A Move Beiras assinalou, recentemente, quatro anos do regresso do troço Covilhã/Guarda na Linha da Beira Baixa. O que mudou desde então?
A Associação Move Beiras tem o intuito de valorizar as pessoas e os territórios percorridos pelas linhas da Beira Baixa e Beira Alta, através da utilização do comboio. Desde palestras, passeios, concertos, festas e outros momentos, temos oferecido às populações diversas formas de interagir, promover o conhecimento, a cultura, diversão e emoção. Mais que tudo isto, temos demonstrado as preocupações das comunidades junto de diversas entidades para que, no futuro, possamos ter mais possibilidades de escolhas horárias, menos tempo de viagem e outros destinos neste meio de transporte que é o comboio.
Teme que com a abertura da Beira Alta possa haver um retrocesso na importância que hoje é dada à Beira Baixa?
Temos esperança de que com a reabertura da Linha da Beira Alta, o troço Covilhã – Guarda seja melhorado ao nível de serviço local com os novos serviços com destino ao Porto e Coimbra, conforme anunciado em 2021. Por outro lado, não podemos deixar demonstrar a nossa preocupação sobre determinados pontos na Linha da Beira Baixa como os constantes afrouxamentos e aumentos de tempo de viagem. Ainda, como é o caso de Belmonte, quando toca às infraestruturas, plataformas pequenas, estações fechadas, sem acesso a casas de banho (serviços que deveriam ser dados como adquiridos) não ajudam a promover a descentralização, a coesão territorial e, não menos importante, o conforto do passageiro no momento de espera numa região com climas acentuados ao longo do ano.
O que lhe parece a proposta da AMT de ter comboios de hora a hora no troço Guarda-Castelo Branco, mas só com paragens nas sedes de concelho?
Felicitamos que este estudo tenha sido efetuado e que este eixo tenha sido tido em conta visto ser estudada a mobilidade e territórios de baixa densidade populacional. A ferrovia só será uma “espinha dorsal” deste eixo Guarda – Castelo Branco (e Vila Velha de Ródão) se toda a intermodalidade e bilhética funcionarem como um todo em todas estas paragens, mais propriamente nas sedes de concelho. Só desta forma poderemos ter mais frequência e um passe único que realmente poderá ser utilizado visto haver meios de transporte para utilizar quando saímos do comboio. E sem articulação com esses, a mobilidade está condenada a um futuro limitado.
Quanto às paragens?
Sobre o tema das paragens apenas nas sedes de concelho a Move Beiras já teve a oportunidade de demonstrar preocupação, visto a diferença dos tempos de viagem serem insignificativos. Por exemplo, no troço Covilhã – Guarda, deixar de parar em Caria, Maçainhas, Benespera e Sabugal traria um ganho de menos de 5 minutos e, no caso particular do concelho de Belmonte, deixava em terra metade dos passageiros, segundo os números da própria AMT em 2023. Posto isto, parece-nos que este tema nem deveria estar em cima da mesma e este serviço deverá contemplar todas as populações. Não são apenas as sedes de concelho que abrangem muitas populações. Damos o exemplo da vila do Tortosendo, que a sua estação abrange milhares de pessoas de várias freguesias à volta. É uma proposta que tem certamente de ser mais trabalhada.
Esteve, recentemente, na Covilhã, para falar da ferrovia. Que importância tem este tipo de iniciativa?
Tem a devida importância por termos as autarquias sensíveis ao tema da ferrovia e da sustentabilidade. Mais que nos preocuparmos com o comboio, temos de perceber as reais necessidades das populações e como podemos dar-lhes condignamente reais hipóteses de viver e trabalhar na Beira Interior. O comboio é e será fundamental para ligar a beira como um todo e só assim poderemos ter algum “peso”. Realmente o nosso lema assim o promove: “Há linhas que nos unem e uma região que nos move”