundo dados do Relatório Anual de Segurança Interna, mantêm-se “números significativos” na área de abrangência do Gabinete de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica da Coolabora, a Cova da Beira (concelhos de Covilhã, Fundão e Belmonte).

Esta entidade de intervenção social acompanha, neste momento, 245 pessoas adultas com apoio psicológico, informação jurídica e encaminhamento social), um número que decresceu face a 2024, em que foram acompanhadas 259 pessoas. Neste momento, o sexo feminino representa a maior percentagem de situações (90,2%), sobretudo na faixa etária entre os 35 e 55 anos (42%), com as vítimas entre os 18 e 35 anos a representarem 28,6% dos casos. “A violência é maioritariamente praticada na relação de intimidade (34%) ou após o seu fim (39,2%). A violência física e psicológica aparece agregada em 70,2% das situações e continua a registar-se um aumento da violência sexual, que está presente em 20,4% dos casos”, salienta a Coolabora. A instituição realizou até outubro 847 atendimentos presenciais, 151 planos individuais de segurança e 1053 articulações com entidades parceiras e a Rede Violência Zero.

Já no que diz respeito às crianças e jovens, no ano passado a Coolabora acompanhou 112 crianças. Este ano, ligeiro aumento para 114, que beneficiam de apoio psicológico e psicoterapêutico. Destes, 65,7% são meninas ou raparigas. “Só nos primeiros 10 meses de 2025 foram realizados perto de 700 atendimentos. A faixa etária predominante é dos 6 aos 12 anos (50%), seguida dos 13 aos 18 (41%) e dos 0 aos 5 (9%)” explica a Coolabora, que adianta que na maioria dos casos a pessoa agressora é o pai (57%) ou o padrasto (17%). Quanto ao tipo de agressão, a psicológica “está presente em todos os casos”, seguida da física (33%) e sexual (10%). Entre os jovens, foram realizados até outubro, 691 atendimentos, e encaminhadas no âmbito da Rede Violência Zero 86 crianças e adolescentes, “o que ilustra bem a importância do trabalho em rede”, salienta a Coolabora.

Na passada semana, de forma a assinalar o Dia Internacional para a eliminação da violência contra as mulheres, decorreram algumas iniciativas. Uma na Câmara, promovida pela Coolabora, onde se mostraram estes números, e na qual o autarca covilhanense, Hélio Fazendeiro, disse ser fundamental reforçar o compromisso de toda a comunidade na prevenção, denúncia e erradicação da violência contra as mulheres. “Só com trabalho contínuo e articulado será possível construir uma sociedade verdadeiramente segura, justa e igualitária”, salienta o autarca.

Não aceitar que seja normal

Na UBI, decorreu também o quinto seminário “Violência doméstica: Hora de atuar”, promovido pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) da Covilhã, que em 2024 acompanhou 341 processos de promoção e proteção, com 71 deles a dizerem respeito a violência doméstica. Números que, segundo Solange Franco, presidente da CPCJ, devem “preocupar a todos”.

Carlos Diogo, Procurador da República, lembrou que este ano já morreram 24 mulheres devido à violência doméstica, que existem hoje cada vez mais processos em tribunal face a este fenómeno, e que a Covilhã não é exceção, tendo mesmo “casos bastante graves” e números a aumentarem.

João Santos, comandante do destacamento da GNR da Covilhã, salientou que “uma boa parte” do porte criminal desta força da ordem se deve a um “atualizar do fenómeno”.

Maria João Fernandes, vice-Presidente da Comissão Nacional de Promoção de Direitos e Proteção de Crianças e Jovens, pediu aos jovens para serem “areia na engrenagem” da violência, que não se pode “aceitar, nem normalizar”.

APAV a apoiar mais mulheres

Segundo a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), o número de vítimas, do sexto feminino, que apoio aumentou mais de 11% nos últimos três anos, a maioria (85%) por violência doméstica, contrariando a expectativa da associação de descida ou estabilidade destes valores.

Os dados sobre “Vítimas no Feminino — Estatísticas APAV 2022-2024″, divulgados no Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, revelaram que, entre 2022 e 2024, a APAV acompanhou 36.489 vítimas do sexo feminino.  Em 2022, foram apoiadas 11.410 mulheres, número que subiu para 12.398 em 2023 e para 12.681 em 2024. No mesmo período, foram registados 70.179 crimes e formas de violência, um aumento de mais de 10% entre 2022 e 2024.  Em média, a APAV apoiou 20 mulheres por dia com idades entre os 18 e os 64 anos, faixa etária que representa mais de 60% das vítimas. Além disso, foram identificados pedidos de ajuda para 5.451 crianças e jovens até aos 17 anos, bem como 3.765 mulheres com mais de 65 anos.

Daniel Cotrim, da APAV, lamenta que não haja “uma tendência ainda de descida, que era aquilo que nós esperaríamos que acontecesse”.  Mas reconhece que o facto das mulheres estarem “mais informadas” e atentas aos seus direitos, faz com que tenham coragem de saírem de relações abusivas de violência, em contexto de intimidade. “E daí, obviamente, os pedidos de ajuda que fazem à APAV e o aumento destes pedidos”, defende.

Os dados da APAV sobre a pessoa agressora mostram que em 70% dos casos é homem, com idade entre 26 e 55 anos (29,7%), que está ou esteve numa relação de intimidade com a vítima (47,8%).

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