Está na hora da brincadeira, e já sabemos que a brincar, a brincar…
Eu podia muito bem processar o duo de cantores que dá pelo nome de Os Anjos. E não só eu. Qualquer português, daqueles de bem que estão agora na moda, e que sentem “A Portuguesa” como um símbolo alienável da identidade nacional. E nesse sentido ficam com “pele de galinha” cada vez que a ouvem. Cada vez que a ouvem bem interpretada naturalmente, tecnicamente audível, e bem embrulhada num ambiente com superior carga emotiva. Ora na pista algarvia de motociclismo não foi o caso, não estava lá nada disso, bem pelo contrário. A dupla de cantores contratada para entoar a obra escrita pelo poeta Lopes de Mendonça e composta por Alfredo Keil pôs-se a inventar, o som do registo de vídeo estava uma bosta, e o resultado foi o que se (não) ouviu. Antes de passar ao que aconteceu a seguir, posso escrever sem problema, que o humor de Joana Marques não é propriamente a minha praia. A maior parte do seu reportório faz jus ao nome da rubrica que apresenta na Emissora Católica. É desagradável. Puxa muito pouco pela criatividade, abusa da piada fácil, apostando muito em amplificar atitudes e comportamentos de outras personagens da vida pública. Não é exclusivo da humorista, estende-se a um sem número de “piadistas” do audiovisual nacional. Mas bom… são gostos. E já se sabe, gostos não se discutem, aceitam-se. Ou não.
Depois há também a falta de gosto, bem patente na cantoria de Portimão em 2022. Vai daí aos “despois”, a pequena locutora da Rádio Renascença, fez (ou tentou fazer) uma piada com aquilo, manipulou o mau vídeo- coisa que anda meio mundo a fazer- intercalando cenas da angélica interpretação com expressões de elementos do júri de um concurso de televisão de que Joana Marques fazia parte. Pegou no produto final, edição de qualidade muito duvidosa, sejamos honestos, e pendurou-o num sítio em que estivesse bem visível, e onde muita gente costuma pendurar as coisas pessoais, a que naturalmente acha muita piada. A conta da rede social Instagram. O resultado foi igual aos ataques às centrais nucleares do Irão pelas tropas de Trump, “pessoazinha” que também se tem em muito boa conta. Um sucesso. Milhares de visualizações e comentários para todos os gostos. Ou seja, quase todo o mundo “papou a cena,” menos os visados, que não terão gostado da brincadeira de Joana, exigindo um pedido público de desculpas para minimizar os estragos que, segundo os próprios, foram avultados. Reputacionais e financeiros. Risota pegada. Como a palavra “amiga” de Joana e a remoção do vídeo não chegaram, a dupla celeste avançou para um processo judicial à autora e, não fazendo a coisa por pouco, pediu uma pipa de massa. Danadinhos para a brincadeira estes anjinhos. E assim andou o país a rir-se de uma piada que, na verdade, não vale um tostão furado. Talvez a sentença seja de chorar a rir.