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Mercado Municipal: 80 anos de resistência

Entre reclamações sobre a falta de estacionamento, a qualidade dos produtos e o convívio que se faz sentir, o sábado é sempre dia cheio e o que mais se aproxima à praça “de antigamente”

“O dia 8 de dezembro de 1943 jamais será esquecido na Covilhã. É que a inauguração do Mercado Municipal constituiu um acontecimento extraordinário. Há muitos anos que a cidade não assistiu a um espetáculo tão grandioso e tão cheio de imponência e entusiasmo”. Começava assim a notícia que abria a edição do dia 19 de dezembro de 1943 do Notícias da Covilhã.

Passados 80 anos, as portas do mercado abrem-se, mas só é costume ver mais pessoas a comprarem os produtos aos sábados e há quem nunca tenha perdido essa tradição. É o caso de Sandra Coelho, 50 anos. Conta que vem ao mercado desde criança, que já era hábito fazê-lo com a sua mãe e que, depois, passou a trazer também os seus próprios filhos, para lhes ensinar o que é vir à praça.

“Temos de manter as pessoas que estão aqui. Se não, isto tudo desaparece”, explica Sandra. “O que o mercado tem de diferente é o convívio com as pessoas, o encontrarmos aqui o senhor António, a dona Maria”, vinca.

A problemática do estacionamento é o assunto que não quer calar e Artur Dias, 53, opina: “As pessoas habituaram-se a ter estacionamento até à banca de venda e isso é um erro. As pessoas devem andar a pé, faz muita falta. Temos transportes públicos à porta do mercado, e podem-se utilizar os transportes em vez do carro”.

Na banca de frutas está Sebastian Diamantidis, 30, a colocar os produtos escolhidos num saco. O italiano veio para a Covilhã porque queria “ser livre e experimentar um estilo de vida sustentável”, a principal razão que o leva a fazer compras em lojas locais. “Eu gosto muito do mercado, os produtos são bons, baratos, e eu quero falar com as pessoas e melhorar o meu português”, acrescenta.

A fazer negócio enquanto dão dois dedos de conversa, estão Lurdes Pinheiro e Rosa Pinto, ambas de 70 anos. Rosa vende no mercado e o seu espaço já é uma das paragens habituais de Lurdes. “Venho todas as semanas ao mercado, porque na praça as nossas quinteiras têm produtos mais naturais do que os do supermercado”, afirma Lurdes. “Há muitos anos que cá compro, já sabemos onde ir e o que escolher, temos as nossas pessoas amigas a quem compramos e até regateamos o preço”, brinca a compradora.

Rosa vende no mercado há 46 anos e confessa que o continua a fazer porque necessita do dinheiro. “A reforma é pequena, não é com 345 euros que a gente consegue sobreviver. Vender aqui torna-se um complemento para ganhar mais algum dinheiro”, diz.

Segundo noticiou o NC em 1943, a construção do mercado custou 2.637 contos. Muitas pessoas defendem que o edifício precisa de uma remodelação. “Podiam fazer obras, já está a precisar”, explica Otília Marques, 58. “Já há muitos anos que a praça é assim, precisa de ser renovada, para chamar a atenção e trazer mais pessoas para cá, porque há pouca gente nova a vir comprar aqui, é muito raro. Se me saísse o Euromilhões, pagava eu as obras do mercado”, brinca a senhora.

O mercado municipal foi inaugurado às 14:30 do dia 8 de dezembro de 1943 e, 80 anos depois, o desejo que se pede, é que mais pessoas jovens comprem na praça e lhe deem uma nova vida.

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