O “Teatro das Beiras”, conhecido também pela designação inicial de “Grupo de Intervenção Cultural da Covilhã”, está a celebrar os seus 50 anos de existência, numa feliz coincidência com os 50 anos do 25 de Abril. A melhor homenagem e manifestação de agradecimento por tamanha obra de serviço ao teatro e à cultura da Covilhã é, e vai continuar a ser, a nossa presença assídua e continuada aos seus programas, com destaque para os festivais com que desde há muitos anos nos tem brindado. Dito isto, queria aproveitar o ensejo para lançar os meus «Olhares» sobre alguns momentos mais marcantes da história do teatro na Covilhã. Sim, porque a Covilhã, como vila e como cidade, sempre amou, cultivando-a com carinho, a arte dramática.
Remontando ao tempo da vila, viajei até 1842, ano em que um ilustre covilhanense, de seu nome António Firmino da Silva Campos Melo, companheiro de Almeida Garrett nas artes dramáticas e nas lutas liberais, escreveu e publicou o drama em cinco actos “D. Rodrigo”. Por esse século, floresceu, aqui e ali, pelas terras do concelho o gosto pelo teatro, como foi o caso, por exemplo, de um denominado “Teatro do Povo”, com assento em Unhais da Serra e em Tortosendo, a cujos espectáculos, rezam as crónicas, acorriam públicos oriundos de Casegas e de Sobral de S. Miguel. Isto e o mais que não sabemos, perdidos noutras crónicas.
Mais tarde, nos finais do século XIX, já elevada desde 20 de Outubro de 1870 de vila a cidade por obra e graça do Rei D. Luís, movimentavam-se por aqui as paixões por esta arte. Paixões e…pressões sobre as autoridades políticas da época, as quais, diga-se em abono da verdade, porque é da história desde os Gregos, nunca primaram no apreço pelo Teatro, que o digam Gil Vicente, no século XV, e, mais próximo de nós, Luís de Sttau Monteiro com o seu “Felizmente há Luar”, que suscitou o ódio dos poderosos de então; ou a Ditadura Salazarista, ávida de censura e de repressão, seu único brilho, que também não poupou o teatro, e que o diga, entre outros, também Bernardo Santareno, cuja peça em 3 actos, “A Traição do Padre Martinho”, foi proibida e só levada à cena já depois do 25 de Abril. É que o teatro, como todos sabemos, é a arte por excelência da Pólis, ou seja, da política; e é também, talvez por isso mesmo, a arte da desobediência, e aqui que o diga essa obra eterna da humanidade que é a Tragédia “Antígona”, da autoria de Sófocles, cuja protagonista sofreu a condenação à morte por decreto do soberano, o rei Creonte, que não lhe perdoou a ousadia e a coragem de antes obedecer às leis dos deuses do que às dos homens, enterrando com dignidade seu irmão Polinice.
Na Covilhã, em 1899, foi inaugurado no Peso da Lã o Teatro “Calleya”, uma bonita sala com 560 lugares, construído pelos empresários José Cristóvão Correia e António Copeiro, tendo sido representada a Récita inaugural “Demi-Monde”. As representações proliferaram pela cidade e qualquer local servia, à falta de melhor: pequenos espectáculos se realizaram na Praça dos Cereais e no chamado Telheiro do Peso da Lã.
Ao Teatro Calleya seguiu-se o Teatro Covilhanense, de Francisco Pina e João Ferreira Bicho, inaugurado em 13 de Janeiro de 1924, pela Companhia Dramática Lucília Simões. Seguiu-se na cidade o “Teatro Cine da Covilhã”, inaugurado em 11 de Novembro de 1954, iniciativa de João Ferreira Bicho, apresentando em estreia uma peça de Amélia Rey Colaço.
Durante a Ditadura salazarista, em tempos de clandestinidades, proliferava, furtando-se com inteligência à censura, a arte dramática. Na Covilhã, nunca perdido o gosto por esta arte magnífica e altamente educativa da nossa cidadania, o 25 de Abril abriu as portas até aí fechadas à liberdade. Surgiu o GICC/Teatro das Beiras; seguiu-se-lhe a “Quarta Parede”, depois a “ASTA” e também o TeatrUBI. A Covilhã, cidade do teatro, merece-os.