Graça Rojão
Directora Executiva da CooLabora
O dia 14 de fevereiro costuma ser marcado pela proliferação de corações vermelhos que enchem as montras das lojas. Somam-se os menus do “dia dos namorados” e muitos outros produtos que, à boleia do amor, prometem vender felicidade a troco de uns euros.
Já que estamos em maré de amores, porque não olhar também para a face menos cintilante do namoro, aquela que é marcada pela violência nas relações entre jovens?
O problema não é, infelizmente, um resquício de outros tempos. Os dados dos diversos estudos que têm vindo a ser publicados são arrasadores. Estes números assustam pela sua dimensão e por evidenciarem que não estamos, enquanto sociedade, a ser capazes de pôr termo à violência no namoro.
Os dados resultantes de trabalhos de investigação junto de jovens como, por exemplo, o que tem vindo a ser realizado pela UMAR para estudantes do 7º ao 12º ano de escolaridade e o estudo sobre a violência no namoro em contexto universitário feito pela Plano I, entre outros, evidenciam a legitimação da violência nas relações de namoro entre jovens. O controlo e a violência psicológica exercida são considerados “normais” numa relação e, para quase um terço das pessoas jovens inquiridas, a violência sexual é um comportamento legítimo nas relações de namoro.
Face à naturalização da violência nas relações de intimidade, não é de surpreender que nestes estudos mais de 50% dos e das jovens digam que já experienciaram pelo menos um dos indicadores de vitimação. As raparigas são mais afetadas que os rapazes e, no perfil de quem agride, encontramos crenças sobre as relações sociais de género mais conservadoras. Relações que deviam ser de igualdade e de aprendizagem mútua, estão marcadas por crenças e preconceitos sobre os papéis que na sociedade estão reservados a rapazes e a raparigas, a homens e a mulheres e que tornam aceitável uma chapada, as proibições relativas ao vestuário, o controlo do telemóvel, a divulgação imagens íntimas, etc.
A violência no namoro não é uma “simples” brincadeira, é um crime público, no âmbito do crime de violência doméstica, previsto no Código Penal. É urgente desmontarmos visões que confundem amor com relações tóxicas e criarmos uma cultura de tolerância zero à violência nas relações de intimidade.