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Notícias da Covilhã, na Covilhã entre jornais

Carlos Madaleno

À medida que nos vamos diluindo na aldeia global e a nossa identidade se torna difusa, surge como tábua de salvação a imprensa local, guardiã de memórias e garante de pertença a uma comunidade.

Na Covilhã são largas as dezenas de títulos que constituem a história da sua imprensa. Antes dos jornais impressos existiram as “folhas”, escritas à mão e expostas em locais habituais de leitura colectiva, tabernas, boticas, vendas…. Disso nos dá conta Moura Quintela ao transcrever de uma dessas “folhas” o crime de Francisco Valezim.

O primeiro jornal impresso “O Commercio da Covilhan” data de 1864, sendo o seu editor José Mendes Alçada de Paiva. Nasceu da necessidade de promover um candidato da oposição, José Pedro Barros de Lima, a deputado às Cortes pelo círculo Uninominal da Covilhã. Seguiu-se-lhe, em 1865, o “Sentinella da Liberdade”, apoiava o partido histórico, combatia o clericalismo local e era o Órgão da Loja Maçónica “Atalaya da Liberdade”. Em 1869, foi fundado “O Echo Operário”. Na sua origem estiveram Scevola, João da Costa e José Maria de Moura Barata Feio Terenas, um dos mais brilhantes jornalistas nascidos nesta cidade.

Com a monarquia a definhar, surge em 1 de outubro de 1895, “O Agitador”, de inspiração anarquista. No seu primeiro editorial escrevia “aqui estamos solapados, pois assim é forçoso, mas preparados para tudo, seguindo sempre avante contra a Autoridade e contra o Capitalismo.” Dois anos mais tarde, em 1897, “O Amigo do Povo” foi o primeiro a noticiar acontecimentos do estrangeiro. Ainda neste ano surge “ O Barato”, com o elucidativo lema “Lamparina sem política anunciadora de artigos em conta.” Com a mudança do século surgem “A Vóz da Charidade” em 1901, “O Rebate- Órgão do Operariado da Covilha”, em 1902, “O Peregrino da Virgem”, e “A Folha da Covilhã” em 1904. Em 1907, é a vez dos adeptos do socialismo criarem o seu primeiro jornal “ A Estrella”. Em 1909, surge o “Noticias da Covilhã” que nenhuma ligação tem com seu atual homónimo.

Finalmente em 12 de janeiro de 1913, nasce o projeto de António Catalão que haveria de chegar aos nossos dias, auspiciando longo e promissor futuro. Tratava-se do “ A Democracia” que apoiava discretamente a política de João Franco, mas apresentava já os princípios que ainda hoje detém. Em março de 1918, depois de assaltado, António Catalão é mandado prender e o jornal encerrado pelo governo. Maio de 1919 seria pródigo para o jornalismo. No dia 11, António Figueiredo Júnior, publica o “O Dever”. Sete dias depois, renasce o projecto de António Catalão agora com a designação de “Notícias da Covilha”. Ainda com o sangue na guelra, o timbre editorial do rejuvenescido semanário reflectia, a par da defesa dos valores mais tradicionais, a reivindicação de melhores condições de vida para aqueles que nunca as tiveram.

Nas suas páginas surgiam emblemáticas rúbricas que perduraram durante décadas, como “Coisas Sérias” ou o “Cantinho da História”. Daly era o pseudónimo de Ilda Catalão Espiga, a feminista de serviço no “Notícias da Covilhã”.

Os editoriais serviam para lançar projectos, identificavam-se as necessidades, apelava-se à boa vontade covilhanense e passo a passo a obra ia nascendo. Foi assim que germinou o Lactário, que se concluiu o monumento ao soldado desconhecido, que se criou um museu municipal.

A vida deste periódico tal como todas as vidas não foi fácil, chegando mesmo a suspender a sua impressão em 1937. Ao longo da sua história digladiou-se com “O Raio”, conviveu com “A União”, “O Covilhanense Eventual” e a “A grei”. Em 29 de Maio de 1987, finalmente viu o seu percurso reconhecido através de um louvor da Presidência do Concelho de Ministros.

Enfim, por estas páginas circulou sempre o cortejo de angústias e esperanças que constituem o palpitar do povo covilhanense. E porque os objectivos deste jornal continuam ainda a exigir ser cumpridos, aqui expresso o meu desejo de uma longa vida e parabéns ao Notícias da Covilhã.

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