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Marquês d’Avila e Bolama – Uma rua e 150 anos de história

Carlos Madaleno

Já grande parte dos covilhanenses se deve ter questionado sobre quem foi o Marquês d’Avila e Bolama e qual a razão de ter dado nome a uma artéria da Covilhã. Outros ainda, porque mais conhecedores da obra deste ilustre personagem do século XIX, se terão perguntado por que motivo se utilizou na designação desta rua o título de marquês e não de duque que foi a distinção nobiliárquica mais elevada atribuída a António José d’Avila.

Comecemos por resumidamente dar a conhecer António José d’Ávila, o Marquês d’Avila e Bolama. Nasceu na Horta, Faial e era filho de Prudência Joaquina e Manuel josé d’Avila, um casal que conseguiu reunir recursos para formar devidamente os filhos, economicamente remediado, mas longe de integrar a elite local. António José d’Avila, após completar os estudos no Faial, matriculou-se, com 15 anos, na universidade de Coimbra, em Filosofia. Nunca completou a formatura, não teve qualquer profissão liberal, atividade jornalística, ou carreira militar. Casou em 1850, com uma cantora de ópera, italo-austriaca, sem fortuna nem apelido. No entanto chegou ao mais elevado patamar que qualquer cidadão poderia ambicionar num país monárquico.

Em 1834, tornou-se deputado às Cortes pelo círculo dos Açores. Com o fim dos governos setembristas e subida ao poder do cartista Joaquim António Augusto de Aguiar, em 1841, torna-se Ministro das Finanças, cargo que manteve nos governos de Costa Cabral e do Duque da Terceira. Em 1857, com o Duque de Loulé volta a ocupar esta pasta. Em 4 de janeiro de 1868, foi chamado a exercer o cargo de Primeiro Ministro, era então Conde d’Ávila desde 13 de fevereiro de 1864. Este seu primeiro governo durou pouco, caindo em 22 de julho desse ano. Voltou a ser Ministro das Finanças, e de novo Primeiro Ministro entre 29 de outubro de 1870, e 13 de setembro, de 1871. Detinha então o título de Marquês d’Avila e Bolama desde 24 de maio de 1870, título com o qual havia sido recompensado pelo papel na resolução da querela com Inglaterra originada pela posse da ilha de Bolama na Guiné. Ora é neste período como Primeiro Ministro que terá uma relação mais direta com a Covilhã que apenas há nove dias havia sido elevada à categoria de cidade e ambicionava um conjunto de infraestruturas, algumas iniciadas neste período como o lanço da estrada real 55 entre a Covilhã e a Guarda.

Depois de sair do governo, Ávila tornou-se presidente da Câmara de Pares, o auge da sua carreira parlamentar. Em 1877 foi de novo chamado a formar governo e no ano seguinte foi agraciado com o título de Duque d’Ávila e Bolama. Morreu em 1881.

Quanto à rua Marquês D’Ávila e Bolama, corresponde ao troço da Estrada Real n.º 55 que atravessava a cidade, entre a Real Fábrica e a Fábrica Velha. O seu traçado estava definido desde janeiro de 1870, mas só em maio, de 1871 foi apresentado o orçamento das expropriações a realizar, o qual orçava em 15.305$35 réis. Este valor obrigou a Câmara à contração de um empréstimo de dez contos de réis, por 7 anos. Em 26 de junho, desse ano, era emitida uma portaria determinando o início das obras, logo que a Câmara adquirisse os terrenos. Regozijando-se com o facto, a edilidade emitiu um agradecimento ao par do reino, Vaz Preto Geraldes.

Os trabalhos da nova rua iniciar-se-iam, de forma solene, no dia 3 de julho de 1871, junto à igreja de S. Martinho e à propriedade de um outro par do reino, Francisco Tavares de Almeida Proença.

Devemos ter hoje em conta que quando falamos da inauguração de obras públicas para este período reportamo-nos ao início dos trabalhos e não à sua utilização pelo público. Assim, a nova rua foi inaugurada durante o Governo do Marquês D’Ávila e Bolama, recebendo por isso, e como forma de reconhecimento, a designação que ainda hoje mantém.
Para a posteridade foram colocadas quatro placas toponímicas em mármore com a inscrição “1871/ RUA DO MARQUEZ D’AVILA / E BOLAMA” Como é de resto compreensível, estas placas só foram colocadas após a conclusão dos trabalhos. Foi na reunião de Câmara, de 6 de novembro de 1873, que se deliberou a sua colocação juntamente com a lápide e coluna que assinalaria a inauguração dos trabalhos para a estrada das pedras Lavradas, ocorrida a 16 de outubro do mesmo ano. Foram mandadas talhar e gravar em Lisboa e custaram 2.500 réis cada. Presentemente na rua Marquês D’Ávila e Bolama já não existe nenhuma destas placas, estando apenas uma em armazém, a qual constitui um importante documento para a compreensão das relações entre os poderes Central e Local.

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