Sérgio Saraiva
Já lá vai mais de um século e dá impressão que foi ontem. Notícias da Covilhã saía à rua numa altura em que a tv ainda nem encaixotada se encontrava. Mesmo o rádio não era domínio de qualquer um, pois nem todos dele podiam usufruir ou porque não os havia à venda, ou porque tinham receio que fossem apanhados a ouvir coisas que não deveriam ser ouvidas e não era permitido mesmo escutá-las.
Notícias por escrito eram um luxo até porque nem todos dominavam a leitura e as letras gordas não eram tão bastas quanto isso.
Lembro-me, com alguma emoção, que a caminho da escola primária, por vezes, via uma velhota sentada, na soleira da porta, com o xaile pelos ombros, a desfolhar um jornal cujas letras não lhe eram muito familiares. Por isso uma vez me pediu para lhe ler as palavras mais gordas que estavam numa das páginas. E li-as, até porque já andava na terceira classe. Umas diziam Amigo da Verdade; outras, num outro jornal – Notícias da Covilhã.
Era neste jornal que estavam escarrapachados alguns nomes de terras vizinhas e onde estavam escritas notícias que a senhora gostou de ouvir.
Notícias da Covilhã era um pouco da vida de algumas comunidades bem próximas e foi dando vida a muitas delas com relatos de iniciativas que serviam de exemplo e motivação para atividades interessantes. Ainda hoje esse semanário continua a ser um eco de transmissão que dá conta da história de muitas comunidades das quais pouco se saberia se não fosse o sentido de divulgação de inúmeras realidades, que tanto podem ser pontos a seguir como elementos a apagar de cada mente. Aprender com o que é bom é de elevar, assim como evitar o mal é o que deveremos fazer quando a natureza das coisas é menos boa. Notícias da Covilhã continua a ser transportador de variadas dinâmicas cada qual em sua dimensão e eficácia. Continua a manter ainda, na alma das suas páginas, a história do nosso povo, sobretudo daquele espaço beirão que mais nos aproxima e cujos atos são sempre elementos que nos fazem vibrar e nos enriquecem a mente em muitos dos nossos aspetos. Ao Notícias da Covilhã continuamos a dever algo em termos de valorização concelhia e no campo dos ensinamentos sociais, culturais, ambientais, desportivos e de natureza religiosa.
Ao seu conselho editorial, diretor, colaboradores, correspondentes e demais familiares jornalísticos teremos que prestar as nossas devidas honras não perdendo de vista todos aqueles que deram corpo e alma ao que foi e é o Notícias da Covilhã em dias de hoje e a quem, ao longo de mais de século, deu muito do seu querer e saber para também fazerem de nós e das comunidades que nos envolvem, mais próximas e distantes, o que hoje somos em muitos dos variados aspetos.
Em mais de um século, algumas mãos e caras nos forneceram estímulos que não esqueceremos e que em nós cimentaram as páginas do semanário que ainda continua a ser um pouco de nós próprios, da realidade covilhanense em seus largos limites, sem esquecermos a Diocese da Guarda onde nos incorporamos.