LIMPAR PORTUGAL

“Portugal podia, deveria ser uma comunidade magnânima, íntegra, aberta, tolerante, solidária. E sobretudo corajosa”

Esta ideia de que o país precisa de uma limpeza surge-me quase sempre que sintonizo a informação televisiva e dou de caras com aquela frisa antidemocrática – mesmo tendo sido eleita – na primeira fila parlamentar. Vou lá com um pano embebido em acetona e esfrego-o na cara daquela gente, passando com vigor vezes sem conta no ecrã do aparelho para tirar aquelas três nódoas. Como se faz com o verniz das unhas. Nada feito, verniz é coisa que por ali nunca existiu, e as manchas mantém-se, tendo mesmo tendência para se espalharem. Referi três porque são as mais notadas, pela vergonha que nos fazem passar ao ostentarmos aquelas marcas no quotidiano que envergamos. Repugno. A disseminação alastra, contamina o debate, atenta o conhecimento e o saber, e reduz a verdade a algo sem sentido. Magnanimidade é uma qualidade geralmente atribuída a uma individualidade. Grande, nobre, generosa. Muitas pessoas assim elevam o colectivo a um nível de realização assente na procura do bem, da excelência. Capaz dos maiores feitos, sobretudo do ponto de vista humano. Portugal podia, deveria ser tal e qual. Uma comunidade magnânima, íntegra, aberta, tolerante, solidária. E sobretudo corajosa. Sem medo de se bater por causas dignas. Ao invés, nos últimos tempos o país tem revelado uma insensibilidade pelos que sofrem, tem demonstrado como a mentira despudorada se instalou, e um incentivo ao ódio sem qualquer tipo de culpa. Um completo desprezo pela vida humana.

Tinha prometido a mim mesmo que não traria para as páginas deste nosso limpo jornal, algo que o pudesse manchar, mas cada vez que olhos adentro sou surpreendido pela dita frisa parlamentar, confesso que quase agonio. O chefe da trupe ambiciona a presidente do Conselho, já sonhou em representar a República, e os outros dois parceiros de bancada e de rodas de imprensa, imaginam-se, fruto da mania das grandezas e da fanfarronice, a liderar municípios com história e de vital importância para o desenvolvimento social, e para a imagem do país no exterior. Vá lá… tomo um Guronsan, e quando o princípio tóxico se afasta, dou por mim a pensar; será que alguém munido de sensatez, equilíbrio e competências analíticas, consegue vislumbrar nestes seres, aptidões para governar? Que me perdoem os milhares de seguidores desta gente, muitos não têm perdão caramba… mas para limpar mesmo o país, é por aqui, por dentro que devemos começar. Nós devemos lutar por uma sociedade do bem, solidária, tolerante, sentirmos orgulho na democracia como solução para um país respeitado, e não permitirmos que a violência, seja ela qual for, tome conta das nossas vidas. Temos de mostrar aos extremistas, racistas, xenófobos, misóginos, que o caminho que escolheram para chegar ao poder, é mentiroso, pouco honesto. Estes seres não são bem-vindos. Vamos limpar Portugal e, não conseguindo ao passar acetona pelos filmes diários, munamo-nos de instrumentos reais, legais e leais. As armas do voto.

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