Não há bombos que mudem as ideias de quem vota

Campanha eleitoral anda na rua. Na Covilhã, as arruadas são bem recebidas pela população que, contudo, garante que elas não influenciam o sentido de voto. Mais habitação, saúde, pensões e justiça social são os pedidos ao novo governo

Ao som de bombos e concertinas, com bandeirinhas na mão, com t-shirts à cor do partido, megafones e frases de apoio. As arruadas partidárias, com vista às eleições legislativas do próximo domingo, 18, passaram pela Covilhã na passada semana, sendo sempre o percurso que liga o Jardim Público ao Pelourinho o preferido, para abordar quem, alertado pelo aparato, saiu à rua para ver o que se passava. Mas a verdade é que, na Rua Direita, e zonas adjacentes, a população abordada pelo NC salienta que, apesar de todos terem direito a se manifestarem, e mostrar o que querem para o futuro do País, este tipo de ação de campanha pouco ou nada influi no sentido de voto.

“Eu voto sempre igual. Sempre no mesmo. Há muitos anos. Foi sempre assim. Gosto de os ouvir a todos, mas não mudo a minha opinião” explica Maria Fernanda Bicho, 70 anos, que há 55 gere e trabalha numa pequena mercearia na Rua Direita. A comerciante garante que tem sempre a porta aberta a toda a gente, seja o partido da sua simpatia, que não revela, seja outro pelo qual não nutra afinidade. “Todos têm o direito de se pronunciar e eu estou sempre disponível para os receber. E gosto de os ouvir” garante. Quando instada a contar o que tem pedido aos candidatos que nos últimos dias lhe têm passado pela loja, Maria Fernanda adianta logo um problema com o qual lida diariamente: o fraco poder de compra de alguns idosos. “Seja lá quem for que ganhe, tem que melhorar as reformas. Tenho aqui pessoas que vivem com pouco mais de 300 euros de reforma. Há muita gente que passa dificuldades e nem sequer tem dinheiro para fazer uma alimentação como deve ser. Há muita gente a passar mal, do que vejo aqui na loja” garante.

Um pouco mais abaixo, curiosos com a comitiva de uma força partidária que está em campanha ali no largo em frente à igreja, Carlos Alçada e João Mineiro ficam parados, à conversa com mais dois populares. Mantêm a distância, não se misturam com a comitiva que por ali anda, mas lá vão deixando alguns lamentos. “Todos falam da saúde, mas quando se fala da saúde não é só dizer que há falta de médicos. Há muitos mais problemas, desde os enfermeiros até aos técnicos auxiliares de saúde. Que devem ser recompensados e pagos como deve ser” frisa João Mineiro. A seu lado, Carlos diz que ainda não sabe em que vai votar, mas “vou votar de certeza”. Frisa que as ações de rua fazem sentido, embora pouco ou nada alterem na mente das pessoas. “Acho bem que esclareçam as pessoas” frisa. Desafiado a dizer aquilo que acha que é necessário mudar em Portugal, Carlos sorri: “No País? Esse caderno que traz na mão não chegava para lá anotar tudo o que faz falta”, ironiza.

“Um incentivo à emoção e à não racionalidade”

Mais jovem, 25 anos, um aluno de aeronáutica de UBI, que prefere manter o anonimato, passa por ali e não fica indiferente à quantidade de pessoas que, na rua, acompanham um líder partidário. Porém, garante que nada do que lhe digam irá influenciar as suas decisões. “Enquanto cidadão, considero que as ações de rua são cada vez mais um velho hábito que nada esclarecem as pessoas, e servem, sobretudo, para criar distrações” salienta. Adepto da Internet, e das redes sociais, diz que é nas páginas dos partidos, e nos seus programas eleitorais que prefere ir buscar a informação que o pode ajudar a decidir. “O que realmente importa não se encontra nestas campanhas de rua, que mais não são que um incentivo à emoção e à não racionalidade” frisa, assegurando que apesar de ainda não saber em que vai depositar o voto na urna, o irá “de certeza” fazer.

