Na tarde do último sábado, 17, os corpos de 47 voluntários, estagiários dos bombeiros e pais de cadetes e infantes, uns dentro de um autocarro, outros projetados para vários locais junto à saída da Covilhã para a Serra da Estrela, simularam um acidente num cenário complexo, com muitas vítimas e algumas em locais de difícil acesso. O exercício envolveu, durante duas horas e meia, mais de 200 operacionais de 29 entidades para que as diferentes equipas otimizem procedimentos caso um acidente real semelhante aconteça.
O coordenador municipal de proteção civil, Luís Marques, espera que tal nunca venha a ser necessário, mas, caso uma situação desta dimensão aconteça, afirmou que as entidades estarão mais preparadas, depois deste exercício no terreno.
“O objetivo era preparar e testar as equipas multidisciplinares de todas as entidades para que, se um dia acontecer, nós estejamos mais bem preparados para nos coordenarmos e trabalharmos em conjunto na resolução da situação”, disse o também comandante dos Bombeiros Voluntários da Covilhã.
Com o alerta dado às 15:30, o cenário planeado foram 47 vítimas, oito mortais, seis feridos graves, dez moderados, seis com ferimentos ligeiros e 17 ilesos, na sequência do despiste de um autocarro que descia a serra, perto do cruzamento para o Estádio Santos Pinto, devido a falha nos travões, por sobreaquecimento.
As sirenes soaram com insistência e viaturas de emergência circularam pela cidade para dar resposta à hipotética catástrofe. Luís Marques sublinhou que a ação levou meses a planear e que, após o exercício fora de uma sala, que permitiu um treino à escala real, se segue uma fase de avaliação, em que todas as entidades vão apresentar “um relatório com os pontos fortes e os aspetos a melhorar”, para que todos deem contributos e depois seja elaborado um relatório final.
“Não foi uma peça de teatro ensaiada, foi um exercício ao vivo e, claro, tem sempre as suas dificuldades e as suas falhas e é isso que também queremos agora fazer numa terceira fase, que é retirar lições e podermos, cada um de nós, melhorar a sua atuação”, frisou o coordenador municipal da proteção civil.
O grande desafio era trabalhar em conjunto, cada um com a sua missão, sem atropelos, para resolver “um cenário extremamente complexo, com tantas vítimas, com situações inusitadas”. As duas horas planeadas para retirar os sinistrados foram cumpridas e as três operações de resgate aéreo, com o helicóptero da Força Aérea, levaram mais meia hora.
“Isto levou ao treino de todas as entidades, e à melhoria de processos em diversas delas, para que, num cenário real, possam responder melhor”, realçou Luís Marques.
Segundo o comandante, numa formação idealiza-se, mas num simulacro “as pessoas têm de montar estruturas, de movimentar os meios, sentirem as dificuldades que se encontram no terreno”.
Na memória coletiva está o sinistro de 1987, na zona do Sanatório, quando uma excursão de Valbom, Gondomar, caiu numa ravina de mais de cem metros e provocou 19 mortos e 48 feridos. Na altura, a ajuda da população revelou-se importante.
Luís Marques lembrou que, à época, os Bombeiros da Covilhã tinham três ambulâncias. Numa situação real como o exercício testado na zona da Casa do Conde, o comandante recomenda à população que siga o máximo possível as indicações das autoridades e “não se movimente para o local”, para “não atrapalhar” e deixar os operacionais fazerem o seu trabalho.
Hoje a corporação tem mais de vinte ambulâncias, existem planos de contingência de várias entidades e “os agentes de proteção civil estão preparados para este tipo de situações, têm os seus planos já previamente definidos”, alertou. “Em condições normais, os meios de socorro conseguem responder”, acrescentou.