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Mobilidade no Interior

Luís Garra

Sindicalista

Após o anúncio da redução do preço das portagens por parte do governo, por coincidência, ou talvez não, reapareceu a campanha anti-abolição das portagens no Interior, assente em duas ideias: a primeira é fazer passar a ideia de que o aumento do IUC para os automóveis anteriores a 2007 é para os ricos não pagarem portagens; a segunda é dizer que a solução não está na redução do preço das portagens, mas num investimento claro e significativo no transporte público, já que os carros poluem.

As duas ideias, parecendo diferentes, visam o mesmo objectivo de ajudar o governo a manter as portagens, isto porque: a primeira ideia é malévola e mentirosa, pois, como se sabe, o aumento do IUC é justificado pelo governo (infamemente justificado) por razões ambientais e de segurança e não para compensar os custos com a redução das portagens. É o que está no Orçamento de Estado para 2024. Se assim é, porque mentem? Eu calculo o porquê. A segunda é mais dissimulada, mas é igualmente malévola, e aponta-nos o caminho dos amanhãs que cantam. Do tipo “continuem a pagar as portagens que os transportes públicos rodoviários e as ligações ferroviárias rápidas e a preços compensadores estão aí ao virar da esquina.”

Ora importa desmistificar alguns dos argumentos que os segundos emitem. Vejamos. No que toca à questão ambiental importa assinalar que, num quadro em que não há alternativas e os tais transportes públicos rodoviários e ferroviários são uma miragem, o pagamento das portagens tira os automobilistas da A23, A24 e A25 para as estradas nacionais e para o atravessamento de aglomerados urbanos (aldeias, vilas e cidades), deixando de poluir nas auto-estradas para irem poluir directamente junto das populações e aumentar a sinistralidade, como é óbvio e de ciência certa.

Quanto ao argumento dos transportes públicos mais rápidos importa dizer que eles, a não ser na imaginação fértil dos que o dizem e escrevem, não existem, os que existem são escassos, pois há concelhos e outras localidades que não têm rede de transporte público com horários acessíveis e regulares, as ligações ferroviárias são caras e escassas e quem tiver assuntos a tratar (por exemplo de saúde, familiares, ou de negócio, etc.) em Lisboa, Porto ou Coimbra tem de ir na véspera ou regressar no dia seguinte com custos de alojamento e alimentação.

Por outro lado, lembro que o governo prometeu apresentar um Plano de Mobilidade para o Interior e até ao momento não o fez. E o que fez foi dar às empresas transportadoras de passageiros o dinheiro que devia ser para diminuir o preço dos passes sociais dos utentes e dos demais transportes públicos. Pagamos passes sociais mais caros que em Lisboa e Porto. Esta é a realidade. Por isso, dizer que se continue a pagar portagens, mesmo não tendo as alternativas e o tal transporte público (que não temos e vai demorar a ter) é, para ser benévolo, uma opinião que só pode ser interpretada como deslocada da realidade, sendo, por isso, uma opinião que, mesmo que involuntariamente, só serve às concessionárias e às PPPs. E que prejudica o Interior.

Como nota final direi que o atraso estrutural deste país está intimamente ligado aos que de vários quadrantes e pelos vários meios se unem contra o desenvolvimento do Interior e por isso querem manter as portagens. Olhemos para a nossa vizinha Espanha que estava a ser apertada para impor as portagens em 2024 e desistiu dessa ideia.  Combater o atraso é uma tarefa difícil, mas é aliciante!

 

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