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“Nuvem negra” volta a pairar sobre maternidades da região 16 anos depois

Foi em 2006 que se ouviu falar, mais a sério, do possível fecho de maternidades na Beira Interior, ideia que começou a circular ainda em 2003. Na altura, forças políticas, autarquias, associações, instituições e, sobretudo, o povo, uniram-se na luta e contestação. E as mesmas mantiveram-se abertas. Agora, 16 anos depois, a “nuvem negra” volta a pairar sobre a região.

Segundo o Expresso `online` de terça-feira, o grupo de peritos encarregue de propor uma solução para as urgências de obstetrícia e blocos de partos nos hospitais do SNS propôs ao Governo o fecho do atendimento SOS em dois hospitais da Grande Lisboa e dois na área geográfica da administração regional de saúde do Centro: as urgências obstétricas de Vila Franca de Xira, Barreiro, Covilhã e Castelo Branco. Porém, alguns outros órgãos de comunicação, como a RTP ou Correio da Manhã, sinalizam apenas Castelo Branco e Guarda. Seja como for, a eventual proposta já levou a reações dos autarcas visados, apesar de ainda ontem o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, ter garantido á RTP que “nenhum serviço de obstetrícia e blocos de partos do SNS fecha até final do ano.” E que a decisão só será tomada em 2023.

O presidente da Câmara de Castelo Branco, o socialista Leopoldo Rodrigue, já disse achar “estranho” que um grupo de peritos faça “uma proposta nacional e eventualmente sinalize Castelo Branco para fechar sem falar com o presidente da Câmara Municipal e sem falar com os outros atores locais do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”.  O autarca considera, em declarações à Lusa, “completamente descabida” a possibilidade do encerramento da urgência da maternidade do Hospital Amato Lusitano (HAL) e estranha que se faça essa proposta sem ouvir os interlocutores locais.

“No que diz respeito à Câmara Municipal de Castelo Branco, enquanto presidente, não houve nenhum contacto. Penso que o presidente do Conselho de Administração do HAL também não terá tido, o que estranho, para se avançar para uma proposta dessas sem ouvir aqueles que são os responsáveis pelo território”, salienta.  O autarca socialista considera “completamente descabida a possibilidade de a maternidade vir a fechar ou as urgências da maternidade de Castelo Branco virem a fechar”.  Leopoldo Rodrigues salienta que durante todo este período de tempo em que várias maternidades no País tiveram que fechar por falta de médicos, a maternidade de Castelo Branco “manteve-se sempre a funcionar”.  “Ainda não houve um dia que tivesse fechado por essa razão [falta de médicos]”, frisa.  E adianta que Castelo Branco é o segundo concelho do País com maior área territorial e que a maternidade do HAL, onde as grávidas fazem os atendimentos e onde os partos são realizados, serve um conjunto de concelhos vizinhos.  “Depois, estamos também a falar de coesão territorial. Nós não podemos andar aqui todos os dias a promover o Interior, a fazer apelos para que as pessoas venham viver para o Interior, e depois fechamos serviços que são fundamentais para que isso aconteça”, sustenta.

“Estamos a dizer que afinal não vale a pena estar aqui”

O presidente da Câmara de Castelo Branco realçou que o seu executivo está a apoiar as famílias com a devolução de 2,5% do IRS, com refeições gratuitas no pré-escolar e 1.º ciclo do ensino básico e nas creches. “Estamos a fazê-lo com um objectivo muito claro: apoiar as famílias e contribuir para a fixação e atração de novas famílias jovens. Se lhes tiramos este tipo de serviços fundamentais para que os jovens se fixem aqui, estamos a dizer que afinal não vale a pena estar nestes territórios, não vale a pena pensarmos o Interior como um local onde se vive bem, onde temos todas as condições para ter uma vida profissional e pessoal de qualidade”, sublinha.  Leopoldo Rodrigues recusa-se a aceitar que, após tanto esforço, “depois, de um momento para o outro, um conjunto de peritos sem sequer ouvir os interlocutores locais faz uma proposta que ainda tenho algumas dúvidas que seja real”.  “Mas, sendo uma possibilidade, tenho de me pronunciar enquanto presidente, no sentido de mostrar a total surpresa e total discordância. Esta opinião é partilhada por todos os albicastrenses”, conclui.

A autarca deixa ainda um recado ao Governo: “Sobre os assuntos de saúde no Interior, o que esperamos da tutela é um reforço dos meios e não queremos um esvaziamento. Queremos que criem condições para termos mais médicos”.

Sérgio Costa promete “marchar” sobre Lisboa

Já na outra capital de distrito da região, a Guarda, o presidente da autarquia, Sérgio Costa, garantiu ontem, em conferência de imprensa, já ter pedido uma reunião “urgente” ao ministro da Saúde para clarificar a situação. E promete forte contestação á medida.

“A ideia da maternidade, do nascer na Guarda, não pode cingir-se, apenas e tão só, a uma questão técnica de saúde” considera o autarca, que acrescenta que um Estado “que não consegue ter recursos humanos especializados e disponíveis para cuidar de uma mãe e do seu filho, em qualquer parte do seu território, no seu momento mais precioso, é um Estado à beira do colapso e falência”.

Sérgio Costa pede bom senso ao Governo, lembra que o Estado está a investir mais de 8,5 milhões de euros na requalificação do Pavilhão 5 para acolher o Departamento da Saúde da Criança e da Mulher, esperando que esse investimento não seja “amanhã deitado para o lixo alegadamente por um estudo cujo conteúdo efectivo ainda não se conhece na totalidade”. E promete “marchar sobre Lisboa” se a decisão for fechar a maternidade.

Covilhã lembra ter maior número de partos

Já na Covilhã, apesar de em alguns órgãos de comunicação a maternidade não ser visada, a administração do Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira (CHUCB) revelou à SIC que, em comparação com as unidades mais próximas, tem o maior número de obstetras e registou no ano passado o maior número de partos das unidades de saúde da Beira Interior.

Em entrevista à RTP, ontem, Manuel Pizarro sublinhou que o Governo irá fazer uma “avaliação criteriosa” ao estudo preliminar do grupo de peritos que propõe “muitas medidas entre as quais, o eventual fecho de maternidades”. A Comissão de Acompanhamento da Resposta em Urgência de Ginecologia, Obstetrícia e Bloco de Partos recomenda o fecho de Urgências Obstétricas e de blocos de partos em vários pontos do País por causa da falta de especialistas, mas salvaguarda que a distância entre maternidades será um critério a ter em conta.

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