“O concelho tem uma série de bloqueios que não foram resolvidos”

Jorge Fael, 55 anos, sociólogo, concorre pela segunda vez seguida à Câmara da Covilhã pela CDU. Acredita que o partido faz falta nos órgãos municipais e, apesar de não ver tudo negativo no passado recente da autarquia, acredita que a Covilhã necessita de mais planeamento e estratégia

Porque decidiu, de novo, ser candidato à Câmara da Covilhã?

Primeiro, porque os órgãos do partido decidiram, uma vez mais, colocar-me esta tarefa. Depois de refletir, vi que ainda tenho condições para enfrentar este desafio. Tenho força, vontade e capacidade. É o que penso e pensa o coletivo da CDU. Sou repetente, espero “passar de ano”.

Há quatro anos, a CDU reforçou a votação e ficou a cerca de 100 votos de chegar à vereação. É esse o objetivo?

A meta é alcançar o melhor resultado possível. Na Câmara, na Assembleia, nas freguesias. Claramente, em relação à Câmara, o objetivo é que a voz da CDU volte a ser ouvida. Porque se assim for, é sinal que muitas vozes no concelho passam a ter uma voz no executivo.

Este ano, há mais candidaturas. Isso é bom ou mau para a sua candidatura?

Não sei o que dizem as sondagens. Aliás, em algumas, o meu nome nem sequer tem aparecido. Já pelo menos três pessoas me ligaram a dizer que o candidato da CDU não era referido. Mas é um problema que, a mim, sinceramente, não me preocupa. A fragmentação tanto pode ajudar como prejudicar. Porque à última da hora, haverá apelos ao voto útil, virá a tese da ingovernabilidade, mas nós faremos o nosso caminho, o nosso trabalho, procurando dar a nossa visão sobre o estado do concelho, e sobre o que queremos. As contas fazem-se no fim.

E qual é a Covilhã que vocês idealizam?

Ao fim de 12 anos, e tendo o PS algum capital de queixa nos primeiros quatro em relação à herança pesada que teve, houve depois oito anos em que não conseguiu concretizar projetos. O concelho tem hoje uma série de bloqueios que não foram resolvidos, nem há perspetiva de serem, se este tipo de governação continuar.

Como por exemplo…

O planeamento e ordenamento do território. Lembro de Vítor Pereira prometer um novo PDM (Plano Diretor Municipal) para 2022 e chegamos a 2025 e não temos. Estamos a trabalhar com o da primeira geração. A cidade, desse ponto de vista, tem bloqueios muito sérios. E continua a crescer mal. A ausência de planeamento é terrível. Veja-se o que aconteceu com o TCT. É um eixo sem possibilidade de alargamento. Loteamentos sem coerência, que aparecem. Planos de pormenor e de urbanização, não houve um único nestes anos todos. E vamos a determinadas freguesias, como o Tortosendo, com um centro histórico bastante degradado, onde parece que caiu uma bomba, com todo o respeito. Precisamos de planeamento, que é o que permite um melhor urbanismo, mais participado.

E que mais?

A mobilidade. Não há maior prova de falhanço do que o próprio PS ter votado favoravelmente na assembleia municipal uma moção da CDU que é uma crítica contundente à política de transportes desta Câmara. A concessão urbana continua a ter graves problemas, ao nível dos horários, abrigos, frota. Os elevadores estão avariados, parados, com a desculpa de falta de peças. Temos elevadores parados há meses, e se não há peças, é preciso encontrar outro tipo de solução.

O sistema de mobilidade é um falhanço?

É. E é extremamente desigual e injusto. Porque quem vem de São Jorge da Beira paga 150 euros por um passe mensal. Defendemos um passe mensal concelhio de 30 euros. O material circulante é velho, sem ar condicionado, com bancos velhos. Não há muitas palavras para descrever. E nas freguesias rurais, as pessoas passam um calvário para chegar à sede de concelho. Fora dos períodos letivos, as pessoas ficam praticamente confinadas. É preciso resolver rapidamente esta matéria.

Quanto às acessibilidades, são boas?

Estão uma lástima. Durante anos deixámos de investir na manutenção das estradas, caminhos. Não sei se esta Câmara conseguiu asfaltar algum caminho rural nestes anos. Alguns continuam como há décadas. Mas há mais. O centro da cidade continua caótico. Fala-se de uma variante que é necessária. Houve projetos, traçados, mas nunca avançou. Quando cai neve, a afluência à Serra é a conhecida, mas eu até brinco e digo que o caos é de tal ordem que quando as pessoas cá chegam, o tempo que demoram do centro da cidade até à Serra, já a neve derreteu. Além dos GPS encaminharem para ruas do Centro Histórico. É o fim do mundo para quem se lá mete… Nem uma sinalética em condições conseguimos ter. Finalmente, temos um consenso na assembleia sobre o IC6, mas o governo diz que não é prioritário. Quando assim é, é preciso haver uma voz grossa…

Não tem existido?

Não. Pelo menos, nunca a ouvi, perante a exigência de investimentos públicos imprescindíveis para a cidade e concelho.

A Covilhã tem sido esquecida pelo poder central?

Tem sido esquecida, como o Interior, em traços gerais. As cidades médias continuam a perder população. A Covilhã irá continuar a perder, e o que vai compensando é o saldo migratório.

O que se pode fazer para inverter?

