Procurar
Close this search box.

O escritor que “saiu” da alfaiataria do pai

Escritor covilhanense Manuel da Silva Ramos tem no seu currículo cerca de três dezenas de obras. Atualmente prepara a sua autobiografia

“Sou avesso a homenagens, mas não sou reticente a que falem da minha obra”, disse Manuel da Silva Ramos durante a sessão de homenagem à sua vida e obra, organizada pela Associação Cultural CISMA e a Biblioteca da Universidade da Beira Interior (UBI).

“O escritor é um ermita, vive muito tempo sozinho e ver que há muita gente a falar da sua obra e eu ainda estar presente, é fantástico”, considerou o homenageado.

Durante a tarde de quarta-feira, 22, e sob o mote “Conversas Literárias com Amigos”, foram várias as intervenções que percorreram a obra e a vida do escritor covilhanense.

“Nasci num lugar privilegiado, a oficina de alfaiate do meu pai. Aos quatro anos já me maravilhava a ouvir as histórias que os clientes debulhavam”, recordava Manuel da Silva Ramos sobre a sua infância, durante a sua intervenção, já no final da homenagem.

O escritor contou que começou a ler “verdadeiramente” aos 11 anos com o livro “Uma Família Inglesa”, de Júlio Dinis e que a partir daí “decidiu ser escritor”. “Ler e escrever eram as minhas paixões juvenis”, afirmou. Com 21 anos venceu o Prémio de Novelística Almeida Garrett em 1968, com a obra “Os Três Seios de Novélia”.  “Estava lançado na literatura, mas o fascismo interrompeu a minha alegria”, tendo-se exilado em França, de 1970 a 1997. Manuel da Silva Ramos disse sentir-se “injustiçado” pelas obras que não pode lançar durante o seu exilio. “O Estado Novo obrigou-me a ir para o estrangeiro. Perdeu-se a minha primeira obra, foi completamente esquecida”, disse.

Com cerca de 30 obras lançadas, o autor sublinha que o “segredo de tanta produtividade” é a “vocação”, por “estar talhado para ser escritor, embora tenha nascido numa casa onde não havia livros”; a “disciplina” ensinada pelos franceses e que, revela, ainda hoje conseguir “escrever oito horas por dia” e os sacríficos. “Continuo a escrever, nunca deixarei de escrever, não pararei nunca. Se a minha mão direita parar, passarei para a esquerda. Escrever é a minha salvação”, frisa.

Na sessão de abertura da homenagem, João Ferreira, da CISMA, considerou “uma justa homenagem” ao autor covilhanense. O sentimento foi partilhado pelo diretor da Biblioteca da UBI, Luís Pires que sublinha ser “um evento importante não só para a Biblioteca, mas também para a UBI”. O responsável frisa o facto de ser uma homenagem em vida com o autor presente, dado que “habitualmente fazem-se tarde demais”.

A vereadora com o pelouro da Cultura da Câmara da Covilhã, Regina Gouveia, destacou que é uma homenagem ao autor que a autarca considera “sempre surpreendente”. “Embora centrando-se naquilo que é essencial, que no fundo tem que ver com o que é naturalmente aceite, partilhado, é irreverente, sempre”, vinca.

Anabela Dinis, pró-reitora da UBI, afirma que Manuel da Silva Ramos é “gente desta terra, mas é artista e autor do mundo”. A docente fez referência aos tempos em que o escritor esteve fora da Covilhã e ao seu regresso à cidade como “um filho pródigo que volta a casa”.

“Ao contrário do que diz o ditado popular, os santos da casa têm de fazer milagres e estamos aqui a celebrar o milagre da produção cultural, da escrita, da obra artística e a homenagear o autor e o seu percurso de vida”, afirma.

Atualmente, Manuel da Silva Ramos encontra-se a escrever uma autobiografia que se centra nos tempos de estudante de direito em Lisboa até ao seu exilio.

No sábado, 25, o autor apresentou a sua mais recente obra “A Mulher do Periquito e Outras Estórias”. Trata-se do seu quarto livro de contos, que contem 26 histórias.

VER MAIS

EDIÇÕES IMPRESSAS

PONTOS
DE DISTRIBUIÇÃO

Copyright © 2023 Notícias da Covilhã