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O caçador

“Os partidos, com a anuência do Presidente da República e o gozo da comunicação mediática (…) têm feito dos principais interessados na estabilidade (os portugueses) bonecos de um teatro de fantoches”

As paredes de algumas típicas tabernas portuguesas estão cobertas de azulejos reproduzindo expressões da linguagem popular. Uma das mais engraçadas – “não é permitida a entrada a caçadores, pescadores e outros mentirosos” – reflecte bem uma certa forma de ser português, tendência para o exagero e para impressionar os outros com os (quase) feitos próprios. Sim, porque na maioria das vezes em que “te atiras aos animais vens de mãos a abanar”. No mar como no mato. Tipo encantadores de sarguetas e de perdizes. Há muito que deveríamos mudar o texto, dar uma “segunda demão” ao escrito e alargar o espectro da mensagem. Exagerar, tentar impressionar com feitos que nunca foram feitos é a actividade preferida de muitos políticos em Portugal. Não todos naturalmente, sobretudo os profissionais que vão trilhando o seu caminho através dos labirintos partidários. Dir-se-á que esta é uma característica transversal ao resto do mundo. Pode ser. Por cá, a figura do “chico-esperto” está muito mais vincada, e isso naturalmente prende-se com a “pobreza” da educação e formação que vão passando de geração em geração, e ao contrário do que muitas vezes se sugere, de que somos um povo que não se deixa governar, é exactamente o contrário. “Papamos” tudo o que nos põem à frente. Neste caso, entenda-se por político, aquele que sai para a caça, e regressa a casa com dois coelhos sem pele, pendurados à cintura, e momentos antes comprados no talho. Enganar descaradamente, sem um pingo de vergonha, como se mentir fosse a coisa mais natural na existência do ser humano, é o que nas últimas semanas mais têm feito, a propósito do orçamento de Estado, da imigração, e de outros derivados, alguns líderes políticos.

Da esquerda à direita, do governo à oposição, os partidos, com a anuência do Presidente da República e o gozo da comunicação mediática que se vai divertindo em prol das audiências com informação barata, têm feito dos principais interessados na estabilidade e no desenvolvimento económico e social – os portugueses – bonecos de um teatro de fantoches. Como se houvesse dois países. O dos partidos políticos, e o outro, o nosso. Eles lá vão defendendo os seus interesses, alimentando os seus “lobbies”, servindo as suas plateias, e nós pacientemente à espera que chegue o dia em que eles, distribuam o pão de forma equitativa. É bom que de uma vez por todas saiamos da toca, fujamos do caçador e olhemos para nós, para a cidade onde moramos, para o país que queremos. Olhemos de lado para a política partidária, mudemos o aviso e façamos deste, um pais mais verdadeiro. Com menos enganos.

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