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Museu Judaico de Belmonte volta a ter uma Torá

Após três anos sem ter exposta a Lei Hebraica, espaço volta a ter documento que foi adquirido pelo município, através da Empresa Municipal

“Ter um museu destes sem ter uma Torá não tinha grande lógica”. É esta a convicção do vice-presidente da Câmara de Belmonte, Paulo Borralhinho, que no passado domingo, 22, de manhã, assistiu, no Museu Judaico da vila, a uma cerimónia que visou assinalar o regresso deste documento, que exprime a Lei Hebraica, ao espaço museológico, que há já três anos e meio estava privado deste objeto, o mais importante da religião judaica.

Quando abriu, em 2005, o Museu tinha o rolo do primeiro Sefer Torá de Belmonte, porém, este seria pertença da Comunidade Judaica, que sempre o requisitou para as suas cerimónias religiosas. A última vez, há cerca de três anos e meio. E o documento não voltou ao Museu.

“Essa é uma história que vem de trás. Existia e estaria sempre no Museu, apenas saindo para a Comunidade quando dela necessitassem para as suas comemorações. Foi assim ao longo dos anos. Há mais de três anos foi e nunca mais voltou” lamenta Paulo Borralhinho, que diz que esta era uma peça que fazia falta aquele que é o primeiro museu dedicado ao judaísmo inaugurado em Portugal, há já 19 anos. “Fazia falta. Ter um museu destes sem ter uma Torá não tinha grande lógica. Esta foi adquirida pela Empresa Municipal a um rabino que a trouxe para Belmonte” conta o autarca. “Houve alguma insistência da Empresa para que voltasse, mas como não voltou, como município, encetámos esforços para encontrar uma Torá que pudesse substituí-la. Estamos muito satisfeitos por termos uma agora” garante o vice-presidente da Câmara de Belmonte sem, contudo, revelar os valores da aquisição deste documento com mais de 400 anos.

O autarca recorda que Belmonte é conhecida por ser “uma terra de tolerância” ao longo dos anos e que a Torá agora comprada “é a continuação de uma história e não a história em si”.

Quem trouxe a nova Torá foi o rabino espanhol Eliahu Birnbaum, fundador do Instituto Straus Amiel, que forma rabinos e professores da Diáspora. Segundo ele, a peça que agora está patente no Museu Judaico é originária de Espanha, já percorreu mundo até chegar a Belmonte, onde passa a ser “um sinal de bênção quer para o museu, quer para a comunidade”. Eliahu Birnbaum destaca a particularidade do rolo sagrado ter ficado aberto precisamente nas páginas em que estão os 10 mandamentos e garante que com esta aquisição abre-se “uma nova página” para este espaço museológico.

Já o rabino da Comunidade Judaica de Belmonte, Eliahu Shefer, considera que a vila fica “muito mais rica” com este documento, que pode fazer crescer o interesse de forasteiros quer por Belmonte, quer pelo tema do judaísmo, em si.

Joaquim Costa, presidente da Empresa Municipal, lembra que este “é o documento mais importante” do judaísmo, uma peça “que fazia falta” e a Torá “mais completa que hoje existe”. “São 305 mil 860 palavras, todas escritas à mão, apenas por uma pessoa” vinca.

Recorde-se que o Museu Judaico de Belmonte foi o primeiro da temática a surgir em Portugal, em abril de 2005, num investimento superior a um milhão de euros, da autarquia local, e que consistiu na reconversão do antigo colégio da vila. Reúne mais de uma centena de peças, muitas cedidas pelo historiador Adriano Vasco Rodrigues, por diversas famílias e pela Comunidade Judaica de Belmonte, entre outras.

Além de, agora, a Torá, existe um conjunto monetário hebraico encontrado em Mértola em 1968 no decurso da demolição de um muro antigo, uma Hanukiah (candelabro de nove braços) do século XV, e uma estela funerária (réplica) encontrada em Mértola. Destaca-se ainda a réplica da inscrição hebraica em granito da antiga Sinagoga de Belmonte, datada de 1297, e indumentária religiosa utilizada nas diferentes festas judaicas (Páscoa, Purim, tabernáculos, Luzes, etc). Existe ainda um memorial com nomes que recorda as vítimas da Inquisição, algumas das quais oriundas de Belmonte.

Além disso, tem desde há alguns anos (2017, altura em que foi requalificado) uma vertente interativa, entre as quais um vídeo com testemunhos reais de elementos da Comunidade Judaica de Belmonte, que contam como, ao longo de séculos, se conseguiram manter e viver na vila, sob a capa protetora do criptojudaísmo.

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