Ali por perto, Maria solta uma frase dita por muitos, em muitos locais: “Querem todos é o tacho. Prometem tudo e depois de ganharem, não fazem nada” assegura.

“Já tenho a minha ideia definida”

Sentado no Jardim está João Freitas da Silva, 61 anos. Com raízes no distrito de Castelo Branco (os avós eram do Ladoeiro, Idanha-a-Nova), este cidadão veio ver a caravana porque diz gostar de política e gosta de ouvir as propostas de cada partido. “Não gosto é muitas vezes dos políticos, porque é frequente que o que falam raramente façam”, lembra. Contudo, salienta que o voto é uma arma com a qual o povo pode e deve demonstrar o seu contentamento, ou não. Natural de Cascais, onde residiu durante 19 anos, há pouco mais de ano e meio que João, com a sua companheira Ana Matos, 53 anos, brasileira, fez da Covilhã a sua nova casa e, sabendo que numa manhã da passada semana um dos candidatos a ser primeiro-ministro vinha à Cidade Neve, saiu à rua. Sobretudo para ouvir. “Vim ver se apresentava algo de novo, de diferente. Acho que estas ações de rua podem sempre ajudar a chamar as coisas pelos nomes. É importante que a ação política possa trazer algo de novo e bom para o povo” afirma. Sobre o que acredita serem as maiores necessidades do País, João não tem dúvidas: habitação, saúde e justiça social. “Nas casas, é preciso criar uma regra, que estabeleça limites aos preços, em especial, no arrendamento. E na saúde, não podemos continuar a ter filas nos hospitais para ser atendido. Depois, temos que ter uma sociedade mais justa, e menos desigual, entre ricos e pobres” afirma. João garante que apesar de gostar de ouvir candidatos junto das populações, também ele raramente altera o seu sentido de voto. E nestas legislativas, também já sabe em quem votará. “Já tenho a minha ideia definida, e sim, vou votar” garante, de modo a também ter influência em quem decide sobre o País, e consequentemente, sobre a Covilhã, onde Ana adora viver.

Há 14 listas para quatro deputados no distrito

No próximo domingo, Portugal é chamado a escolher um novo Governo, mas em termos regionais, quem vota também escolhe quem o pode representar na Assembleia da República. Pelo círculo eleitoral de Castelo Branco, apresentam-se 14 listas candidatas, que aspiram a colocar no Parlamento um dos quatro deputados eleitos pelo distrito.

O PS volta a apresentar o covilhanense Nuno Fazenda, que era deputado neste mandato do Governo de Montenegro, e apresenta no segundo lugar a albicastrense Carla Massano, e em terceiro, o fundanense Tiago Monteiro. Recorde-se que eram dois os eleitos no PS no Parlamento.

A AD, que tinha um deputado por Castelo Branco, aposta no lisboeta Pedro Reis, ministro da Economia, e aponta em segundo Ricardo Aires, ex-autarca de Vila de Rei, e em terceiro a covilhanense Leonor Cipriano.

O Chega, que elegeu neste círculo pela primeira vez um deputado em 2024, volta a apostar nesse nome, o albicastrense João Ribeiro, para liderar a lista, seguindo-se Mário Diniz, candidato à Câmara da Covilhã.  O Bloco de Esquerda mantém como cabeça de lista a albicastrense Inês Antunes e a Coligação Democrática Unitária (CDU) aposta no covilhanense Vítor Reis Silva, para encabeçar a lista.

Paul Fernandes (PAN), Manuel Lemos (IL), Joana Pereira (Livre), Filipe Lourenço (ADN), Luís Duque Vieira (PPM), Eva de Sousa (Reagir), Carlos Lobo (Ergue-te), Daniel Santana (Volt) e José Marrucho (PCTP/MRPP) são os outros candidatos pelo distrito.

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