Procurar
Close this search box.

Mergulhar no mundo virtual para preparar para a vida real

Projeto Vision visa proporcionar formação profissional em seis áreas nos estabelecimentos prisionais recorrendo a ferramentas digitais e à realidade virtual

Recorrer à realidade virtual, proporcionar uma experiência o mais imersiva possível, para simular diferentes ambientes, e criar cenários práticos de aprendizagem que tornem mais atrativa a adesão dos reclusos aos programas de formação, para os capacitar para quando saírem da cadeia, é o objetivo do projeto Vision, liderado pela Universidade da Beira Interior (UBI) e com parceiros de mais cinco países na fase de desenvolvimento e testagem desta ferramenta.

A ideia é que os detidos possam por uns óculos de realidade virtual que os transporte para um ambiente o mais realista possível e, sem saírem das instalações prisionais, poderem aumentar as suas competências em várias áreas, com recurso às tecnologias.

O Vision (Visualising the Future Through Training) concebeu três plataformas digitais para este tipo de instituições e foram criados, até ao momento, seis cenários diferentes, que permitem frequentar, virtualmente, cursos práticos.

“Somos uma rede de parceiros e o objetivo por trás do projeto é construir mecanismos digitais e virtuais para aumentar a adesão aos programas de educação de formação profissional dos reclusos”, explica, ao NC, o investigador principal, Bruno Silva.

Já na reta final, uma vez que o projeto estará concluído até ao final do mês, o Vision passou por uma primeira fase de testes, com os profissionais das instituições, um passo que “serviu essencialmente para validar o sistema”.

O professor do Departamento de Informática da UBI acrescenta que, neste momento, está a ser testada a plataforma de treino dos profissionais, para aprenderem a utilizarem os sistemas de realidade virtual na aprendizagem dos detidos. Esta sexta-feira tem início a última fase de testes, que é o treino com um grupo entre 15 a 25 reclusos. No caso de Portugal, do Centro Protocolar de Formação Profissional para o Setor da Justiça de Alcoentre.

“As estatísticas mostram que os reclusos, quando os frequentam este tipo de programas de educação e formação profissional, reduz para metade, por exemplo, a taxa de reincidência, aumenta muito as hipóteses de conseguirem um emprego após a libertação”, salienta Bruno Silva.

Além de Portugal, estão envolvidos parceiros de Espanha, França, Itália, Grécia e Roménia, empenhados na experiência de formar profissionais para utilizar esta metodologia e utilizar os recursos pedagógicos desenvolvidos.

Para já, ainda não há conclusões a retirar, mas o investigador principal sublinha que, das primeiras aferições feitas ao sistema, é possível fazer projeções.

“É mais uma expectativa do que uma conclusão. A expectativa é que a imersão e a atratividade destes programas de educação aumentem. Acho que os reclusos vão ter mais curiosidade em frequentar estas ações de formação desta forma”, antecipa Bruno Silva.

Os dados indicam que a maioria dos reclusos tem baixos níveis de escolaridade, falta de competências profissionais, de motivação, e alguns podem ter dificuldades de aprendizagem, desvantagens que aumentam o risco de reincidência e limitam as perspetivas no mercado de trabalho, o que pode perpetuar o ciclo de exclusão social. O Vision foi concebido para integrar a realidade virtual nos programas de ensino e formação profissional e aumentar o leque e a forma como os detidos podem aceder a essa oferta.

Numa primeira fase foi desenvolvida uma ferramenta que os serviços prisionais podem utilizar para avaliar a motivação dos reclusos e incentivá-los a aderir aos programas de formação. O projeto também criou os cenários virtuais, com recomendação de estratégias adaptadas ao perfil de cada recluso, e um manual do utilizador do programa.

A UBI é responsável pela “investigação e desenvolvimento” e pelo projeto passaram vários investigadores.

Embora nos Estados Unidos já existam plataformas digitais com o mesmo propósito, Bruno Silva destaca a introdução da realidade virtual em contexto de formação como a “parte inovadora do projeto”.

O professor da UBI dá o exemplo do curso de culinária. “Os reclusos colocam uns capacetes de realidade virtual e frequentam o curso de forma virtual, mas imersiva”, salienta o investigador, que garante estar assegurada a componente prática com recurso á tecnologia, como foi possível verificar na demostração já feita na área da culinária.

“Somos um reflexo do mundo tridimensional. Neste momento, o contexto virtual é o mais perto do contexto físico e do contexto real”, reforça o responsável.

Bruno Silva pormenoriza que os projetos criados no âmbito do Erasmus + não visam necessariamente a transferência tecnológica, uma vez que a missão é, essencialmente, aproximar comunidades, países e investigadores, mas o professor espera que a solução em que se está a trabalhar possa ter aplicabilidade no mercado, até porque há empresas da área envolvidas, como a IPS – Innovative Prison Systems ou a InKlusion, ambas com sede na Covilhã.

O projeto termina no final de abril e aplicar estas plataformas nos estabelecimentos prisionais, comercializar o produto, implica chegar a acordo com as instituições e estas adquirirem os óculos de realidade virtual e o programa de formação.

Da Roménia faz parte do Vision o Centro Penitenciário de Iasi, de Espanha o Centre d’Iniciatives per a la Reinserció, de Itália o Istituto Religioso di Formazione e Istruzione Professionale e da Grécia o Athens Lifelong Learning Institute.

Em conjunto com os parceiros portugueses, pensaram numa forma de aumentar o sucesso da preparação dos reclusos para a integração no mercado de trabalho, capacitando-os através de ferramentas virtuais, para quando saírem do mundo paralelo em que se encontram não terem um choque frontal com a realidade que vão enfrentar.

VER MAIS

EDIÇÕES IMPRESSAS

PONTOS
DE DISTRIBUIÇÃO

Copyright © 2024 Notícias da Covilhã