As pessoas fixam-se se tiverem trabalho e salários dignos, se tiverem respostas sociais e serviços públicos de qualidade. Falo de creches, onde nós hoje temos um problema muito sério no acesso a elas. Centenas de famílias à procura de uma vaga que não existe. Porque não houve planeamento. Como é possível aceitar que o Bolinha de Neve tenha estado fechado tantos anos e a Câmara não tenha feito nada? Esta é uma competência do Estado. Mas chega a um ponto em que o poder local tem que fazer voz grossa e, tendo aceite a transferência de competências, podia assumir a criação de uma creche pública municipal. Já houve municípios que o fizeram no País, dando resposta aos pais e crianças. Ao nível do pré-escolar, também. Há imensas famílias à procura de vagas.

Isso pode afastar pessoas do concelho?

A mim parece-me evidente. Que saiam, ou não venham.

Que mais faz falta?

Faltam equipamentos que deviam estar projetados. Como o pavilhão multiusos, um parque urbano. E temos a Feira de São Tiago a rebentar, todos os anos, com o Complexo Desportivo. Que está num estado lastimável. Que não está vocacionado para este tipo de eventos. Mas há mais exemplos: a piscina municipal dos Penedos Altos. Foi um erro o que lhe puseram em cima. Autêntica sucata. Agora investimos cerca de mais 800 mil euros para resolver problemas de estabilização do muro, perdas de água, mas é um erro. Nestes últimos anos já lá vai mais de um milhão de euros, e continuamos sem piscina coberta que responda às exigências e aponte para o futuro. Há um défice ao nível dos equipamentos que precisamos resolver para sermos uma cidade inclusiva, moderna e que atraia população. Na saúde temos um hospital que vai respondendo às necessidades, mas é claro que há problemas, como a captação de médicos, ou as extensões de saúde.

Que medidas preconiza?

Vamos apresentar a iniciativa “Covilhã em congresso.” Nos primeiros seis meses de mandato, de participação coletiva, com o objetivo de discutir o futuro numa série de eixos. Como o desenvolvimento económico, onde há uma série de coisas que continuam no papel. Mas também o problema da habitação, dos serviços públicos, da mobilidade. Pôr sindicatos, movimentos, empresários, eleitos, a discutir o que deve ser o caminho a seguir nos próximos anos. Sem andar a contratar consultoras. Pensamos que se pode fazer muito mais do que se fez. É preciso mobilizar vontades, com a Câmara a mediar e a reivindicar do poder central o que for da sua competência.

E nas freguesias, o que falta?

A reivindicação é de 5% do orçamento anual para elas. A Câmara anda à volta dos 3,5. Nós queremos ir mais além, aos 7,5. E discutir obras imprescindíveis no início de cada ano, para cada orçamento. Se chegássemos aos 10% para as freguesias, com tudo isto, era uma revolução na qualidade de vida das pessoas que lá moram. Foram esquecidas. Há investimento, por exemplo, no domínio da habitação? Temos muito fogos devolutos, mas a atuação foi sempre insuficiente. Há mecanismos para fazer face a isso.

Olhando para antes e depois destes últimos 12 anos, a Covilhã evoluiu, estagnou ou andou para trás?

Houve problemas que foram resolvidos. Mas a natureza das coisas é que quando se resolve uma coisa, surge outra necessidade. É isso que deve motivar os poderes públicos. No plano cultural, por exemplo, há um antes do Teatro Municipal, e um depois. É evidente. Aliás, a proposta do PSD para um novo centro cultural, depois do eclipse total que foram esses os seus mandatos, é o sol em todo o seu esplendor. Custa-me a acreditar, depois do que vi no passado.

Onde houve mais evoluções?

No plano do desporto, no associativismo. No plano orçamental também houve, tinha que haver. A Câmara conseguiu captar muitos fundos comunitários e fez o que tinha obrigação de fazer, ir às candidaturas. Mas por trás tem que haver uma estratégia, que não se vislumbra. Andámos a pintar ciclovias para quê? Não houve estratégia e resultou num flop.

Uma das principais batalhas tem sido a água e saneamento. A Covilhã está melhor agora?

Há uma evolução. Pelo menos os 51% passaram a valer mais que os 49. No mandato de Carlos Pinto era ao contrário. No saneamento iniciou o resgate, e na nossa perspetiva, bem. É o único caminho que pode permitir baixar os preços. Hoje pagamos o mais caro do País, o que é inaceitável. Na água já não estamos no topo da tabela a nível nacional, mas ainda somos dos mais caros do distrito. Connosco, o resgate mantém-se. Devia era ter sido mais cedo. Mantenho a opinião de que a ICOVI é para extinguir, porque é 100% municipal, mas vende a água à Águas da Covilhã e depois esta, a nós. Há um intermediário que não faz sentido, que é remunerado. Não faz qualquer sentido. A gestão e saneamento pode passar perfeitamente por um departamento municipal, como existe noutras câmaras.

O que será um bom resultado dia 12 de outubro?

Sem presunção, é reconhecido à CDU que quando os órgãos autárquicos têm os seus eleitos, contribuem sempre para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Com propostas, com denúncia, obrigam os outros a trabalhar mais. Esse crédito é-nos devido. Portanto, o melhor resultado para a população é que a CDU possa ser reforçada, para defesa do poder local. Que deve defender as populações e resolver os seus problemas. Vamos trabalhar para obter o melhor resultado.

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