O Luís, amigo dos tempos de escola, costumava dizer que a vida é mais fácil para quem não tem consciência e não faz juízos morais sobre si próprio. Para quem tudo vale, para quem não se preocupa em analisar se os meios justificam os fins, o caminho pode ser menos sinuoso.
Ao longo dos últimos dias, a Covilhã acolheu um conjunto de iniciativas no âmbito da Semana da Ética no Desporto, durante a qual foram promovidos os valores que devem nortear a prática desportiva, a maioria junto de escolas, clubes e atletas ou agentes desportivos em formação.
Mas são necessárias estas acções? O desporto não é, por norma, uma escola de formação em que os gestos de desportivismo são a prática habitual? Quem tem ligação a este universo, facilmente percebe que este meio é uma incubadora de companheirismo, união, camaradagem, respeito, amizade, esforço, convívio e partilhas várias. Com as inevitáveis excepções de quem não sabe estar, a cultura desportiva é incutida naturalmente, pelo exemplo quotidiano.
Por que é que é importante chamar a atenção para o que é um comportamento correcto no desporto? Porque quando falamos em desporto profissional, quando o negócio, os milhões entram na equação, o cenário inverte-se. Os bons exemplos acontecem em menor número e celebramo-los, dada a sua raridade quando estão em causa resultados.
Existe uma normalização de comportamentos reprováveis em recintos desportivos e uma aceitação do que é impróprio nessa órbita, nomeadamente no futebol, modalidade com maior expressão entre nós. A desculpabilização de posturas que consideramos inaceitáveis em outras esferas cria um ambiente tóxico e nada pedagógico, pelo efeito mimético.
As pessoas tendem a imitar as suas referências, tanto o gesto técnico, a finta, a celebração do ponto ou do golo, como o que fazem de menos edificante. O exemplo deve vir de cima, e isso não costuma acontecer, deitando por terra o que habitualmente se pratica e aprende na formação. Um atleta deve mover-se por metas, que entendo não serem incompatíveis com valores nobres, mas devemos ter essa exigência em todos os níveis, e não por o ónus exclusivamente sobre as camadas jovens ou o desporto amador.
Todas as semanas vemos insultos dentro e fora de campo/rinque/quadra, jogadores a fazerem simulações e a reclamarem, treinadores ou dirigentes a comportarem-se como arruaceiros, sem punições dissuasoras, vive-se um ambiente quezilento, de provocação constante, nas estruturas com maior projeção, que legitima outros a replicar o que deve ser evitado.
Enquanto o clubismo cego continuar a imperar sobre o desporto, enquanto cada um de nós continuar a debitar impropérios dirigidos ao árbitro quando o resultado não nos é favorável, enquanto elogiarmos a esperteza saloia do jogador da nossa equipa que tenta ludibriar para conseguir um penálti, ao mesmo tempo que insultamos o adversário que fez o mesmo, enquanto o exemplo não vier dos principais protagonistas desportivos, perorar sobre a ética nunca será suficientemente eficaz.