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“NC: uma referência secular”

António Dias Rocha*

A imprensa regional foi desde o advento do jornalismo em Portugal, na última década de Oitocentos, um importante instrumento de informação, não só da classe burguesa letrada, mas também do povo em geral.

Era a única ligação de proximidade ao mundo contemporâneo, uma vez que a grande imprensa se encontrava instalada nos grandes centros urbanos de maior dimensão, onde tudo se passava, onde chegam primeiramente todas as inovações e onde se discutiam as políticas económicas e sociais do país, num Portugal que ainda dava os primeiros passos nos ideais liberais.

O território do interior, tal como na atualidade, continuava a ser pouco povoado, onde as notícias e a informação circulavam devagar. As dificuldades que hoje se sentem, eram as dificuldades que sentiam há 100 anos atrás. Um país pouco coeso, onde o desenvolvimento pendia para o litoral, em detrimento do interior. No século XIX, a imprensa divide-se entre os jornais afetos aos partidos do regime liberal, e os jornais ligados aos movimentos católicos. Nesta época, como nas seguintes, a população portuguesa continuava a ser pouco letrada e com uma baixíssima escolaridade que colocava o nosso país na cauda da Europa.  Mas a falta de conhecimento das letras pela maior parte da população, não impediu que em Portugal surgissem um grande número de periódicos, principalmente de caráter local.

Na Beira Interior foram muitos os jornais criados durante este período, embora a maior parte deles tivesse uma vida bastante efémera. No entanto, nas primeiras décadas do século XX, apareceram algumas publicações que ainda hoje se mantêm, como é o caso do jornal “Notícias da Covilhã”, herdeiro do jornal “Democracia”, o qual foi suspenso por ordem da censura e o seu diretor preso pelo Administrador do Concelho da Covilhã. Apareceria então o jornal “Notícias Da Covilhã”, por ação da Comissão Concelhia Católica da Covilhã.

A Covilhã foi, aliás, no contexto do distrito de Castelo Branco, o concelho que mais periódicos possuía ao longo dessa primeira década, suplantando a capital do distrito, Castelo Branco. Tal situação compreende-se face à existência, naquela cidade, de uma população fabril em grande número e com uma densidade populacional bastante significativa, no contexto da Cova da Beira e da Beira Interior.

A Covilhã, que possuindo um círculo católico de grande importância, a par com Braga e Viana do Castelo, foi a cidade onde foram criados mais periódicos de cariz católico, como forma de fazer frente à situação de fragmentação que se estava a gerar entre o Estado e a Igreja Católica. Eram também estes os jornais que tinham a vida mais longa, sendo impulsionados pelo operariado católico.

O jornal “Notícias da Covilhã” soube manter-se enfrentando todas as contrariedades decorrentes dos vários sistemas governativos que foram vigorando no nosso país. Teve que fazer face aos constrangimentos que a I República, impunha principalmente aos periódicos de cariz católico, decorrentes da política anticlerical e anticatólica do regime republicano. Depois, os tempos da censura do Estado Novo que coartava a liberdade de expressão a cidadãos e aos órgãos de comunicação social.

Hoje, a imprensa escrita, debate-se com outros problemas, próprios da Revolução Digital que a modernidade dos tempos contemporâneos exige, que põe em perigo as edições tradicionais da imprensa. Caminha-se para um tempo em que tudo passará a ser digital e fortemente dependente das novas tecnologias da informação.

Num tempo em que a notícia viaja à “velocidade da luz”, em que, cada vez mais, as redes sociais funcionam como redes de informação e comunicação, torna-se importante que o jornalismo informe bem e com verdade as populações, uma vez que a informação das redes sociais não tem qualquer rigor e muitas vezes pouca verdade.

Assistimos também, na atualidade, a uma competição pela notícia, muitas vezes sem que a sua difusão seja devidamente tratada, criando por vezes situações que promovem a instabilidade social. Existem órgãos de comunicação social que, em nome do aumento das audiências, informam o público com menos rigor do que aquele que é exigido em termos éticos. É dever de qualquer órgão de comunicação social informar com o máximo rigor, independência e isenção.

O jornalista, embora tenha a sua opinião subjetiva, deve exercer a sua função com objetividade.  Ao jornalismo também compete promover através da informação a justiça social, a igualdade entre os cidadãos.

O Notícias da Covilhã é uma referência secular no panorama regional e nacional do jornalismo, tendo nesta longa história da sua existência sabido manter-se isento e equidistante na informação que presta aos seus leitores. Tem sido, uma longa caminhada a informar que deve ser enaltecida pelos cidadãos e instituições aqui sediadas, pois, na verdade, o “Notícias da Covilhã”, é uma das instituições mais antigas da nossa Região e de Portugal.

Desde há alguns anos a esta parte que o Município de Belmonte tem uma página dedicada inteiramente ao concelho de Belmonte, o que se revela bastante importante na difusão da vida social, empresarial e política do concelho.

O jornal “Notícias da Covilhã” continua a ser uma referência do jornalismo regional e nacional, informando e promovendo a população. Denunciando, as desigualdades e falta de coesão social e territorial. É um dos instrumentos fundamentais para o progresso e desenvolvimento deste interior cada vez mais desertificado e empobrecido.

No momento, em que se completam 102 anos da fundação do jornal “Notícias da Covilhã”, o Município de Belmonte não poderia deixar de saudar este órgão de comunicação social e todos os seus colaboradores, que ao longo da sua existência têm sabido levar a informação aos seus leitores com seriedade e independência.

*presidente da Câmara de Belmonte

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