Há quem queira cercear os direitos de terceiros, quem queira reprimir quem não é heteronormativo. Nota-se quando os cartazes que anunciam a terceira Covilhã a Marchar, no sábado, 8, às 15:00, são continuamente rasgados, quando as publicações de elementos da organização nas redes sociais são alvo de comentários de ódio, quando pessoas da comunidade LGBTQIAP+ ouvem comentários despropositados.
É para celebrar as conquistas, juntar a comunidade e quem se alia a ela, mas também para reivindicar o direito a poder estar tranquilamente no espaço público que se realiza, pelo terceiro ano, a Covilhã a Marchar, com saída do auditório do Jardim da Goldra, onde quem quiser pode fazer uma intervenção, até ao Pelourinho.
Catarina Taborda, uma das organizadoras do coletivo, salienta ao NC que “a lei tem sido cada vez mais inclusiva em termos de identidade de género e de orientação sexual, mas existe um problema de intolerância que está a crescer”. Se a legislação é evoluída, nem todas as mentalidades a acompanharam e isso “não se altera por decreto”.
Para dar visibilidade à causa, sensibilizar a sociedade e, num momento em que as pessoas LGBT+ sentem que há sinais de que há quem gostasse de implementar retrocessos, a comunidade e quem está solidário com estas preocupações junta-se sábado para ler um manifesto e fazer ouvir palavras de ordem.
“Nós não podemos parar de continuar a reivindicar, de dizer que temos direitos e não abdicamos deles”, frisa Catarina Taborda, uma das ativistas, que lembra que só em 1982 se descriminalizou a homossexualidade e foi necessário esperar muito tempo para quem não é heteronormativo ver reconhecida a sua essência.
A estudante observa que existe um conservadorismo latente, cada vez mais visível, que “mistura conceitos” e procura condicionar a vida das pessoas LGBT+. No parlamento, afirma, nota existir um número considerável de eleitos que estimulam essa postura e que legitimam ofensas. Existe o receio de que o discurso de ódio passe das palavras e das redes sociais para as ruas. “Isso é muito assustador. Conquistámos direitos, mas há muita gente que, à primeira oportunidade, os irá colocar em causa”, frisa Catarina Taborda.
“As pessoas têm de perceber que está na hora de nos acolherem e nos verem de forma igual. Nós não estamos a pedir direitos a mais, nós queremos apenas direitos iguais”, vinca a estudante, de 22 anos.
Daniela Carvalho, do mesmo coletivo, acentua que esta é uma iniciativa a que muita gente se juntou na primeira edição e a que todos se podem juntar, por entender que existem riscos de retrocesso e que é importante dar visibilidade a estas questões e promover a inclusão, porque podem não ser os próprios a ser alvo de opressão ou preconceito, mas algum familiar ou amigo.
Esta solidariedade e visibilidade pode ajudar crianças que crescem com receio de viverem como são, ou pessoas que não se sentem confortáveis num meio pequeno, mas também as famílias, quer as que dão apoio a sentirem que os seus filhos ou familiares estão seguros a viverem a sua vida, quer a ajudar outras a perceber que “é normal não ser heterossexual”, defende Daniela Carvalho.